Você já pensou sobre o que faz as pessoas que se destacam em um certo campo – ou que possuem uma habilidade fora do comum – têm de diferente das outras? A psicóloga Angela Duckworth foi além do “pensar” e dedicou parte da sua carreira acadêmica a entender, de fato, o que as diferencia.
Parte das suas principais descobertas sobre o tema, ela detalha no livro Grit (em português, “Garra: o poder da paixão e da perseverança”), que leva o nome a característica-chave, segundo ela, para entender essas pessoas e seu sucesso.
“Não importa o domínio, os altamente bem-sucedidos têm uma espécie de determinação feroz (…) É essa combinação de
paixão e perseverança que faz deles grandes realizadores. Em uma palavra, eles têm garra”, explica ela.
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Esforço, e não talento, é o segredo
“Se enfatizarmos demais o talento, subestimamos todo o resto.”
Não que o talento seja um problema, é só que apontar ele como justificativa em toda ocasião em que alguém demonstrar enorme habilidade é simplificar demais. E, pior: ignorar o fato de que “a grandeza é factível” – ou seja, é completamente possível alcançá-la.
Existe um fator genético que influencia a existência – ou não – de traços de garra na personalidade. Mas isso é o que acontece com todos os traços psicológicos, e isso não é a única coisa que os afeta. De acordo com Duckworth, a experiência é muito importante. “A taxa com que desenvolvemos qualquer habilidade é também, crucialmente, uma função da experiência”, esclarece ela.
A mesma mentalidade que responsabiliza grandes habilidades ao talento – em consequência, torna impotentes os que não o têm – é também responsável, muitas vezes, por atribuir apenas a consequências externas o que dá errado. Conhecido como locus externo – e tema de outra matéria do Na Prática – na medida em que tira da mão de cada um a responsabilidade, também tira o poder de agir e de mudar.
4 aspectos que pavimentam o caminho
Tendo estudado a fundo o tema, Duckworth identificou investigou também as razões que fazem as pessoas – os com “menos garra” – desistirem de seus objetivos. O que ela destaca sobre o assunto, de início, é que as justificativas clássicas “tenho preguiça”, “não tenho capacidade para persistir” nunca são a verdade. Em vez disso, o real motivo muitas vezes se parece com as alternativas seguintes:
- “Estou entediado.”
- “[Isso] não vale o esforço.”
- “Isso não é importante para mim.”
- “Não consigo fazer isso. É melhor, então, desistir.”
E é aqui que está a diferença em relação aos que têm alto nível de grit: eles não têm (mais) esse tipo de pensamento.
Ainda na tentativa de entender melhor como essas pessoas funcionam, a especialista mapeou quatro “ativos psicológicos” que têm em comum.
#1 Interesse
Ou paixão pelo que fazem – o sentimento desencadeado quando se aprecia intrinsecamente a atividade.
#2 Capacidade de praticar
“Uma forma de perseverança é a disciplina diária de tentar fazer as coisas melhor do que fizemos ontem”, escreve Duckworth em Grit.
#3 Propósito
O que amadurece a paixão. É o sentir que seu trabalho realmente importa.
#4 Esperança
Segundo a autora, a esperança é decisiva do começo ao fim do processo. Nesse caso, ela significa um constante esforço em continuar, mesmo quando as coisas estão difíceis ou há muitas dúvidas.
Quebrando a qualidade de garra nesses quatro pontos, ela mostra o quanto essa característica é passível de ser fomentada. Você pode descobrir, desenvolver e aprofundar seus interesses, treinar a disciplina para praticar, entender seu propósito e exercitar a persistência com base na esperança de alcançar.
Descubra seu nível de grit
Como o primeiro passo da mudança da maioria dos cenários, é interessante entender onde você está. Isso é, inclusive, indicado pela especialista, que até desenvolveu uma avaliação para identificar o nível de influência que esse traço tem na sua personalidade e decisões. Chamado de Grit Scale, o teste é gratuito e pode ser acessado pelo site de Duckworth, aqui. Mas, atenção: a veracidade de seu resultado depende da honestidade das respostas.