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Cris Correa compartilha seus principais aprendizados ao escrever biografias de grandes empresários brasileiros

jornalista Cris Correa Autora de Sonho Grande

Podemos dizer que, ao longo de sua carreira, a jornalista Cris Correa, autora de Sonho Grande, acumulou um bom conhecimento sobre liderança e sucesso. Depois de ser diretora executiva da revista Exame, uma das principais publicações de negócios do país, ela dedicou-se a escrever a história dos sócios Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles.

Publicada em 2013, Sonho Grande já vendeu mais de 300 mil exemplares e costuma ser citado na bibliografia de cursos de administração. Para escrever o livro, passou incontáveis horas pesquisando os modos do trio e conversando com eles próprios e outros executivos relacionados a eles, como o investidor Warren Buffet.

Dois anos depois, lançou Abilio, que narra a trajetória de Abilio Diniz, um dos mais destacados empresários brasileiros, responsável pela construção do império da rede varejista Pão de Açúcar. Mais uma vez, passou tempo suficiente a seu lado para aprender suas lições.

Assista ao bate-papo do Na Prática com Jorge Paulo Lemann

Hoje, durante a HSM Expo, havia pessoas em pé do lado de fora do auditório – lotado – em que ela compartilhou os principais aprendizados do tempo que passou com esses executivos. Nas trajetórias dos três empresários por trás do grupo 3G (dono da AB Inbev, Burger King e Kraft Heinz) e do atual presidente de conselho da BRF, ela enxerga cinco grandes pontos em comum. “Não é uma receita para o sucesso, mas é o que deu muito certo para esses caras”, ela adianta. Veja a seguir:

1. Ambição sem limites

“Aqui no Brasil, a gente tem vergonha de ser ambicioso, mas esses caras foram ambiciosos desde o começo”, opina a jornalista. Ela reconhece que, quando começou a escrever seu primeiro livro, até desconfiou da máxima do empresário Jorge Paulo Lemann de que ‘sonhar grande e sonhar pequeno dá o mesmo trabalho’. “Parecia um pouco autoajuda”. Mas, com o tempo, percebeu não era.

“Para eles não existe linha de chegada”, explica Cris. “Sempre dá para fazer mais, melhor, e de preferência com menos.” Ela cita como exemplo a trajetória do grupo AB Inbev, que hoje está prestes a produzir uma a cada três cervejas consumidas no mundo. A história começou com a compra da Bhrama por Lemann e seus sócios, seguiu-se da compra de sua principal rival no país, a Antartica – formando a Ambev – e depois viu uma investida dos brasileiros sobre as maiores cervejarias do mundo, culminando na compra da SAB Miller, concluída esse ano. “Você acha que eles querem parar por aí? Eu sei que não”, prevê.

Leia também: O próximo sonho grande de Jorge Paulo Lemann

Segundo ela, a mesma intensidade de ambição está presente em Abilio. Foi seu pai, um imigrante português, que fundou a doceria Pão de Açúcar. Porém, na mão de Abilio, a empresa transformou-se em uma rede estadual de supermercados, depois nacional, e então na maior varejista do país, durante os anos 1990. “Ele não estaria satisfeito com menos que isso.”

Para os quatro, essa ambição não pode ser simplesmente motivada por dinheiro. Todos citados nas listas de brasileiros mais ricos do país, é seguro dizer que possuem dinheiro suficiente para sustentar gerações. “O que está por trás dessa ambição sem limites não é o dinheiro, é fazer coisas grandes e realmente importantes”, conclui.

Quando vendeu o Pão de Açúcar para o grupo francês Casino, Abilio – de acordo com sua biógrafa – nem pensou em pendurar as chuteiras, como muitos o fariam. Comprou parte da BRF e do Carrefour, principal rival de sua antiga rede, e recusa-se a sair de jogo.

2. Meritocracia é lei

Todas as empresas do grupo 3G são marcadas por uma forte cultura empresarial, que tem entre seus pontos principais a meritocracia. Não há espaço para paternalismos. “Quem entrega vai ter todas as oportunidades, mas quem não entrega a porta de fora é o caminho”, resume Cris. Não existem promoções por apadrinhamento, simpatia ou tempo de casa. Os salários fixo são, muitas vezes, na média ou abaixo dos valores praticados pelo mercado, pois as verdadeiras oportunidades de retorno financeiro estão na remuneração variável – o famoso bônus, atrelado sempre a metas ambiciosas.

3. Disciplina e foco

Do estilo de trabalho aos hábitos pessoais, os quatro empresários costumam levar vidas bastante disciplinadas. Praticam esportes com regularidade – Lemann, inclusive, chegou a disputar o Winbledon como tenista – e são avessos a excessos. Em conversa com o Na Prática, em 2015, ele foi categórico: “Não acredito em moleza”.

4. Controle obsessivo de custos

À jornalista, Beto Sicupira repetiu uma de suas frases clássicas: “Custo é como unha: precisa cortar sempre”. Quando ela entrevistava os executivos da Ambev, jamais ofereceram pagar seu estacionamento ou qualquer tipo de mimo; internamente, esse tipo de custo também é rechaçado. Não tem despesa, por menor que seja, que não possa ser cortada. Presidentes e diretores viajam de classe econômica e, muitas vezes, dividem o quarto quando ficam em hotel. É impensável a ideia de motoristas de plantão ou outras mordomias praticadas por outras empresas.

Durante as pesquisas para Sonho Grande, chegou a ela uma história de quando Carlos Brito, na época presidente da Ambev (então maior empresa brasileira), pediu a seus colegas que esperassem um pouco para se encontrar durante uma viagem pois estava terminando de passar sua camisa do quarto do hotel. Os cerca de dez dólares que o serviço provavelmente custaria eram, também, dignos de economia. Todas as empresas do grupo 3G tem o desafio de, ano a anos, reduzirem seus custos – os grandes e os pequenos.

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5. Crise? Que crise?

Como essas pessoas que chegaram ao topo lidam com situações adversas, tanto internas como conjunturais? Quando afastou-se do Pão de Açúcar por discordâncias entre os sócios (e familiares) que controlavam o grupo, Abilio viu a empresa passar por um de seus piores momentos. Estava cogitando falência quando ele retomou a liderança, e para lidar com a situação crítica ele adotou um lema: “Corte, concentre, simplifique”. Tudo que não era essencial foi cortado, e adiou-se todo pagamento possível. “A estratégia, embora dolorosa, era fazer o que desse para tirar o nariz debaixo d’água”, explica Cris. Mas não havia tempo para lamentações. “Com ele não tem choradeira, é vai lá e faz”.

Ela conclui sua apresentação com uma constatação: “Essas pessoas não são super-herois. Elas têm angústia, medo, depressão. Tomam remédios. São pessoas… A diferença é que encaram o desafio de frente!”

 

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