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A geração Z quer cada vez mais voltar ao escritório — e o motivo preocupa

Imagem mostra duas mulheres jovens brancas diante de um laptop em uma mesa de trabalho.
Uma mudança curiosa está acontecendo com a Geração Z no contexto do trabalho.
Os jovens profissionais, que sempre buscaram flexibilidade e equilíbrio entre carreira e vida pessoal, têm demonstrado um desejo crescente de voltar ao escritório. Assim, em pesquisas globais recentes, eles têm preferido cada vez mais o modelo de trabalho predominante antes da pandemia de Covid-19, quando muitos desses profissionais entraram no mercado. 
Mas não se engane: essa não é uma simples nostalgia pelos “bons e velhos tempos”. É um grito de socorro disfarçado de preferência profissional.  E deve representar um grande desafio para o mercado e para as empresas nos próximos anos.

O que está por trás do desejo de ‘voltar’ ao presencial

Dados recentes da Gallup revelam um cenário surpreendente: menos de 25% da Geração Z demonstra interesse em trabalhos completamente remotos, por mais confortáveis  flexíveis que eles sejam para muitos profissionais.

Por outro lado, mais de 70% preferem o modelo híbrido, e uma parcela crescente está disposta a voltar ao escritório em tempo integral — algo impensável há dois anos.

Para entender a dimensão dessa mudança, imagine: muitos desses jovens fizeram a maior parte da faculdade online, tiveram suas primeiras entrevistas de emprego por videochamada e aprenderam a “trabalhar em rede” através de redes sociais.

Em paralelo, uma pesquisa da Bupa UK destaca que quatro em cada dez jovens de 16 a 24 anos (38%) se sentem solitários ou isolados devido às suas circunstâncias de trabalho, uma proporção significativamente maior do que a observada entre todos os trabalhadores (24%).

A solidão é ainda mais acentuada entre influenciadores de redes sociais, e 58% gostariam de ter um ambiente de trabalho mais social. Esse cenário é agravado pela falta de apoio à saúde mental nos locais de trabalho, com mais de um quinto (21%) dos jovens entrevistados afirmando que não recebem esse tipo de suporte.

A geração mais conectada (e mais solitária)

A Organização Mundial da Saúde classifica a solidão moderna como uma “epidemia silenciosa”, afetando entre 17% e 21% dos jovens de 13 a 29 anos globalmente. Em países mais pobres, esse percentual sobe para alarmantes 24%.

A verdade é que, quanto mais tempo os jovens passam online, menos conectados parecem se sentir. As redes sociais, que prometiam aproximar pessoas, tornaram-se palcos de performances constantes onde a vida real nunca parece suficientemente interessante.

Dr. Jonathan Haidt, psicólogo da Universidade de Nova York, aponta 2012 como o ano de virada — quando smartphones e redes sociais se tornaram ubíquos. Desde então, indicadores de bem-estar mental entre jovens despencaram, enquanto casos de depressão e ansiedade dispararam.

Leia também: O que podemos aprender com o bestseller “A geração ansiosa”

Por que eles querem voltar ao escritório

As principais preocupações da Geração Z que impulsionam o retorno ao escritório, segundo a Gallup, são:

  • Falta de aprendizado e mentorias: Não é possível aprender tudo em livros ou online. Grande parte do conhecimento e das técnicas é adquirida observando, ouvindo e interagindo com colegas mais experientes, em conversas informais antes e depois das reuniões.
  • Necessidade de compartilhar experiências: Colegas de escritório podem compreender e valorizar os desafios e conquistas, oferecendo o senso de companhia que faz tanta falta para essa geração.
  • Visibilidade e reconhecimento: Conquistas profissionais não são sempre compreendidas ou apreciadas em casa, e a ausência física pode tornar os profissionais “esquecíveis e invisíveis” para líderes que tomam decisões sobre projetos, atribuições e promoções.
  • Dificuldade em manter o foco: Com Netflix, delivery, pets e redes sociais, manter o foco profissional virou missão impossível. Isso vem dificultando a concentração e a conclusão dos trabalhos, e podendo ser percebido como falta de engajamento.

Quando o corpo cobra a conta

A solidão não só um “sentimento ruim” — é uma questão de saúde pública. A OMS associa o isolamento social a riscos elevados de doenças cardiovasculares, diabetes tipo 2, depressão e até mortalidade precoce.

Entre 2014 e 2019, estima-se que 871 mil mortes anuais estejam ligadas à solidão — um número comparável a epidemias que mobilizam recursos globais.

No Reino Unido, planos de saúde como a Bupa registraram aumento de 100% nas reivindicações relacionadas à saúde mental de jovens entre 18 e 35 anos, comparando 2019 com 2024.

A receita para a reconexão

Felizmente, a história não termina no diagnóstico sombrio. Países como Japão e Reino Unido já implementaram estratégias nacionais de combate à solidão, tratando o isolamento social como questão de política pública.

No ambiente corporativo, empresas estão redescobrindo que investir em conexões humanas não é “tempo perdido”, mas estratégia de negócio. Companhias que oferecem mentoria, espaços de convivência e suporte emocional estão vendo resultados não apenas em bem-estar, mas em produtividade e retenção de talentos.

A volta da Geração Z ao escritório não representa um retrocesso tecnológico, mas uma evolução na compreensão do que realmente importa. Por mais avançada que seja nossa tecnologia, algumas necessidades humanas são insubstituíveis — e elas tem menos a ver com o modelo de trabalho que com as estratégias executadas pelas empresas para retomar rotinas e conexões.

Como afirma a OMS, “a conexão não é só uma boa ideia. É fundamental. Sem ela, não conseguiremos enfrentar os grandes desafios da saúde pública, da economia ou da estabilidade social”.

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