Em um cenário dominado por conteúdos curtos, feeds infinitos e notificações constantes, terminar um livro parece um desafio cada vez maior. Ainda assim, especialistas defendem que é possível recuperar o hábito da leitura mais longa, e existem estratégias simples que podem acelerar esse processo.
“O excesso de estímulos de consumo imediato faz com que a postura reflexiva, a respiração que a literatura pede para sua absorção, seja atacada”, Marco Medeiros, professor de Literatura Brasileira e influencer literário no Instagram @pegaumlivroevai. Para ele, o risco é não só o de perdermos de vez o prazer da leitura, mas também nos desconectarmos de nós mesmos. “A literatura é uma ferramenta para aquela que Drummond chamou de ‘dificílima, dangerosíssima viagem de si a si mesmo’. A literatura pode ser o barco que nos permite navegar os oceanos internos.”
Como ler mais?
Segundo o autor de Hábitos Atômicos, James Clear, criar o hábito de leitura começa com metas realistas e consistência. Em vez de prometer duas horas por dia, que dificilmente vão ser cumpridas, vale mais comprometer-se com 10 minutos diários — e manter esse ritmo. A abordagem realista também é a recomendação de Marco. “É muito melhor ler 10 minutos por dia que prometer ler duas horas e não ler nunca”.
A leitura diária, ainda que breve, cria uma espécie de “musculatura mental” que ajuda o leitor a enfrentar textos mais densos com mais conforto. Além disso, é importante começar por temas que dialoguem com os interesses pessoais. “Escolha um livro que se relacione de alguma forma com suas paixões: há literatura falando de tudo!”, reforça o professor. Isso também ajuda a criar conexões emocionais com a leitura e evitar o abandono precoce de livros.
Outra dica é transformar o ambiente de leitura em um espaço de prazer, e não de obrigação. Criar um cantinho acolhedor, usar marcadores, anotar pensamentos e se permitir pausar leituras difíceis são formas de manter a prática viva. E, se possível, compartilhar o hábito com amigos ou em clubes de leitura, o que aumenta o engajamento e a troca de experiências.
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Por quais livros começar?
Para quem quer começar ou retomar o hábito ainda esse ano, escolher bem o primeiro livro pode ser decisivo. Henrique Rodrigues, escritor, e diretor do Instituto Caminhos da Palavra, defende que os jovens devem buscar leituras que falem de suas realidades, antes de ampliar repertórios. É possível ler “A Metamorfose” de Kafka e tirar entendimento sobre ser jovem hoje, ou “O Senhor dos Anéis” para uma viagem e aventura é uma boa, assim como a obra do nosso Monteiro Lobato. Ler quadrinhos da Turma da Mônica é uma leitura e tanto para crianças e jovens. Dependendo da idade, a leitura de Clarice Lispector diz muito”, indica o escritor.
Henrique também reforça a procura por autores do mesmo território do leitor: “O que escritores da minha cidade, do meu bairro, estão escrevendo?”
Seja com ficção ou não ficção, poesia ou romance, o segredo está em encarar as histórias como uma conversa consigo mesmo, que podem ajudar você a se conhecer melhor, e a conhecer mais profundamente o comportamento humano. Afinal, como lembra Marco, “ler é uma forma de humanizar o homem”. E ainda dá tempo de fazer isso até o fim do ano.
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