#negritude
Nina Silva é considerada uma das 100 pessoas afrodescendentes com menos de 40 anos mais influentes do mundo pela Organização das Nações Unidas. No ano passado, foi eleita uma das 20 mulheres mais poderosas do Brasil pela Forbes. Apesar de ser referência na área de tecnologia e possuir um currículo impressionante, a cor da pele de Nina parecia fazer as pessoas duvidarem de suas capacidades. Sentindo na pele as limitações criadas pelo preconceito, ela criou o Movimento Black Money como uma forma de incentivar o empoderamento negro conectando empreendedores e consumidores por meio de um marketplace.
Formada em administração e especializada em tecnologia, Nina possui mais de 17 anos de experiência na área, chegando a trabalhar em multinacionais fora do país e liderar equipes de 60 pessoas. “A tecnologia da informação sempre foi cobiçada, seja por altos salários ou pelo status. Mas esse setor não refletia minha imagem e meu lugar de pertencimento. Havia uma falta de pares nas instituições e eu sentia solidão enquanto corpo negro. Por mais que eu tivesse uma performance melhor, homens brancos recebiam salários mais altos”, relembra.
E não era apenas a falta de colegas negros que a incomodava. Clientes duvidavam de sua capacidade por ser uma mulher negra. “Já passei por clientes que não acreditavam que eu fosse a gestora do projeto. Me perguntavam se eu não era a recepcionista. Questionavam porque eu trabalhava com um sistema de tecnologia alemão, quando deveria estar procurando um marido. Meu currículo chegava na frente e a figura chegava depois. Quando as pessoas me viam, demonstravam seu real preconceito. Sentia a necessidade constante de pontuar que aquele lugar era meu por direito, de promover o empoderamento negro”, compartilha.
O surgimento do Movimento Black Money
Mesmo tendo ocupado diversos cargos de liderança, Nina começou a se questionar o que deixaria de legado, além da própria carreira. Foi então que decidiu fundar o Movimento Black Money, hub de inovação para inserção e autonomia da comunidade negra na era digital, estimulando o espírito inovador de empreendedores e jovens negros e promovendo o empoderamento negro. Para a executiva, o empreendimento foi uma resposta à sua busca por propósito.
“Sentia uma inquietação em ver lugares que não são ocupados por outras mulheres e outras pessoas negras. Mais ainda, queria criar a autonomia para que que nós não precisemos desses lugares. Será que nós sempre vamos ter de ficar pedindo inclusão, uma oportunidade para o mesmo grupo que nos oprimiu? Nunca acreditei que a real autonomia e liberdade da população negra no mundo se darão por outras mãos”, afirma Nina.
Ela esclarece que a iniciativa foi inspirada no pan-africanismo, com a proposta de deixar o capital financeiro e social circulando o maior tempo possível na comunidade negra. “Queremos buscar oportunidades com equidade, porque sabemos que a igualdade não existe. As pessoas partem de contextos diferentes. Nosso objetivo é gerar nossa própria cadeia produtiva, de fornecimento até consumo consciente e intencional de produtos e serviços de negros, contribuindo para o empoderamento negro”, esclarece.
A necessidade do empoderamento negro: dados sobre a comunidade
56% da população brasileira
53% dos micro e pequenos empreendedores
75% dos 10% mais pobres
67% dos desempregados
Consomem R$ 1,7 trilhão ao ano
Entre os projetos desenvolvidos pelo Movimento Black Money estão o Afreektech, braço educacional que busca desenvolver novas habilidades e competências em empreendedoras e jovens negros, através de cursos próprios e parcerias; o StartBlackUp, encontros de empreendedores e profissionais com a finalidade de juntar talentos, formar networking e incentivar conexões com investidores; e o D’BlackBank, startup de serviços financeiros para consumidores e empreendedores negros. Além disso, o movimento já conta com outros produtos no mercado como a maquininha de cartão pretinha.
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Entre suas iniciativas com maior potencial para o empoderamento negro, Nina cita a StartBlackUp e os mailings de redes sociais. “Elaboramos e enviamos conteúdos online de educação, desde empreendedorismo, finanças até diversidade e marketing digital, além de oportunidades que impactam cerca de 80 mil pessoas por mês. Durante nossa atuação, vamos encontrando parceiros e apoiadores. O Fundo Baobá é um deles, também pautado pela busca da equidade de gênero e raça em todas as esferas de poder”, esclarece.
Com a ajuda do fundo, foi realizada uma edição do Afreektech pautado para mulheres negras. “Temos cases de alunas que fundaram novos negócios após a turma. Nossas alunas e alunos se tornam multiplicadores da transformação que o afroempreendedorismo e Black Money trazem. Nossa política é pautada na circulação de capital por mais tempo dentro da comunidade negra, acelerando assim o processo emancipatório da nossa comunidade para o fortalecimento o empoderamento negro coletivo e não individual”, pondera.
Nina afirma que se sente contemplada ao ver outras pessoas se desenvolvendo a partir de suas iniciativas de empoderamento negro. “Ainda estamos muito longe de termos chegado ao propósito que queremos, que é colocar pessoas negras em pé de equidade no mercado, como empreendedores ou colaboradores. Mas quando vemos pessoas como nós se sentindo representadas e vendo que praticar o Black Money é uma saída para buscar nossa independência real, me sentindo reenergizada e com forças para continuar e estender essa visibilidade e a nossa atuação”.