Nos últimos dias, durante a Conferência da ONU para Mudanças Climáticas (COP26), o governo brasileiro tem insistido em um discurso que coloca o Brasil como defensor do meio ambiente e combatente da emissão de gases do efeito estufa.
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Os dados, porém, desmentem a comitiva do presidente da República Jair Bolsonaro e do ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite. Nesta sexta-feira (12), um informe do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais mostrou que o Brasil quebrou o recorde de desmatamento em Outubro deste ano. A alta foi de 5% em relação a 2020.
As falas evasivas da comitiva do governo na Escócia, porém, não vêm convencendo imprensa e cientistas de todo mundo. O professor Forest Reinhardt, da Harvard Business School (HBS), é um desses expoentes que não acredita no discurso de que o Brasil é um “país verde”.
Em aula organizada pela Fundação Estudar nessa quinta-feira (11), o especialista em economia internacional disse não se convencer de que o Brasil é um país que cuida mais do meio ambiente do que os Estados Unidos, por exemplo, nação que lidera as emissões de CO2.
“Um país com Produto Interno Bruto (PIB) menor gasta menos energia e por isso que o Brasil não polui mais do que os Estados Unidos”, disse o professor ao explicar que o país emitiria mais poluentes se tivesse um poder de compra maior e consumisse mais.
Na visão de Reinhardt, isso se prova devido ao aumento contínuo da emissão de gases do efeito estufa por parte do Brasil na última década. Entre 2009 e 2019, anos em que o PIB do país cresceu, o Brasil teve um crescimento percentual maior na emissão de CO2 do que os Estados Unidos.
Em outras palavras, o Brasil acabaria servindo de exemplo, segundo a explicação do cientista, de como o aumento do consumo sem conscientização pode
As emissões totais, no entanto, ainda colocam o Brasil atrás de potencias econômicas globais, como a China, que lidera o ranking de emissão de poluentes. Essa balança mudaria, para o professor, se o brasileiro pudesse consumir mais. Os dados são da BP Statistical Review of World Energy.
Sobre esses pontos, o professor estadunidense acredita que a missão de frear a poluição também precisará acontecer através da diminuição do consumo. Para ele, essa não é apenas uma missão das pessoas mais ricas e precisa ser entendida como uma questão coletiva, que inclui ricos e classe média consumidora.
“Em Glasgow promete-se coisas impossíveis para os nossos netos [no futuro]. Talvez tenhamos uma menor emissão de poluentes mais barata, talvez a gente não consiga, e é possível ainda que os ricos desistam de ir atrás disso, porque podem achar tudo caro demais”, finaliza o professor ao frisar que os cidadãos consumidores precisam estar no centro da discussão sobre poluição.
Esse conteúdo faz parte de uma série de artigos realizados a partir de aulas internacionais organizadas pela Fundação Estudar em razão da comemoração dos seus 30 anos. Acompanhe aqui.