A formação em Engenharia tem suas possibilidades crescentes (quase) na mesma medida em que a tecnologia avança. Enquanto novas ferramentas e necessidades se beneficiam da capacidade analítica desses profissionais, funções menos tradicionais perdem espaço e não são mais a primeira opção de quem se gradua no curso. “Com tanta tecnologia e startups existentes hoje, você quase não precisa de um engenheiro de obras”, brinca Marcello Danelli, engenheiro que trabalha como coordenador de Inovação & Tecnologia no LAIOB (Latin American Institute of Business), na última edição do curso Carreira para Engenheiros Na Prática.
Idealizado pela Fundação Estudar para ajudar na decisão de carreira de quem está cursando ou se formou em Engenharia, a formação contou com outros dois engenheiros – um dos fundadores da companhia Kipiai, Bruno Lima, e Gabriel Siqueira, head de Tech Ventures da Omiexperience – para abordar os caminhos existentes nos ramos de empreendedorismo e tecnologia. Uma coisa ficou clara: não falta espaço para esses profissionais no mercado atual.
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“Engenheiro é um resolvedor de problemas; isso é mais importante do que o assunto”
“O mercado gosta de engenheiros, o curso é muito difícil”, conta Bruno, que sentiu isso na pele. Junto com um sócio, abriu a Kipiai, uma agência de marketing digital que se apoia na análise profunda de dados para potencializar os resultados dos investimentos das companhias clientes. Para tanto, é preciso “tratar, interpretar, fazer uma curadoria” eficiente dos dados existentes – competências que os engenheiros têm bastante desenvolvidas.
E não é só o Marketing que pode se beneficiar dessa e de outras habilidades: “engenheiro é um resolvedor de problemas; isso é mais importante do que o assunto”, explica Gabriel Siqueira. Com uma trajetória marcada por experiências no mercado financeiro, migrou para o setor de tecnologia na Omiexperience, organização especializada em criar softwares de gestão para outras empresas – em “achar um problema e resolver com um produto”, afirma. “No início de carreira, o ideal é tentar achar um equilíbrio entre o que quer, e ter amplitude”, recomenda ele.
A exemplo de Marcello, a capacidade de análises processuais e ferramentas de gestão acabam sendo características que ajudam no trabalho como coordenador de Inovação & Tecnologia. Para ele, os jovens profissionais não devem se preocupar tanto que as habilidades adquiridas na formação não sejam completamente alinhadas com sua função. “A vida não desperdiça nada”, diz.
Versatilidade não é flexibilidade
Embora as capacidades de raciocínio lógico e de lidar com números (e dados), por exemplo, fazerem com que quem se forma em Engenharia tenha um perfil versátil – podendo atuar em diversos setores – muitas empresas do novo mercado requerem certa flexibilidade. Segundo Gabriel, quanto menor a companhia, mais dinâmico e flexível é preciso ser.
Em partes porque, no começo, o profissional pode ter que exercer diversas funções, ou ajudar em vários tipos de problemas. Mas não é só com esse sentido que a característica se aplica. Em empresas iniciantes, os colaboradores exercem papel de “empreendedores”. Ou seja, precisam ser voltados à execução, capazes de tentar e, em certo ponto, autônomos. O head da Omiexperience resume os aspectos do empreendedorismo: “dinamismo, estar confortável com a incerteza, vontade de fazer acontecer e velocidade”.
Para alguns profissionais, principalmente a flexibilidade de lidar com a imprecisão, pode ser um desafio. “O engenheiro tem dificuldade de trabalhar com cenários que não consegue projetar”, diz Marcello. Desenvolver-se nesse sentido, então, é uma vantagem para se colocar no mercado de empreendedorismo e tecnologia; mas não só, pode também ajudar a ter outra atitude sobre a própria trajetória profissional. “[Na carreira] tem uma parte de aleatoriedade e sorte que atuam”, afirma Bruno.
No caso das startups, em específico, outro elemento é valorizado: a curiosidade pela setor. “Ser engenheiro já ajuda mas tem que mostrar interesse”, brinca Gabriel.
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Prepare-se para o futuro
Marcello conta que uma das suas funções é mapear as novidades que podem ser interessantes, “ir atrás do que está acontecendo”. Algo que ele sugere que todos façam, não importa em que mercado almejem entrar. “Qualquer plano de carreira, estude inovação e tecnologia”, indica.
Mas é depois da escolha de atuação que o profissional pode mapear alguns focos de competências a desenvolver, de acordo com o mercado e com seus próprios gaps. A partir daí, a ideia é investir em skilling – em aprender habilidades -, o que não necessariamente significa outra graduação. “A tendência é [muito mais] saber o que você tem a agregar do que carimbos no currículo”, complementa o engenheiro.
A mesma mentalidade, de identificar o valor que se deseja trazer, ajuda na hora de começar a empreender. O coordenador do LAIOB sugere refletir a partir de duas perguntas: “Qual é o problema que já existe que quero resolver?” ou “Qual é o problema que está por vir e que quero resolver?”
Na prática, foi isso que Bruno, fundador da Kipiai, fez. Percebeu uma necessidade do mercado – no caso, de Marketing Digital -, e definiu como sua companhia contribuiria. Claro que a parte de gerir um empreendimento, de fato, exigiu um outro tipo de know-how, que ele e o sócio supriram indo atrás de conhecimento e trazendo pessoas mais capacitadas no assunto. “Acredito muito em uma aliança de forças”, destaca.