Muitos festivais de música e shows individuais de artistas possuem estruturas ultra complexas e que exigem dias de montagem, uma equipe grande e muita atenção aos detalhes para que tudo ocorra da forma que deve e nenhum acidente aconteça.
Nesse desafio de evitar ao máximo que incidentes ocorram, lembramos de uma história super curiosa da banda de rock americana que fez muito sucesso nos anos 80 – Van Halen e a polêmica dos M&Ms marrons nos bastidores.
Van Halen e o desafio operacional nos bastidores
Van Halen foi uma banda de Rock que fez muito sucesso nos anos 80. Fizeram mais de cem shows só em 1984. Foi uma das primeiras bandas de rock a trazer grandes produções de palco em cidades menores e, por trás do apelo da banda, havia um grande desafio de excelência operacional. Eles usavam nove caminhões de dezoito rodas cheios de equipamentos, quando o padrão na época eram três caminhões, no máximo.
O design de produção da banda era surpreendentemente complexo. O contrato especificando a configuração era, segundo o vocalista David Lee Roth, “como uma versão das Páginas Amarelas chinesas” porque era tão técnico e complexo que era como ler uma língua estrangeira.
Um artigo típico no contrato era: “Haverá quinze tomadas de energia, em um espaço de seis metros, espaçadas uniformemente, fornecendo dezenove amperes cada uma…” Eram em grande parte exigências que, caso não fosse cumpridas, poderiam impactar a experiência do show, causar uma interrupção e até um acidente.
Embora Van Halen tivesse sua própria equipe de turnê, grande parte do trabalho de preparação tinha que ser feito antecipadamente pela equipe de um fornecedor local contratado, antes que os caminhões chegassem.
Van Halen e sua equipe viviam com medo de que algo desse errado ou criasse um risco para a banda. Dada a agenda frenética de turnês da banda, não havia tempo para fazer uma verificação de qualidade em todos os itens, em cada local. Para piorar a situação, eles já haviam tido alguns “quase incidentes” graves por falhas dos fornecedores.
A “cláusula M&M” – solução ou capricho de diva?
Nos contratos, além de todas os detalhes técnicos, havia também algumas cláusulas que pareciam caprichos de diva, como a que exigia um pote de M&Ms nos bastidores com todos os marrons removidos.
Há histórias do David Lee Roth andando nos bastidores, vendo um único M&M marrom e surtando, destruindo o camarim. Não era boato. A tigela de M&Ms sem marrom tornou-se o símbolo perfeito e terrível do comportamento de uma diva de estrela do rock. Parecia mais uma banda fazendo exigências absurdas simplesmente porque podia. Prepare-se para reverter sua percepção.
A “cláusula M&M” da banda foi incluída no contrato para servir a um propósito muito específico. Chamava-se Artigo 126 e dizia o seguinte: “não haverá M&M’s marrons nos bastidores, sob pena de cancelamento do contrato, com compensação total”. O artigo foi enterrado no meio de inúmeras especificações técnicas.
Quando David chegava a um novo local, ele imediatamente andava nos bastidores e olhava para a tigela de M&M. Se ele visse um M&M marrom, ele exigiria uma verificação de toda a linha de produção. “É garantido que você vai encontrar um erro técnico”, disse ele. “Eles não leram o contrato em detalhe… o show estava ameaçado.”
Em outras palavras, David Lee Roth não era uma diva; ele era um mestre em excelência operacional. Ele precisava de uma maneira de avaliar rapidamente se os fornecedores de cada local estavam prestando atenção – se eles leram cada palavra do contrato e o levaram a sério. Ele precisava de uma maneira de sair do “piloto automático mental” e perceber que uma decisão ou ação devia ser tomada. No mundo do Van Halen, um M&M marrom era um gatilho decisório.
Um gatilho decisório é uma decisão que você toma agora, mas que você vai executar no futuro se um determinado evento futuro ocorrer. Van Halen tomou a decisão agora de que verificaria toda a linha de produção SE encontrasse um M&M marrom ao chegar nos bastidores.
Resumo e principais aprendizados
Gatilhos decisórios são especialmente úteis para evitar o viés do status quo, pois tendemos a nos acostumar e não percebemos mudanças graduais na nossa realidade.
Nas organizações, empresas perdem mercado, equipes desengajam, executivos se recusam a reconhecer que seu projeto de estimação falhou, produtos definham e lideranças não tomam ações enérgicas até que seja tarde demais.
É difícil mudar de rumo, porque uma infraestrutura é construída em torno de decisões passadas. Uma decisão de lançar um novo produto em uma grande empresa, por exemplo, leva a criação de um orçamento, uma equipe e um conjunto de processos para entregar esse novo produto. Todos esses elementos funcionam para impedir uma mudança de direção – e logo a virtude da persistência se transforma no vício de negar a realidade.
Esse viés está presente em decisões importantes como:
- Devemos parar e dar meia volta agora, a poucos metros do cume do Everest, depois de anos de preparação, por conta dessa mudança repentina no tempo?
- Devemos vender toda nossa posição de uma determinada ação com 50% de prejuízo agora para não perder tudo ou ficar e esperar que a perda se reverta?
- Devemos mudar nossa política de crédito agora por conta do resultado de perdas para devedores do último mês?
A melhor decisão precisa ser avaliada caso a caso. O importante é que uma decisão consciente seja tomada, em vez de deixar a inércia tomar conta. Precisamos de uma ferramenta para nos acordar no momento certo e nos deixar cientes de que é hora de tomar uma decisão: bons gatilhos decisórios.
Que gatilhos decisórios você pode utilizar na sua vida profissional e pessoal? Conte aqui nos comentários!
Este artigo foi publicado originalmente no blog da Ventus no Substack