Programas de estágio e de trainee são iguais desde que o mundo é mundo. Perto de terminar a universidade, um enorme grupo de estudantes se candidata a meia dúzia de vagas nas grandes empresas.
Aceitos, eles passam meses fazendo trabalhos burocráticos, tentando mostrar algum talento para serem contratados. Depois, como acontece com uma frequência cada vez maior, pulam fora na primeira oportunidade, em busca de novas experiências.
Os programas de estágio continuam um sucesso de público. Os últimos processos seletivos da cervejaria Ambev e da fabricante de bens de consumo Unilever atraíram mais de 50.000 candidatos.
Mas um grupo crescente de companhias está à caça de novas formas de atrair a molecada. O objetivo, obviamente, é garantir que os candidatos mais promissores fiquem na empresa, se possível para sempre.
Para isso, vale até abrir mão de um dos grandes diferenciais dos programas de sucesso — o sigilo.
Desde janeiro, a cervejaria Ambev, o banco de investimentos Credit Suisse e a consultoria McKinsey estão dividindo entre si uma turma de sete estagiários.
Funciona assim: em vez de cada companhia atrair seus próprios estagiários, elas decidiram, juntas, encontrar os estudantes mais promissores.
Cada jovem passa seis meses em cada empresa. Ao final do processo, as empresas fazem ofertas aos estagiários preferidos — e os próprios jovens têm a palavra final.
O objetivo é contratar jovens com bagagem em outras empresas e, ao mesmo tempo, tirar um pouco da ansiedade de “conhecer o outro lado” antes de se comprometer com uma carreira de longo prazo.
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“Com esse programa, os jovens terão uma experiência única de contato com culturas empresariais distintas e em segmentos complementares”, diz Daniel Ribeiro, diretor de desenvolvimento de gente da Ambev.
“Se eles optarem por trabalhar com a gente, significa que encontraram uma empresa alinhada com suas expectativas profissionais.”
O modelo foi criado pela empresa de recrutamento Nexo, que dispensa os processos seletivos megalomaníacos.
A empresa envia pesquisadores a um grupo de faculdades selecionadas e faz convites a alunos específicos, apontados pelos próprios alunos como futuros líderes.
“Procuramos jovens que não entrariam ou não seriam selecionados nos processos tradicionais”, diz Andreas Auerbach, sócio da Nexo.
Um deles é Gabriel Cordaro, estudante de engenharia elétrica da USP e diretor da empresa júnior da faculdade. Em outubro, ele recebeu um convite da Nexo para participar do processo de seleção para o estágio compartilhado. “Achei ótimo porque estava justamente em dúvida entre consultoria, indústria e banco”, diz.
Desde janeiro, Cordaro divide seus dias entre a faculdade, a área de pesquisa do Credit Suisse e atividades complementares na sede da Nexo, como cursos de comunicação e de liderança.
Em julho, ele levará o terno e gravata para a McKinsey. Depois, em janeiro, trocará tudo pela calça jeans da Ambev. O plano — dele e de seus seis colegas — é conseguir os melhores resultados em todas as passagens para, lá na frente, poder escolher.
Nesse novo modelo, as oportunidades são maiores, mas a concorrência também é.
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Este artigo foi originalmente publicado em EXAME.com