A forma como lideramos e nos relacionamos no trabalho está mudando mais rápido que nunca. Em um mundo de transformações constantes, onde a tecnologia acelera processos e as gerações mais novas chegam ao mercado com expectativas diferentes, modelos tradicionais de gestão têm sido desafiados. Nesse cenário, a liderança horizontal ganha cada vez mais espaço, colocando a colaboração e a autonomia no centro das decisões.
Mais do que uma estrutura organizacional, a liderança horizontal é uma mudança de mentalidade. Ela propõe que o papel de líder não esteja restrito a um único indivíduo no topo da hierarquia, mas seja distribuído entre as pessoas que compõem a equipe. O resultado é um ambiente mais participativo, dinâmico e propício à inovação, algo que atrai especialmente jovens profissionais em busca de propósito e voz ativa no trabalho.
O que é liderança horizontal?
A liderança horizontal é um modelo de gestão que reduz ou até elimina a hierarquia formal. Nesse formato, as decisões não descem de um “chefe” para subordinados, mas são construídas coletivamente. A autoridade não se baseia apenas no cargo, e sim no conhecimento, na capacidade de inspirar e na contribuição de cada pessoa. A ideia é que todos sejam corresponsáveis pelo sucesso do projeto ou da organização, o que exige alto grau de confiança mútua.
De acordo com especialistas, esse tipo de liderança se conecta a um mundo mais interconectado e colaborativo, onde as fronteiras entre funções se tornam mais flexíveis. Para muitas empresas, a adoção desse modelo não é apenas uma escolha cultural, mas também uma resposta às demandas de um mercado que exige rapidez e inovação constante.
De acordo com uma pesquisa da consultoria McKinsey, quando executivos gerenciam seus pares e seus líderes, invertendo a ordem mais normativa da hierarquia, essas ações foram consideradas 50% mais importantes para o sucesso do negócio que ações de liderança tidas como tradicionais, de baixo para cima.
Por que jovens profissionais estão seguindo esse modelo?
Os jovens que entram no mercado hoje cresceram em ambientes digitais, participando de comunidades online e trocando ideias sem depender de uma estrutura hierárquica rígida. Esse histórico molda sua forma de encarar o trabalho: eles valorizam autonomia, querem ter espaço para contribuir com ideias e preferem líderes que inspiram, não chefes que apenas dão ordens.
A liderança horizontal cria um contexto mais atraente para essa geração, que busca propósito e resultados tangíveis. Pesquisas recentes demonstram que a maioria dos profissionais da Geração Z prefere se especializar no cargo que liderar um time. Uma pesquisa da consultoria espanhola Robert Walters que ouviu 3,6 mil entrevistados mostrou que “72% da geração mais jovem de trabalhadores diz que preferiria progredir em um cargo como funcionário, em vez de se tornar um gerente intermediário”.
Por outro lado, ao sentirem que sua voz é ouvida e que têm liberdade para propor soluções, esses jovens profissionais se tornam mais engajados e dispostos a inovar. Além disso, a retirada de barreiras burocráticas faz com que as mudanças aconteçam mais rápido, algo que combina com o ritmo acelerado que eles conhecem bem.
Como a liderança horizontal pode melhorar uma organização?
A adoção da liderança horizontal transforma a dinâmica interna das empresas. Ao reduzir a hierarquia, as decisões tendem a ser tomadas com mais rapidez, já que não precisam percorrer diversas camadas de aprovação. Isso também amplia o senso de pertencimento, pois cada integrante se sente parte ativa do processo e responsável pelos resultados.
Na prática, organizações que trabalham dessa forma criam um ambiente mais propício à inovação. Quando qualquer colaborador pode propor soluções e liderar iniciativas, surgem ideias que talvez nunca fossem ouvidas em um modelo tradicional. Essa abertura gera times mais motivados, aumenta a retenção de talentos e fortalece a capacidade da empresa de se adaptar a mudanças de mercado.
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Exemplos de empresas que já estão adotando essa tendência
Embora possa parecer um conceito recente, a liderança horizontal já é aplicada há anos com em diferentes setores. A desenvolvedora de games Valve Corporation, por exemplo, é conhecida por sua estrutura sem chefes formais, em que as equipes se auto-organizam para decidir quais projetos desenvolver.
Empresas como o Spotify também adaptaram a ideia ao seu contexto. Embora mantenham afunções de liderança, estruturam seus times em “squads” com alto nível de autonomia. Essa configuração permite que cada equipe defina seus processos, tome decisões rápidas e se mova com agilidade para responder a novas demandas. Esses exemplos reforçam que o modelo pode ser adaptado a diferentes culturas organizacionais e tamanhos de empresa.
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O futuro da liderança horizontal: o que esperar nos próximos anos
A tendência é que a liderança horizontal se fortaleça, acompanhando a evolução do trabalho remoto e híbrido, que exige mais autonomia e confiança entre as equipes. Ferramentas digitais de colaboração e inteligência artificial devem facilitar ainda mais essa transição, diminuindo a necessidade de controle rígido e microgerenciamento.
Nos próximos anos, podemos esperar organizações com papéis de liderança mais fluidos, ocupados conforme as necessidades de cada projeto.
A cultura de aprendizado contínuo e feedbacks frequentes, menos formais e mais imediatos, também deve ganhar força. Segundo especialistas, empresas que dominarem esse modelo vão garantir vantagem competitiva, conseguindo inovar mais rápido, engajar talentos mais jovens e se adaptar melhor a um mercado em transformação acelerada.