Durante os últimos quinze anos eu tenho trabalhado com os altos executivos das maiores empresas operando no Brasil. Planejamento estratégico, execução operacional, transformação cultural. desenvolvimento de lideranças, excelência em vendas e formação de times têm sido nossas principais agendas nessas organizações, e tivemos mais de 75 mil executivos e gerentes envolvidos de alguma forma com nossas ferramentas e nosso serviço de consultoria.
Diante disso, eu posso dizer: os altos cargos executivos nas grandes corporações são, de fato, charmosos e estimulantes para aqueles que têm vontade de desenvolver uma trajetória de carreira sólida rumo ao topo. Pessoalmente, eu tenho um tremendo respeito por esses homens e mulheres encarregados de dirigir milhares de pessoas, entregar bilhões de dólares em lucro e servir a milhões de consumidores. Eles realmente têm um impacto no mundo.
Ainda assim, de acordo com pesquisas recentes, os jovens da geração millennial (nascidos nos anos 1980 e 1990, também chamados de geração Y) têm rejeitado ofertas de trabalho nestas grandes empresas para, no lugar disso, escolherem ser pequenos empreendedores ou colaborarem com companhias de pequeno e médio porte. Gerentes seniores estão deixando seus cargos e levando consigo uma larga fatia do conhecimento tático.
Essa é uma situação complicada.
Os tradicionais modelos de comando-controle, inspirados em estruturas militares, não são mais capazes de garantir alta produtividade e laços de longo prazo com os funcionários. Para milhões de pessoas, da Ásia aos Estados Unidos, empregos para a vida toda, em um mesmo lugar, deixaram de ser uma proposta de valor interessante.
Diante desse cenário, lendas urbanas sobre a vida corporativa em grandes empresas surgem a todo tempo e começam a se tornar a opinião generalizada.
Abaixo, compartilho o que considero cinco mitos sobre como é a vida profissional e pessoal de um CEO:
1. Alma a venda: O sucesso é medido pela quantidade de dinheiro que você tem.
2. Ausência de equilíbrio: A razão de viver é ser produtivo, influente e poderoso. Toda a atenção é completamente focada em objetivos corporativos e conquistas profissionais.
3. Vaidade: Os CEOs acreditam ter um toque especial, são seres iluminados e arrogantes.
4. Poder monárquico: Reis, rainhas, castelos… Você pode pensar que eles se foram com o fim das monarquias europeias, mas eles continuam entre nós vestindo ternos.
5. Coração de pedra: Enquanto as pessoas de bom coração se dão bem em áreas como educação e terceiro setor, as batalhas corporativas demandam uma postura fria e rígida.
Não ficou nada inspirado, certo? Então talvez eu deva contrapor esse raciocínio baseado em mitos com cinco argumentos reais sobre porque você deve se atrever a se tornar o CEO de uma grande empresa: poder de fazer o bem; networking com as as pessoas certas, no momento e lugar certos; oportunidade de liderar pessoas brilhantes; atuar no topo do conhecimento humano e da tecnologia; e, por fim, gerar um impacto profundo e duradouro no mundo.
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No entanto, para ser honesto, também é necessário falar das principais razões que levam os CEOs a falharem e impedem que eles consigam obter esse impacto. São elas: desenvolver escotoma, ou seja, só enxergar o que quer; ter um bobo-da-corte; ter um elevador privativo; liderar as tropas sem conhecer bem o campo de batalha e os adversários; esquecer que um dia (quem sabe amanhã) outra pessoa assumirá esse posto.
Não importa qual seja a sua escolha, vale a pena lembrar que nada é permanente. No final, você será lembrado e julgado de acordo com o seu legado e o impacto que causou em outras pessoas. É humano desejar e trabalhar para aumentar o seu poder e o seu dinheiro. Mas é superior buscar melhorar o seu próprio equilíbrio. Isso é algo que todo CEO deveria saber.
Daniel Augusto Motta, colunista do Na Prática, é PhD em Economia pela Universidade de São Paulo (USP) e mestre em Economia pela Fundação Getúlio Vargas (FGV-EAESP). Ele é fundador e CEO do BMI Brazilian Management Institute, uma consultoria de nicho baseada em São Paulo. Já lecionou na Thunderbird School of Global Management, FGV, Insper, PUC-SP e ESPM. Hoje é professor do MBA da Fundação Dom Cabral. Possui artigos publicados nos jornais Valor Econômico, Folha de São Paulo, e Harvard Business Review Brasil, e é autor do livro A Liderança Essencial.