Em tempos em que empresas referência (como Google!) afirmam não levar em conta diploma nas seleções, e em que tantas outras abrem processos seletivos que aceitam qualquer formação, é seguro dizer que a graduação não é o aspecto mais decisivo dos currículos, atualmente.
Mesmo assim, é comum sentir-se inseguro sobre a faculdade e os caminhos que ela proporciona. No entanto, há vários exemplos de pessoas que atuam em áreas completamente distintas e constroem carreiras de sucesso, o que comprova que há quesitos mais importantes na hora da colocação no mercado. O Na Prática conversou com dois profissionais que, em diferentes fases, mostram que, de fato, a faculdade não define a carreira, se você não quiser.
“Ainda bem que eu não escolhi algo que tinha a minha cara”, brinca Denison Vaz, gerente de business intelligence na Kimberly-Clark. Formado em Administração com Habilitação em Comércio Exterior, não se identificou com a área. Embora gostasse de assuntos relacionados ao mercado internacional, a característica burocrática do setor o desencantou. “Acabei optando por Comércio Exterior, na ideia de que seria algo próximo a RI ou Marketing Internacional”, explica sua escolha.
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Depois de conseguir um estágio em finanças na Colgate, tentou uma oportunidade de uma vaga em gestão de categorias. Porém, a posição era para graduados. “Fiz uma proposta para o gestor: ‘não sou formado, sei que você precisa de uma pessoa formada, mas se eu entrar me especializo’.” A aposta deu certo e a companhia o apoiou na empreitada. No fim das contas, ele fez 17 cursos relacionados a Tecnologia da Informação, com objetivo de se capacitar para as novas funções e, enfim, mudar de carreira – o que ele consolida atualmente na posição na Kimberly-Clark.
Lucas Moino, consultor do Boston Consulting Group também tem uma trajetória diferenciada, já que se graduou, inicialmente, em Medicina Veterinária. “Tive contato, desde pequeno, com fazendas, animais, e sempre sonhei em ser veterinário. Os cavalos eram um hobby, a veterinária pareceu um caminho para me aproximar mais deles”, conta.
Durante a adolescência, viveu em uma fazenda em Nebraska, nos Estados Unidos e teve um summer job de ajudante de veterinário. Com a aptidão confirmada e o “empurrão” do doutor que auxiliava, decidiu, finalmente, pela formação.
A mudança para a consultoria estratégica global se deu a partir do processo de integração decorrente da venda de sua empresa “ligada à aplicação da genômica aos sistemas de produção animal”. “O comprador é um cliente do BCG nos Estados Unidos. Na época, um time do BCG Chicago planejou e liderou a integração.” No primeiro contato, se impressionou com a equipe e o trabalho – com a oportunidade de olhar o negócio de uma perspectiva diferenciada, explica Lucas.
Por que a faculdade não define a carreira
Para o consultor do BCG, a faculdade ensina diferentes grupos de pessoas a resolver diferentes classes de problemas. Por exemplo, médicos tentam resolver problemas ligados à saúde. “No final do dia, um diagnóstico clínico é muito comparável a um business case. O que fazemos, todos, é resolver problemas.”
Exatamente por conta disso, ele considera que a faculdade não defina um profissional. No entanto, fatores como a combinação das experiências, valores, paixões e ambições, são sim mais determinantes. Assim, todos são livres para desenhar sua trajetória, de acordo com suas preferências.
As habilidades adquiridas em uma formação inicial, de resolver problemas da ordem X, nunca serão em vão. Ou servirão, na prática, para a carreira escolhida (mesmo que em outra área), ou o aprendizado e seus desafios impulsionarão o desenvolvimento pessoal e profissional.
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“No processo de fazer graduação em si, a gente acaba se conhecendo e amadurecendo”, afirma Denison. Na sua opinião, a graduação acaba ajudando em um ponto bem específico: abre portas em algumas empresas. Ainda que a tendência internacional seja dar menos importância para o ensino superior, no Brasil, a ideia ainda não tomou conta dos processos seletivos, segundo ele.
Porém, para o gerente de business intelligence, a influência da faculdade para aí – e, definitivamente, não é o bastante para alguém se destacar em uma vaga. Para isso, ele aconselha adotar uma postura de protagonismo. “Se você ficar no processo parado, só escutando o que te passam, você é só mais um.”
O que fazer se não se identifica com a graduação
O velho dilema: desistir ou não da faculdade? Na opinião de Denison, o estudante deve terminar os estudos. Fazer isso deu certo para ele, e sua teoria de que o ensino superior ajuda apenas a abrir portas, também se mostrou verdadeira. Seu conselho: “terminar a faculdade e tentar, em paralelo, trocar para a área de interesse.”
De outra forma, Lucas também aponta o quesito “abrir portas” como um dos aspectos do ensino superior. “Acredito ser mais produtivo botar o foco (e a energia) na perspectiva de atuação profissional”, diz. A seu próprio exemplo, trabalhou em uma clínica médica de cães e gatos, atividade que não “conversava” com suas ambições. Mas foi o que lhe abriu portas para mercados de seu interesse, como o da engenharia genética, das técnicas de avançadas de preservação e reprodução, por exemplo.
“Se a perspectiva de desenvolvimento está em linha com as ambições profissionais, não existe razão para mudar de formação… um veterinário consultor é evidência concreta disso.”
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Como mudar para a área que deseja
O Na Prática oferece extenso material sobre mudança de carreira, com foco em histórias inspiradoras, informações relevantes, dicas… Porém, os dois profissionais apontam a importância de investir em cursos de especialização para essa etapa. “Os cursos, principalmente presenciais, são necessários, porque você tem uma ideia da cultura da área, você vê o que as pessoas falam”, afirma o gerente da Kimberly-Clark.
“Treinamentos são importantes para qualquer profissional em qualquer área. A busca sistemática pelo conhecimento revela disciplina, curiosidade e coragem (na medida em nos expomos aos riscos de explorar o que não entendemos ou conhecemos)”, afirma o consultor.
Na tentativa de se inserir em outro ramo, não é diferente, para Lucas, já que há sempre uma barreira de saída e entrada “em qualquer tipo de transição”. “Com a carreira não é diferente”, completa ele.