Em 2015, com apenas 17 anos, Matheus Saueressig conquistou um grande feito: apresentou sua concepção de um “curso do futuro” e, com ela, ganhou o concurso mundial promovido pela Universidade do Oeste da Austrália (UWA). A agricultura celular, tema que lhe rendeu o 1º lugar no “Pitch the Course of the Future” – e um prêmio em dinheiro para viajar pelo mundo e aperfeiçoar sua ideia -, continua movendo sua carreira.
Basicamente, o conceito de “agricultura celular” possibilita produzir derivados biológicos – como carne, ovos, couro – utilizando “partes” dos animais, e não eles inteiros, por meio da cultura de células. Na época chamando-a de “Biofabricação”, Matheus contou ao Estudar Fora que seu curso universitário formaria “biotecnólogos responsáveis pela gestão de empresas que fabricam produtos animais, órgãos e outros derivados biológicos sem necessidade de um animal, vegetal ou humano”.
“Isso tudo seria feito usando sofisticados métodos de cultura de células e engenharia de tecidos”, explicou ele, antes de seguir viagem para Nova York e Maastricht, onde pesquisou mais até fazer seu pitch na universidade australiana que lhe concedeu o prêmio.
[Matheus e Barry Marshall, Nobel de Medicina e professor de microbiologia clínica na UWA/Acervo pessoal]
Quais seriam os benefícios da produção com base na agricultura celular? Segundo Matheus, ela ajudaria a diminuir os impactos da agricultura regular no meio ambiente. Entre suas vantagens, ele cita menos utilização de água e a não produção de dejetos.
Esforço para difundir a agricultura celular
De volta ao Brasil, Matheus começou a estudar Engenharia Elétrica na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), mas teve que trancar o curso para prestar serviço militar. Decidido a dedicar o resto de seu tempo ao tema que havia alavancado o início de sua trajetória, mesmo com a faculdade trancada o estudante retornava para “conversar com professores e doutores sobre pesquisas e criação de startups ligadas à agricultura celular”.
Como progressão do seu interesse, ele queria criar uma organização brasileira que tratasse do assunto. Ao pesquisar ONGs que pudessem orientá-lo na empreitada, Matheus conheceu o fundador e presidente da Cellular Agriculture Society (CAS) – organização sem fins lucrativos – o bioengenheiro Kristopher Gasteratos.
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Sua história, seu trabalho anterior e sua vontade de começar “um movimento a favor da agricultura celular no Brasil” fizeram com que Kristopher lhe oferecesse a posição de diretor de comunicações na América do Sul, cargo que ocupa hoje – além de ter voltado a estudar Engenharia Elétrica. “Trabalho com nosso conselho executivo e me reúno regularmente para discutir e trabalhar ideias”, conta.
Através da divulgação de notícias, informações, coordenação de projetos e eventos, a CAS tem objetivo de disseminar o conceito da agricultura celular. “Minha função é engajar a comunidade em geral para participar dos nossos programas voluntários e unir esforços com acadêmicos, líderes da indústria e políticos em todo o território sul-americano”, explica Matheus.
O jovem diz que, como diretor de comunicações, seu maior desafio tem sido criar pontes com os países vizinhos para que se conscientizem sobre a agricultura celular. Segundo ele, “somos o único continente, além da África, que não tem nenhuma startup ou empresa que sintetize algum produto de origem animal”.