Quando um aluno é aprovado no vestibular de uma universidade brasileira e tem acesso à grade curricular do seu curso, não é certo que ele encontrará disciplinas ligadas ao empreendedorismo. Mas há outras formas de ter contato com o tema durante o ensino superior.
Segundo os especialistas, é preciso manter uma interface entre as diversas possibilidades de empreendedorismo na universidade, além da difusão desse conhecimento para áreas como saúde e ciências humanas.
Segundo pesquisa realizada pela Endeavor em 2014, em parceria com o Sebrae, dos quase cinco mil universitários entrevistados, 48,7% já fez alguma disciplina relacionada ao empreendedorismo. Os responsáveis pela pesquisa acreditam que as universidades têm aumentado seu interesse pelo empreendedorismo nos últimos anos.
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“O Brasil como um todo entendeu que o empreendedorismo é uma das principais alavancas do seu desenvolvimento econômico e social. As universidades, como centros de pesquisa e formação de talentos, seguem essa tendência, ainda que de maneira mais lenta, muitas vezes.
No lado positivo, empresas juniores e disciplinas de empreendedorismo não são mais novidade. Por outro lado, o ensino ainda está muito centrado em cursos como Administração e Economia, nas áreas de negócios, quando poderia ser totalmente transversal, juntando na sala de aula alunos de todos os cursos para resolver problemas da sociedade.
Além disso, a pesquisa acadêmica ainda é bastante distante do mercado, e essa aproximação é essencial para as empresas inovarem mais”, afirma João Melhado, que trabalha na área de pesquisa e políticas públicas da Endeavor.
Na USP, o NEU (Núcleo de Empreendedorismo da USP) foi criado em 2012 pelos próprios alunos e é quem organiza a oferta das 68 disciplinas ligadas ao empreendedorismo.
“O Núcleo surgiu a partir do interesse de alunos que queriam empreender. A aceitação da USP foi saudável, ainda mais quando começamos a gerar resultados expressivos com nossas ações. Muito embora não haja qualquer relação de dependência ou interesses institucionais”, afirma o presidente do NEU, Artur Vilas Boas.
Entre os resultados citados, destacam-se o surgimento de startups famosas, como 99taxis, Nubank, Kekanto, Ifood e Lean Survey.
Já a UFMG possui um Núcleo de Inovação Tecnológica que é responsável pela Gestão da Inovação na Universidade, a CTIT (Coordenadoria de Transferência e Inovação Tecnológica). Dentro da CTIT existe um setor responsável pelo fomento da cultura empreendedora entre os cursos.
“Prezamos pela multidisciplinaridade nos nossos projetos, então procuramos divulgá-los igualmente em todos os cursos. As empresas juniores, por exemplo, estão presentes em muitos cursos da UFMG e trabalham o perfil empreendedor através de uma formação diferenciada do aluno, com experiências complementares àquelas oferecidas pelas disciplinas dos cursos”, revela Gabriela Metzker, coordenadora do setor de empreendedorismo da CTIT.
Segundo o professor André Leme Fleury, que leciona disciplinas ligadas ao empreendedorismo nos cursos de Engenharia de Produção e Design na USP, a graduação é o momento ideal para trabalhar o tema com os jovens. “O empreendedorismo viabiliza ao aluno experimentação, reflexão e compreensão do processo de desenvolvimento de inovações em produtos, serviços e negócios.
Na universidade o aluno tem a possibilidade de vivenciar estas experiências de maneira lúdica e gradual, definindo de acordo com suas potencialidades o quanto deseja se aprofundar ou não no desenvolvimento deste tipo de inovação. Após a universidade essa experimentação se torna mais difícil”, pondera o professor.
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Outras possibilidades para empreender
Além das disciplinas teóricas, os alunos podem entrar em contato com o empreendedorismo de outras maneiras na graduação. As empresas juniores, os laboratórios e as incubadoras de empresas também são caminhos possíveis. O presidente do NEU, que é pesquisador sobre o tema, destaca a necessidade de diálogo entre os diversos espaços de empreendedorismo na academia.
“Podemos destacar três espaços principais para o empreendedorismo nas universidades: sala de aula, laboratórios e incubadoras. As universidades devem oferecer disciplinas que dialogam com laboratórios e projetos de pesquisa relacionados às incubadoras, por exemplo. É preciso fomentar a oferta de disciplinas, mas, mais do que isso, fomentar as interfaces do ecossistema de empreendedorismo”, explica Artur Vilas Boas.
Integrante do Núcleo de Empreendedorismo da USP [NEU/divulgação]
Segundo ele, as pesquisas relacionadas ao empreendedorismo deveriam ser mais incentivadas. “Os principais ecossistemas de empreendedorismo do mundo apresentam ligação direta com universidades de ponta. Capital humano de alto nível é o que gera negócios de alto nível. Ninguém melhor que a universidade para desempenhar papel fundamental nesse sentido. O ambiente acadêmico e de pesquisa é o ambiente onde se chega à fronteira do conhecimento, sendo, assim, mais provável se chegar à fronteira da inovação”, afirma o pesquisador.
Dificuldade de difusão
Se o empreendedorismo faz parte da rotina de alunos dos cursos de Administração, Economia, Computação e Engenharia, não pode-se dizer o mesmo nas áreas de saúde e ciências humanas. Segundo a pesquisa da Endeavor, no curso de Administração, 65% dos entrevistados já cursaram alguma disciplina, enquanto na área de ciências da saúde, apenas 27,7%.
A pesquisa mostra ainda que um grande número de estudantes não fizeram disciplina nessa área pelo simples fato do curso não oferecer nenhuma. 32,4% dos universitários de Ciências Humanas demonstram interesse pelo tema, mas não encontram oferta.
“Considero este dos principais desafios atualmente. Apesar do empreendedorismo estar se difundindo rapidamente entre cursos como engenharia, computação e administração, os cursos de humanas ainda apresentam poucas iniciativas relacionadas. Acredito que esta difusão deve ocorrer nos próximos anos, conforme novas formas de empreendedorismo sejam criadas e difundidas nestes cursos”, ressalta o professor André Leme Fleury.
Quem já passou por esses cursos com menos tradição empreendedora encontra dificuldades na hora de montar seu próprio negócio. É o caso do empresário Calebe Asafe, que graduou-se em publicidade na UFMG e em design gráfico na UEMG. Atualmente ele é diretor de criação da “Calebe Design” e sócio-fundador do Prosas (plataforma que incentiva iniciativas na área social).
“Quando você vai empreender de fato, o buraco é muito mais embaixo. Você não precisa só de conhecimento em empreendedorismo, mas principalmente em gestão. Acredito que mais aproximação com o mercado é fundamental. Os alunos precisam conhecer alguns modelos de negócio dentro do campo que estão estudando.
Precisam ter a noção de como o mercado funciona e quais dificuldades eles vão encontrar se quiserem abrir seu próprio negócio. Também precisam entender melhor o que é valor, como gerá-lo e como cobrar por ele”, exemplifica o empreendedor.
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