Criticar o governo e os órgãos públicos é rotina para muitos. Mas será que essas pessoas já pensaram que poderiam contribuir para melhorar a realidade do setor público do país? Esse foi o caminho escolhido por Joice Toyota, bolsista da Fundação Estudar e uma das criadoras do Vetor Brasil, que recruta e seleciona trainees para trabalhar no governo. Depois de estudar em escola pública, ela resolveu colocar seu talento para transformar a educação (e muitos outros setores) no país.
Formada em Engenharia Elétrica na Escola Politécnica da USP, Joice escolheu a área de exatas pela facilidade em lidar com os números. “Desde muito pequena tinha facilidade em matemática e lógica e também tive um professor que me incentivou a cursar Engenharia. Fiz esse curso muito pela curiosidade por saber como as coisas funcionavam. Conhecia muito pouco o mercado de trabalho quando fiz essa opção”, lembra-se.
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Na universidade teve contato com o universo das empresas juniores e viu que, além dos números, também tinha talento para lidar com pessoas. “Trabalhei e fui presidente da federação estadual de empresas juniores e ajudei a criar a Brasil Junior, entidade nacional. Percebi que gostava muito mais do lado de gerenciar pessoas e projetos do que apenas números e isso foi me chamando a atenção aos poucos”, afirma ela.
No momento em que pegou o seu diploma, já sabia que não queria trabalhar com Engenharia e optou por ajudar a mudar uma realidade que fazia parte de sua história. “Estudei em escola pública no ensino fundamental e via as dificuldades do ensino público no país. Sempre tive vontade de trabalhar com educação para ajudar a transformar isso”, explica.
Assim como acontece com muitos engenheiros formados, Joice acabou passando por duas consultorias, onde foi possível se aproximar do sonho de trabalhar com educação em um projeto no Estado do Amazonas. “A consultoria em que eu estava trabalhando estava fazendo um projeto de educação no Amazonas. Seria confortável, estaria com a estrutura da consultoria e desenvolvendo um projeto nos moldes como eu estava querendo, com educação. Passei um ano e meio morando e trabalhando em Manaus e percebi que eu não sonhava em trabalhar com consultoria, não era aquilo que eu queria”, lembra.
Setor público Depois de retornar do Norte do país, Joice recebeu uma proposta de trabalho na Secretaria de Educação do Estado de Goiás. “Conhecia o Secretário de Educação, Thiago Peixoto, e ele me fez uma proposta para trabalhar lá, com um salário bem abaixo do que eu ganhava na consultoria. Aceitei e não me arrependo. Trabalhar no Estado foi uma das decisões mais acertadas na minha carreira. No setor público o seu trabalho impacta muita gente, a responsabilidade é enorme. Tive a oportunidade de fazer parte de uma grande reforma educacional no Estado (entre 2012 a 2014), considerada uma das mais bem-sucedidas do país”, afirma.
Mas esse período no setor público não se estenderia muito, pois Joice foi aprovada para fazer mestrado na concorrida Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, com bolsa da Fundação Estudar. “Aprendi muitas coisas morando fora do país. Estava estudando no Vale do Silício, convivendo diariamente com toda aquela cultura empreendedora e aquilo me empolgava. Percebi que havia uma oportunidade no mercado na qual eu podia trabalhar: de um lado, havia muitas pessoas que queriam trabalhar com impacto social em grande escala e, do outro, havia muitas equipes no setor púbico que precisavam desses profissionais e tinham dificuldades de encontrar. Havia uma lacuna entre esses dois grupos e eu poderia ajudar a aproximá-los com minha experiência profissional”.
Nesse momento, ao lado de José Frederico (que também estudava fora do país), Joice participou da criação da Vetor Brasil, com o objetivo de selecionar jovens talentos e alocá-los em governos, de forma a criar uma experiência única de implementação de políticas públicas e de desenvolvimento profissional e pessoal.
Nessa fase empreendedora, Joice diz estar realizada com o trabalho no Vetor Brasil. “Sou muito mais feliz atualmente. Adorava consultoria, conheci pessoas incríveis e gostava do trabalho. Mas trabalhar com propósito é diferente. Agora, quando saio às duas da manhã de uma reunião, acho o máximo, pois estou resolvendo algo importante e que eu me propus a fazer. Antes não era bem assim. Também trabalho muito com jovens e a energia deles acaba me contagiando”, afirma.
Quem pensa que as mudanças profissionais na vida de Joice são pautadas pelo dinheiro se engana. “Tenho um salário que corresponde a cerca de um quarto do que eu ganharia na consultoria agora. Na verdade, não tenho muita perspectiva de aumentar o meu salário nesse momento. Não faço isso pela questão financeira, mas por tentar criar algo importante, fazer contatos e desenvolver habilidades. Essa é uma decisão que se toma em família. Meu marido topou essa decisão, resolvemos viver de um jeito mais simples e somos felizes dessa forma”.
Para aqueles que possuem medo de arriscar e mudar seus ares profissionais, ela aconselha. “Acho um grande desperdício ver pessoas infelizes no trabalho e, ao mesmo tempo, capacitadas. Procuro sempre ser otimista. Digo para elas: ‘se der errado, você começa novamente, tem um currículo legal e vai ser aceita no mercado. Mas, pelo menos tente. Corra o risco de dar certo, não de dar errado”, finaliza.