O engajamento com causas sociais é uma constante ao longo da carreira de Denis Mizne. Aos 38 anos, ele acumula vasta experiência no terceiro setor, com uma breve passagem no governo federal. Hoje, é considerado referência em duas áreas de grande interesse para as políticas públicas no Brasil: educação e segurança.
Advogado formado pela Faculdade de Direito da USP, com mestrado em Gestão Pública pela FGV-SP, ele é atualmente diretor executivo da Fundação Lemann e presidente do conselho do Instituto Sou da Paz, do qual foi fundador. Também é membro dos conselhos da Fundação Roberto Marinho e do GIFE – Grupo de Institutos, Fundações e Empresas.
No passado, trabalhou no Ministério da Justiça e integrou uma série de conselhos de política de segurança pública. Ainda participou de um programa de desenvolvimento de lideranças na Universidade de Yale e foi visiting scholar no Human Rights Advocates Program da Universidade Columbia. Conheça mais sobre a trajetória de Denis:
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Sou da Paz
Desde a faculdade, Denis sempre teve bastante envolvimento com questões de interesse público. Foi inclusive presidente do Centro Acadêmico do seu curso. Em 1997, organizou com outros estudantes a primeira campanha da sociedade civil pelo desarmamento no Brasil. Essa campanha, chamada “Sou da Paz”, foi o embrião do instituto que ele fundaria dois anos depois.
O que começou como um projeto universitário ganhou projeção internacional e tem pautado diversas políticas Brasil afora. Hoje, as ações da organização são vistas como referência na prevenção da violência, na melhora da polícia e no controle do comércio e uso de armas. Ela é reconhecida, por exemplo, por ter reduzido sensivelmente os homicídios na cidade de São Paulo nos últimos anos – entre 2003 e 2013, o número caiu 81%.
Denis esteve à frente do instituto por 12 anos e destaca a liberdade que tinha à frente de uma organização não governamental. “A gente tinha uma possibilidade de experimentação maior, de criar coisas que o Estado muitas vezes está muito engessado para pensar. Mas se você não imagina como isso pode dialogar com as políticas públicas é pouco provável que faça alguma diferença”, diz. Para ganhar escala e multiplicar o impacto, o Sou da Paz sempre apostou em parcerias com o governo.
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Governo federal
Do início da campanha Sou da Paz até a consolidação do instituto, Denis se formou, ganhou uma bolsa para participar de um programa de direitos humanos para jovens ativistas na Universidade de Columbia, em Nova York, e ainda passou por um cargo no governo federal. Sobre a experiência em Brasília, ele conta: “Foi muito interessante conhecer um pouco da magnitude do setor público”.
Entre 1999 e 2000, Denis foi assessor especial e chefe de gabinete do Ministro da Justiça. À época, ajudou a aprovar no Congresso o Estatuto do Desarmamento. “Era muito jovem e já tinha uma responsabilidade muito grande lá dentro, me sentia relevante”, conta. “Existe um mito de que no governo se trabalha pouco ou que quem vai para o setor público é porque não encontrou espaço no setor privado. Não é bem assim. As questões mais complexas estão na esfera pública. É muito difícil, por exemplo, melhorar a educação de um país. Para trabalhar com isso tem que ser bom.”
Para ele, a sociedade só vai resolver seus problemas na medida em que valorizar as pessoas que escolhem dedicar suas carreiras às causas públicas. “Se a gente quer enfrentar os problemas do Brasil de verdade, precisa trazer as melhores cabeças para atuar no setor público ou junto dele. Acho que estamos indo nessa direção”, diz.
Fundação Lemann
Há três anos à frente da Fundação Lemann, é lá que Denis investe a maior parte de seu tempo hoje, dividindo os compromissos de diretor com viagens a diversos países pesquisando tecnologias e práticas inovadoras na área da educação. A organização sem fins lucrativos, fundada em 2002 pelo empresário Jorge Paulo Lemann, tem como objetivo melhorar a qualidade do aprendizado dos alunos brasileiros e formar uma rede de líderes transformadores.
Para tanto, ela possui um programa de bolsas de estudos – chamado Lemann Fellowship – para áreas estratégicas como educação e políticas públicas, fomentando talentos dispostos a transformar a realidade brasileira; apoia programas do governo e da inciativa privada que oferecem ajuda financeira a jovens que querem estudar no exterior; incentiva o desenvolvimento de políticas públicas de impacto na educação por meio de apoio a pesquisas, plataformas e publicações; também desenvolve projetos para a capacitação de líderes educacionais e professores por meio de seminários, cursos e programa de talentos. Tudo isso porque acredita que para haver educação de qualidade no Brasil é preciso ter bons gestores no setor.
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Debate público
Em cada uma das instituições em que trabalhou, Denis sempre teve momentos de interlocução com o Congresso para advogar em defesa das causas da segurança, sempre que circulavam projetos dessa temática.
“É impossível que os congressistas tenham conhecimento aprofundado sobre todas as questões que são discutidas ali, e a imensa maioria vota contra ou a favor de um projeto sem ter informações suficientes sobre o assunto. Mas há muito espaço para quem quer dialogar, construir políticas públicas, contribuir tecnicamente para o debate, seja a partir da academia, da sociedade civil ou do próprio governo”, diz.
O balanço final de quem transitou entre governo e organizações do terceiro setor é bastante positivo. “Hoje eu comparo a minha vida com a de muita gente que se formou comigo e está atuando em outras áreas. Tenho a certeza de que a satisfação pessoal que tiro do meu trabalho não podia ser maior.”
Esta reportagem faz parte da seção Explore, que reúne uma série de conteúdos exclusivos sobre carreira. Nela, explicamos como funciona, como é na prática e como entrar em diversas indústrias e funções. Nosso objetivo é te dar algumas coordenadas para você ter uma ideia mais real do que vai encontrar no dia a dia de trabalho em diferentes áreas de atuação.