Prestes a ter seu segundo filho, Renata Moraes lembra que na época primeira gravidez, com 30 anos, tinha apenas começado a empreender a ImpulsoBeta. A junção das duas experiências foi benéfica: estar grávida impulsionou a maturação do seu empreendimento. “Eu precisava de alguém para estar à frente do negócio comigo e precisaria de grana, então a chegada do meu filho me impulsionou a ser mais ousada nessas tomadas de decisão”, conta a mãe empreendedora.
Agora, cerca de três anos depois, a empresa conta com equipe de colaboradores, rede de especialistas associados, além de dezenas de clientes. Se, por um lado, a estrutura desenvolvida vai permitir que fique afastada “operacionalmente”, as responsabilidades de gestão aumentaram muito, conta Renata.
Ser mãe tornou investir na vida profissional mais desafiador para ela, pelo inegável aumento na carga de responsabilidades. A fundadora do ImpulsoBeta, startup que promove “inteligência de gênero” nas empresas clientes, considera impera o dilema: quanto mais atividades, mais divisão de energia e foco.
“A vida é feita de escolhas e quando a gente escolhe que construir uma família com filhos é nossa aspiração tem que entender que alguns ônus estarão sempre inclusos nesse pacote.”
Esse é mais um dos pontos em que o desequilíbrio entre as expectativas para os homens e para as mulheres no mercado de trabalho se mostra. Da mesma forma que acontece com elas, para eles, a paternidade afeta os esforços direcionados ao campo profissional. No entanto, enquanto as mães são bombardeadas com esse tipo de perguntas, aos pais isso nunca é questionado – mais um reflexo do que é esperado de cada uma das partes.
“Obviamente essa dificuldade pode ser amenizada com políticas públicas que incentivem a parentalidade (de homens e mulheres) e com boas práticas de respeito à vida pessoal por parte das empresas”, diz. No entanto, não tem como fugir da questão “atividade, energia e foco”.
Mãe empreendedora
Não poder contar com os benefícios oriundos de um trabalho “tradicional”, como licença maternidade, faz com que empreender seja ainda um maior desafio. “Embora a lei brasileira ofereça o auxílio-maternidade a essas profissionais, quando contribuem com o INSS, geralmente essa receita não é do porte de sua remuneração”, explica a mãe empreendedora.
Realidade a qual está familiarizada, e não só pela sua própria trajetória. Estando a frente da ImpulsoBeta, que, entre seus serviços, faz treinamentos de liderança (o programa de liderança feminina se chama Liderabeta) Renata acompanha as dores de muitas empreendedoras e profissionais autônomas. Frequentemente se conecta com mulheres que têm pretensões profissionais e também aspiram serem mães.
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“Independente da profissão, nossa orientação é sempre começar qualquer planejamento sobre o tal ‘equilíbrio vida pessoal e trabalho’”. O processo parte do desenvolvimento do autoconhecimento, na medida de entender as próprias prioridades. “Sucesso profissional é diferente para cada uma, assim como ser boa mãe não precisa ter modelo único a ser perseguido”, explica.
A exemplo das empreendedoras, algumas podem preferir um negócio limitado, mas que seja autogerenciável e proporcione flexibilidade. Enquanto, outras – “como a Cristina Junqueira, sócia-fundadora do Nubank” – podem almejar uma empresa de alto potencial e crescimento assim que saem da maternidade. Para as primeiras, o preço pode ser uma carreira de menor remuneração e com outras medidas de sucesso. Já as outras podem ter que desafiar algumas convenções do status quo da boa maternidade, diz Renata.
“Pessoalmente, acredito que mais difícil do que executar o plano de negócio e de vida que queremos é saber exatamente o que nos move, conhecer o custo disso e estarmos dispostas a pagá-lo.”
Às mulheres que busquem empreendedor, a especialista em liderança feminina dá uma dica prática que considera de extrema importância, fazer um “planejamento financeiro”. “Geralmente, filhos e empresas têm algo em comum: custam mais dinheiro do que imaginamos previamente e é bom fazer reservas prevendo diferentes cenários.”
Ambições profissionais X expectativas para a vida pessoal
“Se eu fosse a mulher que sonhou com amamentação, em passar o dia todo com os filhos para não perder nada, não estaria feliz”, diz a empreendedora.
Com a ImpulsoBeta solidificada, e sentindo-se satisfeita com a forma com que exerce a maternidade, Renata considera que aprendeu a conciliar ambições pessoais e profissionais. Porém, a custos emocionais e financeiros. Além de ter que deixar de lado atividades de networking, também despriorizou seu sono e tempo maior de lazer e outros interesses.
No entanto, ela não desconsidera os privilégios das suas condições.
“Minha empresa cresce nos meus primeiros anos de maternidade porque eu tenho em casa um parceiro, um homem que ao meu lado exerce sua paternidade de forma ativa, porque tenho apoio de avós e avôs (próximos, afetivos e disponíveis), tenho condições financeiras de custear apoio doméstico e escolinha particular que me permitem seguir em frente na carreira com maior tranquilidade.”
“Seria muito inocente dizer ‘quem quer consegue’ ou que o preço disso não é enorme”, completa.