Em 2014, o economista argentino Jonathan Berezovsky se mudou para o Brasil. Ele veio de Tel Aviv, onde morava desde 2009, animado pela cena empreendedora local (berço de várias empreitadas de sucesso, como o Waze), e onde tinha fundado sua própria startup, a Townflix, um app que funciona como uma rede social de vídeos.
A ideia deu certo e Jonathan decidiu trazê-la ao Brasil. Quando fez as malas, trouxe consigo algo além do aplicativo: suas experiências empoderando refugiados em Israel através de trabalhos com microcrédito.
Ao desembarcar num país que via crescer sua parcela de refugiados e imigrantes – segundo o Ministério da Justiça, o Brasil tem hoje quase 9 mil refugiados de 79 países –, a ideia de fazer algo para ajudá-los a se integrar na sociedade começou a fermentar.
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“Acabei encontrando obstáculos jurídicos para trabalhar com microcrédito e então pensei em encontrar outra maneira de fazer isso”, lembra. O resultado é o Migraflix, ONG fundada em setembro de 2015 com o objetivo de empoderar refugiados e imigrantes através da divulgação de suas próprias culturas.
O Migraflix
Ao colocar refugiados e imigrantes na posição de professores – de gastronomia, caligrafia, dança – disponibilizando seus cursos e workshops online, eles se sentem valorizados e se conectam a alunos que se importam com seu trabalho e história, não apenas com seu status.
É um ciclo virtuoso: os alunos também ganham novas perspectivas, que reverberam socialmente. “Em qualquer sociedade, ainda há grupos que têm preconceitos, principalmente por ignorância”, diz Jonathan, hoje focado na iniciativa em tempo integral. “Nosso trabalho é importante para que as pessoas se conheçam e quebrem essas barreiras.”
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Na prática, isso se traduz em atividades culturais, como workshops, feiras, serviços de catering e palestras, e em capacitação técnica e treinamentos diversos.
Ao longo de um ano e meio, o número de voluntários chegou a vinte pessoas, que trabalham com cerca de setenta refugiados e imigrantes de 23 países em quatro capitais brasileiras (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Brasília). O modelo, inclusive, já foi validado financeira e socialmente.
Um dos principais exemplos é a campanha Meu Amigo Refugiado, em que o Migraflix fez uma chamada para quinze famílias acolherem um refugiado durante o almoço de Natal de 2016. No fim, mais de duas mil famílias se cadastraram.
“A recepção do projeto por parte de empresas e instituições e, principalmente, pela sociedade brasileira tem sido realmente incrível”, empolga-se Jonathan.
Questão de família
“Minha avó foi refugiada na Segunda Guerra Mundial, quando fugiu da Polônia, e na época não existia o Estatuto do Refugiado da ONU, que foi criado em 1951”, conta. “Ela estava na mesma situação em que muitos estão hoje em dia.”
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É o caso da história que se repete, opina. Enquanto alguns governos abrem suas portas (o Brasil, por exemplo, se comprometeu a receber 3 mil sírios de campos de refugiados ainda em 2017), outros se fecham empregando rótulos generalistas. Substitua “comunistas” por “terroristas”, “judeus” ou “ilegais”, por exemplo, e o raciocínio fica claro.
“O mais importante para a integração dessas pessoas é conhecê-las”, resume. “São pessoas incríveis que estão chegando, do mundo inteiro, para tornar a sociedade mais cosmopolita e rica em todos os sentidos. É preciso aproveitar isso.”
Equipe do Migraflix [reprodução]
Uma startup enxuta no terceiro setor
Esta é a primeira iniciativa de Jonathan, um empreendedor serial, no terceiro setor, mas ele não viu motivo para aplicar ferramentas diferentes no processo. Foi empregando conceitos como lean startup, ou startup enxuta, que sua equipe criou a estrutura atual, ainda em constante mutação.
“Vimos o que já existia no mercado, escolhemos um modelo de workshop como benchmark e fomos criando coisas parecidas”, lembra. “Não ficamos seis meses desenhando algo para depois vendê-lo: criamos, vendemos, improvisamos muito e melhoramos as coisas para o próximo.” E assim, na melhor lógica enxuta, o Migraflix foi tomando forma e se adaptando com velocidade.
Hoje, tem um modelo de negócios baseado em parcerias com organizações brasileiras (que emprestam seus espaços para os eventos) e eventos pagos. Oitenta por cento do valor é encaminhado para os professores, enquanto o restante cobre os custos da plataforma.
Com planos de se tornar um negócio social num futuro próximo, a ONG atualmente se prepara para captar investimentos, abrir um espaço para doações de pessoas físicas e ampliar suas áreas de atuação.
“O legado que queremos deixar é ter refugiados e imigrantes autossuficientes economica e socialmente no Brasil, recomeçando suas vidas e crescendo com os direitos e deveres de qualquer brasileiro”, resume Jonathan. “Sonho que meu trabalho contribua para que essas pessoas realmente consigam recomeçar suas vidas.”
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