Como managing director da Kraft Heinz para o Sudeste Asiático, Pedro Albuquerque tem experiência de sobra em vivenciar a cultura de trabalho da Ásia. Ele, que também é membro da Rede de Líderes da Fundação Estudar, já passou por países como Japão, China, e Tailândia. Hoje, se divide entre Singapura e Indonésia, em fusos com mais de 10 horas de diferença do Brasil.
Há pouco mais de quatro anos na Ásia, se instalou primeiro em Singapura. Atualmente se baseia nas duas nações porque administra todos os mercados da região, dos quais o maior é a Indonésia.
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Mesmo com as muitas dificuldades envolvidas no processo de morar tão longe de seu país de origem, a vivência enriqueceu-o pessoal e profissionalmente. “Conhecer culturas diferentes te faz uma pessoa melhor, um líder melhor”, diz ele. “É um grande diferencial competitivo”, completa.
Mas o choque cultural requer “cabeça aberta” para entender e aceitar as diferenças – e esse foi seu grande aprendizado, relata. Nesse quesito, “o brasileiro leva muita vantagem porque tende a ser mais flexível, a ter uma empatia maior com algumas coisas e com as pessoas”.
Primeiros desafios
Uma das principais dificuldades em uma oportunidade de expatriação é estar longe dos parentes. Pedro conta que já perdeu inúmeros eventos e reuniões, por exemplo. Porém a parte da família que se encontra mais próxima consegue se beneficiar da vida no exterior.
“Você consegue trazer coisas para sua família que são únicas. Minha filha está aprendendo a falar e fala três línguas. É muito enriquecedor.”
A dificuldade de comunicação também foi um dos primeiros desafios que enfrentou (e, na verdade, enfrenta). “Se comunicação no mundo de trabalho já é complicada, imagina quando a língua materna não é o inglês – dos dois lados”, brinca. Para resolver o problema, o managing director se volta às técnicas mais básicas de comunicação “de sobrevivência”: simplificar, repetir (“10 vezes”), escrever.
Curiosidades sobre a cultura de trabalho da Ásia
#1 Mais e-mail, menos telefone
Pedro relata que um dos seus choques iniciais foi perceber que na Ásia, de forma geral, as pessoas não utilizam muito o telefone para comunicação profissional. “Eles se sentem mais confortáveis em escrever do que falar”, afirma.
#2 O chefe não se questiona
Acostumado com uma cultura de feedback frequente e possibilidade de falar abertamente, o diretor da Kraft Heinz se surpreendeu, na Indonésia, com colaboradores que não o questionavam. Fazer com que eles se abram, sejam sinceros e digam o que pensam e sentem é algo difícil. Ele percebeu o mesmo na Tailândia.
“Às vezes você espera que a pessoa te questione. O funcionário não te questiona e depois você acaba descobrindo que é uma coisa que ele sabia que [o que você falou] era errado”, conta ela.
“Foi um aprendizado muito grande e você acaba moldando até o jeito que você age com fornecedores, por exemplo. Porque você pede uma coisa, o fornecedor não vai conseguir, mas e ele não quer dizer que não vai cumprir o prazo. Você tem que assumir que de repente o que ele está se comprometendo não é factível. Muda um pouco as suas relações de trabalho”, detalha Pedro.
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#3 Chinês “dribla o sistema”
Segundo Pedro, os chineses possuem um tipo de “esperteza” similar aos brasileiros – são dotados da sabedoria conhecida como “street smart”. “Eles estão sempre querendo achar um de driblar o sistema, de alguma forma meio malandra”explica.
No entanto, eles dividem alguns valores mais alinhados com a cultura da empresa: pragmatismo, meritocracia e foco no resultado.
#4 Escalada baseada em anos de serviço
“No Japão, as pessoas são promovidas com base nos anos de serviço”, afirma Pedro. Por isso, é comum que o profissional só tenha um emprego durante a vida. Então, sob o comando de um expatriado jovem, alguns não “compram” a ideia de que ele é líder.
Para conscientizar, o diretor se esforça para traduzir as características da cultura baseada em performance, em que a promoção anda junto com resultado.
#5 Religião ligada às relações de trabalho
A religião é uma questão forte na Indonésia, um dos países com maior número de muçulmanos do mundo. Por vezes, está inclusive vinculada a atividades de trabalho.
Pedro relata que, por exemplo, uma das suas práticas como líder é comparecer em todas as fábricas e escritórios da companhia e fazer a quebra do jejum característico do período conhecido como Ramadã.
Outro ponto curioso que Pedro relata sobre a influência das crenças religiosas nos mais diversos campos, pelo menos na Indonésia, é o costume de citar a religião no currículo.