Ser o executivo-chefe de uma empresa, não importa se de grande ou pequeno porte, não é tarefa fácil. A pessoa é, no fim do dia, a responsável pelas decisões e consequências, boas ou ruins, que esse cargo exige.
E como qualquer bom CEO diria, melhorar é sempre possível.
Pensando nisso, o NaPrática.org buscou quatro Líderes Estudar que atualmente ocupam esse posto para falar sobre suas experiências e compartilhar conselhos úteis para qualquer um que queira melhorar suas habilidades de liderança.
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Marcelo Soares, CEO da Som Livre e do Sistema Globo de Rádio
Você sempre quis se tornar CEO?
No início da carreira, acho que todo executivo imagina que pode virar CEO, da mesma maneira que um menino acha que vai virar astronauta ou jogador de futebol. Com poucos anos de trabalho, eu tinha certeza que não seria CEO. Sempre fui muito dedicado, mas com pouca inclinação para cultivar os relacionamentos corporativos que percebi serem necessários para um crescimento rápido.
Lidei com isso de maneira muito tranquila e vivi muitos anos satisfeito com fazer um bom trabalho na posição que eu tinha, com apenas uma ambição moderada de crescimento. Entrei na Globo em 2004, em uma posição na Globo.com, e desenvolvi um gosto grande por trabalhar com conteúdo, mídia e entretenimento. Resolvi me comprometer com essa linha de carreira.
Como sempre fui apaixonado por música, em 2007 busquei uma posição na Som Livre, gravadora do Grupo Globo. Uma sequência feliz de acontecimentos me fez CEO da Som Livre e do Sistema Globo de Rádio. Nunca imaginei que isso poderia acontecer.
Como é sua rotina?
Hoje estou à frente de duas empresas com sedes muito distantes uma da outra. Divido a semana entre as duas sem uma rotina clara. Há muitas reuniões de acompanhamento com a diretoria, muito relacionamento com artistas e empresários de artistas, enorme carga de emails diários para dar conta e, agora com filhos pequenos, vou a menos shows e eventos do que deveria ir.
Quantas pessoas trabalham na sua empresa?
São 600 pessoas entre as duas empresas.
Que habilidades e competências você mais usa no dia a dia?
A comunicação, sem sombra de dúvidas. E raciocínio lógico em cima de leitura e interpretação de cenários competitivos e desafios críticos.
Qual foi a parte mais surpreendente do trabalho para você?
O mais surpreendente foi descobrir o quanto do meu tempo precisa ser dedicado a conversar com pessoas. Não só para dar direcionamentos, mas muitas vezes simplesmente para ouvir o que as pessoas têm a dizer.
O que gostaria que tivessem te dito sobre ser CEO?
O que eu gostaria que tivessem me dito, eu li mais de uma vez: ser CEO, ser chefe, pode ser realmente uma experiência solitária.
E que conselho daria para jovens que sonham em se tornar CEOs um dia?
Sempre achei que os atalhos não valiam a pena e hoje acredito nisso mais do que nunca. Cada coisa vem ao seu tempo e o “como” é tão importante quanto o “o que”. Dentro desse “como”, é importante que o profissional entenda e respeite os seus limites, que não abandone sua vida pessoal.
O sacrifício da vida pessoal que é tantas vezes valorizado pelas empresas tem um preço real na sua saúde, no seu relacionamento com sua família e com seus amigos, coisas que de fato não voltam. Avalie se vale a pena pagar esse preço. É possível crescer e se realizar profissionalmente com equilíbrio.
Rodrigo Paolucci, ex-CEO da YContent
Você sempre quis se tornar CEO?
Ser CEO foi a consequência das minhas atitudes e não um objetivo em primeira instância. Eu quis resolver problemas e criar uma solução que eu acreditava ser compatível com uma oportunidade grande.
Como era sua rotina?
Gosto de me programar para a semana e ajustar a agenda conforme necessidade. Preciso conversar com todas as áreas semanalmente e reservo blocos de horários semanais para ter certeza que consegui cobrir as principais métricas operacionais e objetivos da semana.
Que habilidades e competências você mais usa no dia a dia?
Comunicação e capacidade de negociação. Comunicação é fundamental para alinhar todos com a mesma visão e ter capacidade de mobilizar pessoas para execução de cruciais para a empresa.
Qual foi a parte mais surpreendente do trabalho para você?
Quando sugestões e soluções partem de pessoas que não estão relacionadas diretamente com o assunto em discussão. Muitas vezes as melhores ideias surgem das pessoas que não estão imersas na situação e conseguem trazer uma visão isenta. Além disso, me fascinam o comprometimento com o objetivo maior da empresa e a pró-atividade em ajudar o negócio a crescer que elas têm, independente de essa ser sua função principal.
O que gostaria que tivessem te dito sobre ser CEO?
CEO precisa ter ouvido aguçado. Precisa ouvir o cliente, o colaborador, o mercado. Um CEO que não está disposto a ouvir dificilmente vai prosperar.
Se pudesse, que conselho profissional daria para si mesmo quando saiu da faculdade?
Pense mais, planeje mais, defina melhor o problema. Depois ataque-o com toda a energia que tiver.
E que conselho daria para jovens que sonham em se tornar CEOs um dia?
Pense sempre em resolver problemas, não importa se você está no nível mais alto ou mais baixo da empresa. O problema do cliente é o seu problema.
Marco Simonovitch, CEO da Garantia Certificados Digitais
Você sempre quis se tornar CEO?
Eu sempre quis empreender. Quando você empreende, sobretudo com poucos recursos, é o CEO simplesmente porque alguém tem que coordenar e motivar.
Como é sua rotina?
Estou tentando sair da rotina mais operacional e preparando um plano de expansão para buscar recursos para o crescimento da Garantia Certificados Digitais. Como comecei minha empresa do zero, já fiz de tudo. Hoje tento enxergar o futuro e encontrar maneiras de chegar lá.
Quantas pessoas trabalham na sua empresa?
São 10 pessoas, com aumento para 20 nos próximos seis meses.
Que habilidades e competências você mais usa no dia a dia?
Provavelmente a maior habilidade é imaginar e tentar projetar o futuro. Meu gosto por tecnologia e minha visão de sistemas também me ajudam.
Qual foi a parte mais surpreendente do trabalho para você?
Um belo dia, quando comecei as atividades de certificação digital, me peguei pensando: estou ganhando dinheiro para fazer o que gosto.
O que gostaria que tivessem te dito sobre ser CEO?
Que tive um impacto positivo sobre a vida das pessoas ao meu redor.
Se pudesse, que conselho profissional daria para si mesmo quando saiu da faculdade?
Conheça o mundo e trabalhe em empresas que acrescentem à sua experiência para depois empreender. Sem dúvida não teria ido trabalhar na empresa da família.
E que conselho daria para jovens que sonham em se tornar CEOs um dia?
– Se for possível, escolha um ramo de trabalho ou atividade que lhe dê prazer
– Caminhos aparentemente “mais fáceis” podem ser armadilhas
André Merlino, CEO da Sapura Navegação Marítima
Você sempre quis se tornar CEO?
Bem no início da carreira é difícil projetar isso tão claramente, até porque me formei em uma área bem técnica (Engenharia Civil) e a gente normalmente tem o sonho de ser engenheiro de fato. Com o tempo e as oportunidades que foram aparecendo e a forma como fui moldando a carreira, aí sim se tornou um objetivo concreto e depois uma meta pessoal.
Como é sua rotina?
De uma forma bem resumida, cada dia é um dia, mas sempre muito dinâmico e superinteressante. Adoro o que faço e principalmente a possibilidade de lidar com diversos temas em um único dia. Estar olhando para o desenvolvimento de gente e no minuto seguinte ter que discutir um problema operacional ou vice-versa me permite aprender sempre e também utilizar todos os conceitos de gestão que consolidei ao longo do tempo. Ser responsável pela liderança de um projeto, empresa, que afeta diretamente a vida de centenas de pessoas é muita responsabilidade, mas muito motivador.
Quantas pessoas trabalham na sua empresa?
São aproximadamente 1.000 funcionários diretos.
Que habilidades e competências você mais usa no dia a dia?
Planejamento, raciocínio analítico, gestão de gente, tomada de decisão, liderança, comunicação, venda – em resumo, habilidades de gestão.
Qual foi a parte mais surpreendente do trabalho para você?
Pergunta difícil. Não saberia listar um ponto específico. Todos os dias apresentam um problema ou uma situação nova que temos eu aprender como lidar. Talvez o mais surpreendente, ou melhor, desafiador, é perceber que de alguma forma as pessoas esperam que as soluções mais complexas passem por você – às vezes, em temas tão específicos que não dominamos profundamente e às vezes em situações tão banais ou triviais mas que uma decisão errada pode gerar um grande problema futuro.
O que gostaria que tivessem te dito sobre ser CEO?
Engraçado, nunca tinha me feito essa pergunta. Após pensar alguns minutos aqui, ainda não achei a resposta mais correta. Acho que nunca tive essa expectativa de que me dissessem algo em específico sobre ser um CEO.
Sempre esperei que fossem sinceros comigo e dessem muito feedback, de preferência os mais críticos. Elogios são bons, mas não lido tão bem com eles. Me atraio mais pelas críticas sinceras e diretas. Acho que é isso, a resposta mais adequada pra mim é que esperaria que fossem sinceros comigo.
Se pudesse, que conselho profissional daria para si mesmo quando saiu da faculdade?
Desenvolva mais habilidades genéricas, como oratória, criatividade, memorização, comunicação, etc.
E que conselho daria para jovens que sonham em se tornar CEOs um dia?
Busquem escolher suas referências, anciões, pessoas que irão ajudar a trilhar seu caminho, mesmo que remotamente, através da leitura de biografias, ou acompanhando suas palestras, artigos, etc. É importante também ter aquelas referências mais próximas, gente que sirva de mentor, conselheiro.
Se junte sempre aos melhores e diferentes de você. Eles irão complementar seu perfil de uma forma inacreditável. E cuidem de sua saúde: pratiquem esportes, tenham um hobbie, algo que recupere suas energias. Tem que descobrir a forma de se reenergizar. Isso é fundamental pra manter a disposição.
Ninguém espera um dia triste e desmotivado de um CEO – e acredite, esses dias existem.