Egberto Santana
Publicado em 11 de dezembro de 2025 às 10:12h.
O trabalho híbrido virou regra em muitas empresas brasileiras — especialmente em polos como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. E junto com ele veio um desafio silencioso: como construir relações profissionais fortes quando parte do time está no escritório e parte está remota?
No modelo presencial, o networking acontece quase “por osmose”: conversa no café, carona depois do expediente, almoço improvisado, aquele papo rápido antes da reunião. No híbrido, nada disso é garantido. Se você não for intencional, a tendência é se conectar só com quem já é próximo — e perder as “pontes” que geram oportunidades.
A própria Harvard Business Impact destaca que o híbrido pressiona o capital social das equipes e deixa as redes mais “paradas e em silos” se líderes e profissionais não agirem de forma consciente.
A seguir, você vai entender por que o networking fica mais difícil no híbrido e, principalmente, como fazer isso na prática — dentro e fora do escritório — sem parecer forçado.
No híbrido, o contato casual diminui e a comunicação tende a virar “tarefa”. Isso cria três efeitos comuns:
Menos laços fracos (weak ties)
Laços fracos são aquelas conexões com gente de outras áreas, níveis ou projetos. Elas são essenciais para descobrir oportunidades, aprender coisas novas e ganhar visibilidade.
Risco de “invisibilidade” de quem está remoto
Quem aparece menos no escritório pode ser menos lembrado para projetos, mentorias e promoções — mesmo entregando bem.
O artigo da Harvard Business Impact lista quatro imperativos para liderar times híbridos; três deles têm impacto direto no seu networking:
Líderes precisam discutir de forma transparente “quando, por quê e para quê” o time vai ao escritório — focando tarefas que pedem colaboração e conexão.
Para você, isso vira regra prática:
use os dias presenciais para construir relações, não só para “sentar e trabalhar igual em casa”.
O texto ressalta que canal de comunicação muda percepção de autenticidade e proximidade.
Tradução prática:
assunto emocional ou delicado, opte por usar víde ou voz para comunicação;
alinhamento rápido, vá no chat;
atualização formal, se comunique por e-mail
Networking também é saber como falar com cada pessoa.
Muitas pesquisas também reforçam para a necessidade de reconstruir redes e incentivar conexão entre áreas, evitando silos.
Essa é a essência do networking: ser ponte e gerar troca.
Leia mais: Por que empresas estão acabando com o trabalho híbrido?
Abaixo, reúnimos dicas para construção de networking em diversos momentos, para quem não tem contatos, na faculdade e no início da carreira — adaptados ao contexto híbrido.
Networking não é “conhecer todo mundo”. É criar conexões úteis e reais. Exemplos de objetivos:
“vou conversar com alguém de outra área”
“vou pedir feedback para uma pessoa mais sênior”
“vou ajudar alguém com um tema que domino”
Nos dias de escritório:
almoce com alguém novo (ou de outra área)
apareça 10 minutos antes das reuniões para conversar
puxe papo de corredor sem culpa
O networking começa com iniciativa, não com “ocasião perfeita”.
Comece, por exemplo, com uma mensagem simples:
“Oi, gostaria de te conhecer melhor e entender o que você faz na área X. Topa um papo rápido essa semana?”
Se sua empresa usa Slack, Teams ou Workplace:
participe de canais de interesse comum
compartilhe insights rápidos
reconheça entregas de outras pessoas
Isso constrói reputação sem precisar estar 5 dias no escritório.
Networking não é pedir favor do nada. É troca contínua.
No híbrido, a troca pode ser:
indicar um artigo
explicar uma ferramenta
conectar duas pessoas
revisar uma entrega
Especialmente para quem fica mais remoto:
envie updates curtos para o time
registre aprendizados
compartilhe resultados em reuniões
Os líderes podem perder noção do esforço de quem está remoto; por isso, tornar seu trabalho visível é autoproteção profissional.
Para um networking mais eficiente, é preciso sempre ampliar o seu círculo.
No híbrido, isso significa:
marcar conversa com alguém que você só vê no Zoom
participar de projetos interáreas
trocar ideia com gente de outras unidades/cidades
É aí que nascem oportunidades inesperadas.
Antes de uma reunião ampla:
pergunte a alguém sobre um ponto específico
busque contexto com um colega
Depois da reunião:
mande mensagem para quem trouxe algo interessante
agradeça e puxe um gancho
Laço fraco não precisa virar amizade íntima. Uma estratégia boa:
reagir a uma conquista
comentar um post interno
mandar “vi isso e lembrei de você”
Mantém a rede viva sem exigir tempo enorme.
Seja no começo da carreira ou em transição, o Na Prática reforça: rede se constrói aos poucos.
No híbrido isso é ainda mais verdadeiro.
O ideal é:
1 contato novo por semana
1 follow-up por semana
1 ajuda oferecida por semana
Parece simples porque é simples — e funciona.
Alguns erros ficam mais caros à distância:
só falar com quem te interessa direto
Networking bom nasce de curiosidade genuína.
sumir quando está remoto
Se não dá para aparecer fisicamente, apareça digitalmente.
fazer contato só quando precisa
Isso passa sensação de oportunismo. Networking é manutenção.
Networking no trabalho híbrido não acontece por acaso. Ele acontece com intenção, consistência e troca.
Quando você usa o presencial para criar proximidade, o remoto para manter presença, e as ferramentas como ponte (não como barreira), sua rede cresce mesmo com distância física.
E, no fim, é essa rede que:
amplia seu repertório;
aumenta visibilidade;
te conecta a projetos e oportunidades que não aparecem em vaga aberta.
No híbrido, quem constrói pontes cresce mais rápido.
Leia também: “Ser prestativo sem esperar nada em troca é o verdadeiro networking”, diz Isabela Matte, Forbes Under 30
1. Dá para fazer networking trabalhando remoto ou híbrido?
Sim. Mas exige mais intencionalidade: marcar conversas, participar de canais digitais e manter contato com pessoas fora do seu círculo.
2. Qual a melhor forma de fazer networking nos dias de escritório?
Use o presencial para conexão humana: almoços, conversas rápidas antes/depois de reuniões e contato com outras áreas.
3. Como falar com alguém que eu quase não conheço no trabalho?
Convide para um papo curto: explique que quer entender a área dela e aprender. Networking começa com curiosidade, não com pedido.
4. Networking precisa ser só com líderes e pessoas sêniores?
Não. Laços horizontais e “fracos” (pessoas de outras áreas e níveis) são os que mais abrem portas no longo prazo.
5. Como não parecer interesseiro ao fazer networking?
Ofereça valor antes de pedir algo: compartilhe informação útil, ajude em pequenas demandas e mantenha o contato vivo.