O portal DRAFT continua a série que explica as principais palavras do vocabulário dos empreendedores da nova economia. São termos e expressões que você precisa saber: seja para conhecer as novas ferramentas que vão impulsionar seus negócios ou para te ajudar a falar a mesma língua de mentores e investidores. O verbete de hoje é mentor de startup…
O que acham que é
Pessoas necessariamente mais velhas que dão conselhos.
O que realmente é
De acordo com Rene Jose Rodrigues Fernandes, professor e gerente de projetos do Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios da Fundação Getúlio Vargas (FGV-CENN), mentores de startup são pessoas experientes em diversos campos que irão guiar o empreendedor em necessidades específicas, em muitas fases do processo de startup – da validação de mercado ao lançamento e à condução da empresa, passando pelo planejamento (business planning). Ele conta que, dentro do conceito de mentoria, há muitas variáveis. “Uma empresa pode ter mentores específicos para cada área ou etapa e a mentoria pode durar de uma hora a toda a vida da empresa. O mentor pode ser alguém que está fazendo um trabalho pro bono, ou seja, sem remuneração, pago por horas de trabalho ou por meio de um acordo com a empresa em troca de participação societária”, diz. Apesar de haver cursos de mentoria, Fernandes acredita que mentores sejam, essencialmente, pessoas mais experientes e com bagagem para ajudar. “Técnicas, conhecimentos ou mesmo as redes de relacionamentos de um mentor estão ligados, na maioria das vezes, com seu trabalho ou área de estudo, algo que dificilmente seria aprendido em um curso de mentoria”, diz. Mentoria não é aceleração, embora processos de aceleração — como os da Aceleratech, Yunus Negócios Sociais, Baita e Artemisia, entre outros — compreendam mentoria. Mas vão além e, em alguns casos, envolvem até acesso a capital.
Quem inventou
A palavra “mentor” tem origem na Odisseia, de Homero, escrita no século VIII a.C. Resumidamente, e de acordo com este texto do site da Emory University, universidade de pesquisas da Georgia, nos Estados Unidos, Ulisses, rei de Ítaca, luta na Guerra de Tróia e confia o cuidado de sua família a Mentor, que serve como professor do filho de Ulisses, Telêmaco. No contexto empresarial, a mentoria é algo presente desde sempre, segundo Fernandes, FGV-CENN. “É possível notar em textos que remontam ao período da descolonização das Américas e da África a vinda de mentores dos grandes centros comerciais para ajudar na condução dos negócios locais. Com a expansão do empreendedorismo, essa tarefa fica mais popular”, diz.
Quando foi inventado
Não existe uma data específica. Segundo Fernandes, as primeiras escolas de negócios começam a florescer apenas na segunda metade do século XX, após a Segunda Guerra Mundial. “Por mais de 300 anos, a maior parte do que se fez para conduzir empresas foi na base da tentativa e erro, sem muita técnica. Esse cenário não é diferente para muitos empreendedores hoje. Comumente nos deparamos com pessoas com o desejo de criar novos negócios e com visão de oportunidade, mas a elas, muitas vezes, faltam técnicas de administração e conhecimentos em áreas específicas, como área financeira, de marketing, de operações, jurídica etc. É aí que entram os mentores nos negócios”, fala.
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Para que serve
“Mentorias podem ter várias finalidades. Desde resolver um problema específico dos empreendedores em questões técnicas ou gerenciais até aconselhar na condução geral do negócio e mesmo da família”, diz o professor da FGV-CENN. Ele conta que a mentoria, às vezes, pode se assemelhar à consultoria (usada para resolver algum problema) e, até mesmo à terapia (quando ajuda uma empresa a descobrir seus problemas e entender como solucioná-los). “A mentoria pode assumir contornos bastante ambíguos”, diz.
Quem usa
Todo empreendedor, em algum momento, irá precisar de auxílio. E não apenas neófitos. “Às vezes, pensa-se que mentores são para empreendedores de primeira viagem ou pessoas menos experientes, mas isso não é verdade. Grandes empreendedores mantém seus mentores ao longo de toda a vida”, fala Fernandes. Em eventos de startups e empreendedorismo como Feiras de Empreendedorismo do Sebrae,Circuito Startup, Startup Farm, Meetup e, entre outros, é comum haver atividades de “mentoring”, onde o empreendedor pode encontrar o mentor certo para sua questão.
Efeitos colaterais
“Existem as pessoas que não entendem do assunto sobre o qual estão fazendo recomendações, seja por ingenuidade ou por má fé. Não são raras as oportunidades nas quais empreendedores firmaram acordo com pessoas que não estavam comprometidas com o negócio e estavam ali só em busca de remuneração e do prestígio que colocar o nome como mentor de várias startups traz”, diz Fernandes. Outros problemas recorrentes são pouca dedicação, manipulação da empresa para benefícios pessoais e falta de pulso para cobrar dos “mentorados”.
Quem é contra
Alguns investidores podem se opor ao uso de mentores. “Em muitas ocasiões, investidores desejam imprimir sua própria maneira de conduzir os negócios. Os fundos de investimento têm, para isso, a figura do gestor que acompanha as empresas e o mentor pode ser um empecilho neste processo”, conta Fernandes, da FGV-CENN.
Para saber mais
Leia, no site da Endeavor, o texto 4 dicas (e 2 segredos) sobre mentorias, escrito por Jane Miller, da Jane Knows, que tem mais de 30 anos de experiência executiva de gestão; assista ao TEDx The value of mentors in the startup ecosystem, de Hamish Hawthorn, CEO da ATP Innovations, hub de tecnologia que apoia a novos empreendimentos; e assista ao TEDx Mentors-The Entrepreneur’s Unfair Advantage, na London School of Economics (LSE), de Russell Buckley, conselheiro do governo britânico no suporte de investimento a startups, mentor de mais de 100 startups na TechStars e investidor anjo.
Este artigo foi originalmente publicado em DRAFT