Desde 2022, com a popularização do ChatGPT e de outras ferramentas de inteligência artificial generativa, o mercado de trabalho vem passando por uma transformação acelerada. Muitas empresas têm adotado essas tecnologias para automatizar processos, reduzir custos e aumentar a eficiência.
Mas será que essa revolução tecnológica está atingindo todos os trabalhadores da mesma forma?
Um estudo inédito da Universidade de Stanford analisou mais de 62 milhões de trabalhadores em 285 mil empresas entre 2015 e 2025. A conclusão é clara: jovens em início de carreira, de 22 a 25 anos, estão sendo desproporcionalmente impactados.
Enquanto profissionais mais experientes conseguem se manter suas carreiras, muitos jovens recém-formados estão encontrando dificuldades para conquistar ou manter seus empregos, mais que qualquer outra geração.
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O que o estudo de Stanford revela
A pesquisa, conduzida pelos economistas Erik Brynjolfsson, Bharat Chandar e Ruyu Chen, aponta seis fatos principais sobre o impacto da IA no mercado de trabalho:
1. Jovens são os mais atingidos
Entre o final de 2022 e julho de 2025, houve uma queda brutal de até 20% no emprego de jovens em áreas como engenharia de software e atendimento ao cliente.
Não é coincidência que esses sejam exatamente os cargos considerados “porta de entrada” para muitos recém-formados. São também as funções mais vulneráveis à automação – com muitas tarefas repetitivas e baseadas em regras que a IA executa com velocidade e precisão cirúrgicas, por uma fração do custo de um funcionário humano.
2. Emprego estagnado para iniciantes
Enquanto trabalhadores mais velhos registraram crescimento de 6% a 9% no mesmo período, jovens de 22 a 25 anos viram uma redução de 6% no nível de emprego em profissões mais expostas à IA.
Isso significa que, mesmo em setores que continuam contratando, as oportunidades de entrada estão cada vez mais limitadas.
3. Automação x aumento de produtividade
O impacto negativo não atinge todo mundo da mesma forma. O estudo mostra que:
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IA como automação: reduz empregos, principalmente para iniciantes.
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IA como aumento de produtividade (augmentação): mantém ou até cria novas oportunidades, permitindo que humanos e máquinas trabalhem em conjunto
Esse dado indica que a forma como empresas escolhem usar a IA é decisiva para o futuro do emprego.
4. Impacto real, não conjuntural
Os pesquisadores descartaram explicações alternativas, como pandemia, crises de juros ou choques específicos de setores. O padrão só passou a ser observado a partir de 2022, coincidindo diretamente com a disseminação da IA generativa (ChatGPT).
Ou seja: o efeito é realmente tecnológico.
5. Emprego cai, salários não
Apesar da queda no número de vagas para jovens, não houve redução significativa nos salários.
Os rendimentos médios permaneceram estáveis, sugerindo que a principal consequência da IA, por enquanto, é a diminuição das oportunidades de entrada no mercado, e não a precarização salarial.
6. Consistência em diferentes setores
Por fim, o estudo mostra que o efeito é consistente em várias áreas, não se restringindo só ao setor de tecnologia. Mesmo em funções administrativas e financeiras, jovens enfrentam mais dificuldade do que seus colegas mais experientes.
Por que a IA afeta mais os jovens?
Uma das principais explicações para esse fenômeno é a diferença entre conhecimento codificado e conhecimento tácito.
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Conhecimento codificado: é o que se aprende na universidade ou em treinamentos formais. É facilmente substituível pela IA, pois pode ser replicado em algoritmos e modelos de linguagem.
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Conhecimento tácito: envolve experiência prática, julgamento e habilidades adquiridas ao longo do tempo. Esse tipo de saber ainda é difícil de automatizar, o que protege trabalhadores mais velhos.
Em outras palavras, jovens oferecem exatamente aquilo que a IA já consegue replicar com eficiência. Já profissionais experientes trazem bagagem prática que a tecnologia (ainda) não domina.
Exemplos práticos: onde a IA substitui e onde complementa
Para entender melhor essa tendência, vamos avaliar dois cenários diferentes:
Áreas mais impactadas (automação)
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Atendimento ao cliente: chatbots e assistentes virtuais conseguem resolver dúvidas simples sem intervenção humana.
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Programação básica: ferramentas como Copilot e ChatGPT são capazes de escrever trechos de código de forma autônoma.
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Suporte administrativo: tarefas de preenchimento de planilhas, agendamento e análise de documentos já são feitas por IA.
Áreas menos impactadas (aumento de produtividade)
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Marketing digital: a IA ajuda na criação de campanhas, mas ainda depende da visão estratégica de profissionais humanos.
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Saúde e cuidados pessoais: enfermeiros, cuidadores e técnicos continuam essenciais, com a IA atuando como apoio em diagnósticos e monitoramento.
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Gestão e liderança: decisões estratégicas e negociação ainda exigem habilidades humanas, sendo a IA só uma ferramenta de suporte.
O futuro dos jovens no mercado de trabalho
Se por um lado os dados de Stanford apontam para um desafio real, por outro também revelam caminhos para uma possível adaptação. Isso significa que a geração Z pode se preparar para esse novo cenário de algumas formas:
1. Desenvolver habilidades complementares à IA
Competências como pensamento crítico, criatividade, empatia e capacidade de liderança são cada vez mais valorizadas e dificilmente substituídas por máquinas.
2. Aprender a usar a IA como aliada
Profissionais que dominarem ferramentas de IA vão garantir vantagem sobre aqueles que as ignorarem. Não é sobre competir com a tecnologia, mas sobre trabalhar junto com ela.
3. Apostar em áreas menos expostas
Setores como saúde, educação, engenharia especializada e profissões criativas tendem a sofrer menos com a automação direta.
4. Capacitação contínua
O mercado muda rápido. Cursos de atualização, especializações e educação continuada nunca foram tão diferenciais essenciais para jovens profissionais.
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As consequências para empresas e governos
Além do impacto individual, o estudo de Stanford levanta pontos de atenção para empresas e políticas públicas:
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Empresas devem repensar estratégias de contratação, evitando substituir completamente a força de trabalho júnior, já que são esses jovens que formam a base de talentos futuros e trazem um olhar para o futuro que as outras gerações podem não captar.
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Governos precisam investir em programas de requalificação e incentivar modelos de uso da IA que aumentem a oferta de trabalhos, e não só automatizem o trabalho humano.
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Universidades têm o desafio de adaptar currículos, preparando estudantes não só para competir com as IAs, mas para usá-las de forma estratégica.
Competências socioemocionais nunca foram tão importantes
Como você viu, a popularização das IAs no mercado de trabalho tornou competências como liderança, criatividade e visão estratégica ainda mais diferenciais para jovens no mercado de trabalho.
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