Com um forte background no setor financeiro, Thiago Maffra hoje ocupa o cargo de diretor executivo de tecnologia da XP Investimentos. Contudo, por anos ele se dedicou exclusivamente à área de trading, até decidir que era hora de mudar de carreira. Durante o evento virtual Conexão da Fundação Estudar, o executivo contou como foi o processo de transição do mercado financeiro para o segmento de tecnologia e o que é preciso levar em conta enquanto se está mudando de carreira.
Mudando de carreira: a escolha
Thiago começou a carreira no mercado financeiro pelo caminho mais tradicional. Depois de se formar na faculdade, ele atuou durante 8 anos como trader (profissional que ganha dinheiro com operações financeiras) em fundos de investimento livre e family office. “Eu era extremamente especialista e em algum momento senti que não tinha mais propósito trabalhar com aquilo. Era meio solitário e eu não via mais sentido. Então, decidi fazer a transição de carreira para algo mais voltado a gestão. Bati na porta de várias empresas e eles pensavam que eu estava maluco porque não entendia do assunto. No começo, nada deu certo”, revela.
Porém, determinado com a mudança, Thiago resolveu achar outro caminho para fazer a transição. “Decidi que precisava encontrar uma empresa financeira que trabalhasse com outros escopos. Poderia entrar dentro do que eu sei e mudar posteriormente. Foi o que eu fiz. Entrei na XP na área de renda variável e em alguns meses já estava fazendo outras coisas. Isso foi possível porque eu vim com um mindset de gestão do negócio. Fui construindo esse caminho e desenvolvi diversas linhas de negócio, fora de tranding”, aponta.
O executivo ressalta que, quando se está mudando de carreira, é preciso ter em mente que não a transição não acontece de uma vez. “Sai de uma carreira de trader super especializado e fui para o cargo de general manager. Fui construindo os tijolinhos, um por um. Não foi de uma vez, e nem é tão simples assim. Vejo muita gente com 10 ou 15 anos de experiência em um mercado que querem fazer transição de carreira. Alguns mercados são mais fáceis, outros difíceis, mas tem jeito. Sempre existem caminhos, depende da carreira que você quer”, avalia.
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A segunda transição
Ir da área financeira para uma posição de gestão foi a primeira mudança de carreira de Thiago, e a mais difícil segundo ele. Mas ele também viria a assumir a direção de tecnologia da companhia. “Parece sem pé, nem cabeça alguém de renda variável virar diretor de tecnologia. Para mim, também não fez sentido quando me convidaram. Mas quando comecei a entender a ideia e o que era para ser feito, que estava relacionado à uma transformação maior na empresa, vi que o que eles precisavam eu sabia fazer. Nunca tinha feito nada na escala do desafio, mas já tinha construído áreas e linhas de negócio. Então, decidi aceitar”, relembra.
Mas ele ressalta que a decisão de ir mudando de carreira foi mais pautada pelas soft skills, ou competências socioemocionais, que ele tinha desenvolvido dentro da companhia do que as habilidades técnicas propriamente. “Eu tinha habilidades de liderança, sabia montar times, fazer projetos de longo prazo, vender propósito e engajar times. Isso foi mais importante. As pessoas acham que o diretor de tecnologia é o cara que sabe programar e escrever o melhor código do mundo. Mas a tecnologia é um meio para atingir um objetivo de negócio, e com isso eu conseguia trabalhar”, garante.
Atuando fora da área de formação
Mudar de carreira não é uma tarefa fácil, ainda mais quando se pretende transicionar para um mercado fora da área de atuação. Mas o diretor de tecnologia garante que existem oportunidades para aproveitar o conhecimento. “Mesmo em carreiras que são muito especializadas, existem várias vertentes. Quando você pensa de forma mais ampla, consegue utilizar o que você aprendeu na faculdade e utilizar insights que, a princípio, podem parecer não ter relação. As competências técnicas podem não ser aplicadas, mas a capacidade de raciocínio e questionamento pode te dar uma visão do todo e ajudar a navegar bem enquanto se está mudando de carreira”, analisa.
Já em termos de soft skills, Thiago observa que são habilidades aprendidas ao longo da carreira. “A maioria das pessoas começando a carreira acham que é importante escolher a empresa certa. Mas a verdade é que tanto faz o negócio. Você tem que achar um lugar com o qual você tenha um fit cultural de valores. Para mim, o fator de sucesso da XP é o fit cultural. Isso é muito importante no início de carreira quando você ainda vai se consolidar como profissional, mas também mais para frente e igualmente quando se está mudando de carreira”, pondera.
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O executivo aponta que a vida profissional de qualquer pessoa corre em zigue-zague. “Sempre achamos que o problema ou o momento que vivemos é o último, mas tudo tem um jeito e um caminho. Você vai errar, entrar em uma empresa e ver que não é o que você quer, por exemplo. Dá trabalho. Você não precisa acertar no primeiro emprego, mas pense com carinho e busque o lugar onde mais você pode aprender, mais do que ganhar dinheiro”, aconselha.
Thiago também acredita ser importante se animar com o trabalho e com as pessoas envolvidas nele. “Mesmo quando você faz algo que gosta, tem muito desafio e é difícil. Nesses momentos, o importante é ter propósito. Não importa se o dia foi bom ou ruim, você sabe onde quer chegar e isso torna o trabalho mais fácil. Na XP, todo mundo trabalha muito mas acorda feliz porque acredita na ideia do negócio. Ter alegria para trabalhar, gostar do que faz e ter propósito é fundamental. Vai no que te brilha o olho porque a chance de você ser bem-sucedido é maior”, finaliza.