
Redação Na Prática
Publicado em 28 de novembro de 2025 às 17:00h.
Saber discordar do chefe parece polêmico à primeira vista, mas serve — e como! — como degrau para crescer na carreira, fortalecer relações de trabalho e contribuir para decisões mais estratégicas. Apesar disso, muitos evitam expor opiniões divergentes por receio de parecer arrogantes, negativos ou desrespeitosos.
No entanto, especialistas em comunicação afirmam que discordar faz parte de um ambiente saudável e pode evitar erros caros. No podcast da Harvard Business Review, Amy Gallo — especialista em conflitos no ambiente de trabalho — lembra que tendemos a supervalorizar o risco de falar e ignorar o risco de ficar calados. Ela destaca que a maior parte das pessoas imagina consequências graves, quando, na realidade, expressar um ponto de vista diferente raramente provoca problemas sérios, desde que seja feito com habilidade.
A seguir, veja como discordar do seu chefe com respeito, segurança e sem soar arrogante.
A hesitação em confrontar uma figura de autoridade é natural. Como explica Amy Gallo no podcast, muitas pessoas evitam conversas difíceis porque temem rejeição emocional ou algum tipo de prejuízo profissional. Porém, ela lembra que essa percepção costuma ser exagerada e que, se a discordância for apresentada com clareza e respeito, dificilmente resultará em punição.
Além disso, Gallo reforça uma ideia fundamental: antes de pensar nos riscos de falar, pense nos riscos de não falar. Silenciar pode comprometer a qualidade das decisões, prejudicar o desempenho da equipe, gerar retrabalho e até desgastar você emocionalmente ao longo do tempo. Afinal, quem nunca se arrependeu de não ter alertado sobre um prazo impossível ou uma estratégia claramente falha?
Saber quando discordar é tão importante quanto como discordar. Muitas vezes vale esperar um pouco antes de trazer o ponto de vista divergente. Esse tempo permite pesquisar dados, entender melhor o contexto e construir um argumento mais sólido. Também abre espaço para ouvir colegas, identificar quem compartilha da mesma preocupação e fortalecer sua análise.
Outro ponto importante é escolher o local adequado. A recomendação é evitar discordar do chefe de forma pública ou impulsiva, como durante uma reunião cheia de pessoas. Conversas privadas tendem a diminuir a defensividade e permitem uma troca mais honesta.
A forma como você apresenta a discordância faz toda a diferença. Veja orientações práticas para garantir que sua postura seja respeitosa e estratégica.
Antes de expor sua discordância, reafirme a ideia do chefe com suas próprias palavras. Isso demonstra atenção e reduz a chance de a conversa se desviar para mal-entendidos. Além disso, mostra que você está discordando do conceito — não da pessoa.
Exemplo:
“Pelo que entendi, a proposta é lançar o produto no próximo mês…”
Uma das orientações mais valiosas é pedir autorização para expor sua análise antes de iniciar a discordância. Essa abordagem diminui a defensividade e coloca o líder em posição de escolha, o que aumenta a abertura para ouvir.
Exemplo:
“Posso compartilhar uma forma alternativa de ver esse cenário?”
É uma frase simples, educada e extremamente eficaz.
A discordância nunca deve parecer pessoal. Uma das recomendações mais fortes do episódio é vincular seu ponto a metas compartilhadas — como resultados financeiros, redução de riscos, qualidade da entrega ou bem-estar da equipe.
Exemplo:
“Acredito que uma abordagem diferente pode nos ajudar a cumprir o prazo sem comprometer a qualidade.”
Assim, a conversa deixa de ser sobre quem está certo e passa a ser sobre como alcançar o melhor resultado possível.
Para evitar soar arrogante, mantenha a fala objetiva. Em vez de usar adjetivos carregados, apresente dados, cenários e consequências. No podcast, Amy Gallo cita o exemplo de trocar um julgamento como “é precipitado” por uma observação factual, como “os preços estão caindo e esperar um pouco pode gerar economia”.
Esse tipo de abordagem mostra profissionalismo, reduz tensão e mantém a conversa centrada no problema — não nas emoções.
Além do conteúdo, seu tom define como sua discordância será recebida. Algumas estratégias ajudam a transmitir segurança sem arrogância:
Respire fundo, fale devagar e demonstre tranquilidade. Linguagem corporal nervosa ou apressada pode enfraquecer a mensagem e passar insegurança.
Reconheça que sua visão é apenas uma interpretação. No podcast, Gallo explica que frases como “posso estar errado” ou “me ajude a entender se estou deixando algo passar” criam um clima mais colaborativo.
Essas estratégias, além de ineficazes, passam uma impressão de superioridade.
Equilíbrio é essencial. Uma boa forma de fazer isso é algo como:
“No fim, a decisão é sua, mas queria compartilhar essa análise para ajudar no que for possível.”
Essa postura mostra respeito sem submissão.
Uma dica pouco conhecida, mas muito útil: sempre que possível, converse com o chefe em um momento neutro — não durante um conflito — e pergunte como ele prefere receber opiniões divergentes. Algo simples como:
“Quando eu tiver uma leitura diferente da sua, qual é a melhor forma de eu trazer isso?”
Esse alinhamento prévio facilita futuras conversas e evita mal-entendidos.
Avalie riscos de falar e de ficar em silêncio.
Escolha um momento e um local apropriados.
Mostre que entendeu a proposta inicial.
Peça permissão antes de apresentar seu ponto.
Conecte sua discordância a objetivos compartilhados.
Use fatos em vez de julgamentos.
Mantenha tom calmo, humilde e colaborativo.
Reforce que respeita a decisão final do líder.
Estabeleça um acordo prévio sobre como discordar.
Discordar do chefe não precisa ser motivo de medo — e certamente não precisa soar arrogante. Com preparo, estratégia e respeito, é possível contribuir com ideias diferentes, fortalecer relações e melhorar decisões importantes. Como reforça Amy Gallo no podcast, discordar não é um confronto, mas uma troca estratégica de ideias que pode beneficiar toda a equipe.