Seis passos para (finalmente) parar de se comparar

Vasilis Caravitis/Unsplash

Você já se pegou rolando o feed do Instagram, se sentindo mal sem nem saber por quê? Já olhou para o sucesso de alguém e pensou, mesmo que inconscientemente: “Eu deveria estar nesse lugar”? A comparação, esse hábito quase automático, é uma armadilha silenciosa que mina nossa autoestima, nosso bem-estar emocional e até mesmo nossa identidade.

A terapeuta Emma McAdam, criadora do canal Therapy in a Nutshell, vê isso com frequência em seu consultório, como relata em um de seus vídeos: “As pessoas chegam se sentindo péssimas consigo mesmas e, quando investigamos isso, elas podem nem perceber, mas é porque estão se comparando com os outros. É por isso que sentem que nunca são boas o suficiente”, explica. Segundo ela, a comparação contribui para uma lista preocupante de problemas de saúde mental: transtornos alimentares, depressão, ansiedade, insatisfação corporal, baixa autoestima, perfeccionismo, narcisismo e até ansiedade social.

A questão é que a comparação não é só injusta, ela é irreal. “Seu cérebro não está mostrando a verdade; está apenas mostrando o que confirma suas crenças”, diz McAdam. Isso significa que, inconscientemente, filtramos informações para reforçar ideias distorcidas sobre nós mesmos. E assim, reforçamos a sensação de inadequação.

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Além disso, ela aponta um efeito sutil e corrosivo da comparação: a terceirização da identidade. “Você está terceirizando sua identidade. Seu senso de autoestima parece fora de controle porque você o baseia em coisas externas a você.” Isso nos torna emocionalmente dependentes de fatores que não podemos controlar, como aparência, validação social ou conquistas alheias, e nos afasta do que realmente importa: nossa integridade e valores.

O que torna a comparação tão traiçoeira?

Dean Furness, atleta paralímpico e palestrante do TEDx, viveu a questão da comparação de forma radical e profundamente transformadora. Após um acidente que o deixou paraplégico, ele precisou redefinir completamente sua identidade física e emocional.

“Tudo o que eu havia aprendido e sabia sobre minha altura, minha força, meu equilíbrio e minha mobilidade foi destruído; minha média pessoal inteira foi redefinida”, conta. No início, ele se viu preso em uma comparação dolorosa com quem ele era antes. “Fiquei bastante frustrado”, admite. Mas então veio o insight: “Eu quase tive que esquecer a pessoa que fui antes e as coisas que era capaz de fazer antes. Eu quase tive que fingir que nunca fui eu.”

Durante a reabilitação, Furness percebeu que até mesmo se comparar com outras pessoas na mesma situação era prejudicial. “Descobri que não podia tentar acompanhar ou definir o ritmo com eles também. Me restou uma escolha só: focar em quem eu era naquele momento e onde eu precisava chegar.”

Essa mudança de perspectiva o levou a uma prática poderosa: medir o próprio progresso com base apenas em si mesmo: “Ao me preparar para maratonas, eu simplesmente queria ser tão bom ou tão rápido quanto era no dia anterior… Eu realmente criei essa média para mim e tentei construir sobre isso o máximo que pude.”

Furness ainda alerta para o ciclo interminável da comparação, mesmo depois de conquistas significativas: “Conheci os melhores atletas do mundo e, por um momento, caí de volta na armadilha de me comparar. Mas logo percebi: eles não se importavam com a minha média, e eu havia esquecido a deles”, contou.

Sua conclusão é clara: “Concentre-se em você em vez de nos outros, e aposto que você pode vencer esses desafios e realmente começar a realizar muitas coisas ótimas.”

Como sair da armadilha da comparação?

Parar de se comparar não significa deixar de se inspirar pelos outros ou abandonar suas metas. É sobre reorientar o foco. A seguir, algumas estratégias práticas:

1. Reconheça seu valor 

A base para qualquer mudança duradoura é entender que o seu valor não depende do desempenho ou da aprovação externa. Você não precisa ser melhor do que ninguém para ser digno dos seus sonhos. Seu potencial está ali simplesmente por você existir, e a sua vida pode não ser linear, assim como a de ninguém é.  Todos passamos por altos e baixos, e ao olharmos para o “alto” de alguém , esquecemos que essa pessoa ne sempre esteve ali. Essa verdade, quando absorvida, reduz a urgência de provar constantemente algo a si mesmo ou aos outros.

2. Desvie o foco para seus valores e integridade

A comparação te diz quem você deveria ser. Seus valores dizem quem você realmente é. Quando se pegar comparando, pergunte: “O que isso revela sobre o que eu realmente valorizo?”. Talvez você valorize criatividade, liberdade, autenticidade, equilíbrio. Foque nisso. Direcione sua energia para metas alinhadas com seus princípios, e não com os filtros alheios.

3. Capture e desafie pensamentos distorcidos

Muitas comparações são alimentadas por interpretações erradas da realidade. É essencial aprender a identificar esses pensamentos e desafiá-los. Frases como “Eu não sou suficiente”, “Ela tem tudo” ou “Estou ficando para trás” raramente resistem à análise lógica. Questione: Essa comparação é justa? Eu conheço toda a história dessa pessoa? Pensamentos são apenas pensamentos, e nem sempre dizem a verdade.

4. Adote uma mentalidade de abundância

A comparação geralmente parte de uma visão de mundo baseada na escassez — a ideia de que só existe uma quantidade de sucesso limitada, suficiente para alguns. Mas isso não é verdade. O sucesso é múltiplo e diverso. Existe espaço para todos brilharem, cada um à sua maneira. Quando você começa a ver a vida como uma colaboração, e não uma competição, começa a sentir menos medo de errar e mais liberdade para ser autêntico.

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5. Mude da competição para a conexão

Ficar se comparando com frequência cria distanciamento: você se sente inferior ou superior — e, em ambos os casos, isso afasta. Mas quando você abandona a necessidade de medir valor com base nos outros, abre espaço para conexões genuínas. É aí que nascem os vínculos mais saudáveis, os relacionamentos mais verdadeiros e uma autoestima baseada em pertencimento, não em performance.

6. Reduza a exposição a gatilhos

Hoje, um dos maiores fomentadores da comparação são as redes sociais. Estamos constantemente expostos a versões editadas e idealizadas da vida alheia. Seja seletivo. Faça uma “faxina digital”: deixe de seguir contas que só te trazem inveja, inadequação ou culpa. E aumente o contato com conteúdos que promovem autenticidade, sejam transparentes com a própria vulnerabilidade e falem sobre crescimento real.

O caminho para a liberdade emocional

Romper com o hábito da comparação exige prática, paciência e autocompaixão. Mas é possível.

Como Emma McAdam afirma, “quando você para de comparar e começa a se conectar, você recupera o controle da sua identidade”. E, como mostrou Dean Furness, cada passo rumo à sua própria média pessoal é um passo em direção ao bem-estar e à realização, não à perfeição.

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