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Carreira em educação não está restrita à sala de aula

Sala de aula com carteiras vazias

Pense em uma sala de aula. Pensou? Paredes, carteiras, lápis e papel – quadro negro ou lousa de pincel, tanto faz. Tem sido assim, com poucas variações nessa estrutura, há cerca de 100, 150 anos. Mas acontece que nem só no formato escola+professor+caderno se faz educação, e, em um mundo cada vez mais conectado, cabe também à escola preparar os estudantes para outras habilidades que não se aprendem nos livros. Reflexão, senso crítico, diálogo, liderança… Como ensinar, senão na prática?

Maior nome da educação no Brasil, Paulo Freire já dizia que a aprendizagem acontece quando se aproxima o objeto de estudo da realidade do aluno. E é por isso que experiências alternativas de educação se posicionam tão fortemente como fonte de conhecimento e preparação para uma geração mais independente e conectada com o mundo ao seu redor.

A Sala de Aula é em Todo Lugar A Associação Cidade Escola Aprendiz é uma organização não governamental que trabalha com outras plataformas de educação há 18 anos – o diferencial? Sua plataforma é a cidade. O projeto começou pequeno, na Vila Madalena, em uma iniciativa do jornalista Gilberto Dimenstein. A ideia era fazer experiências comunitárias com crianças e jovens a partir do uso do espaço público, explorando a perspectiva de uma cidade educadora; funcionava como um laboratório comunitário, efervescente de ideias e projetos, e dava os primeiros passos para a estruturação da entidade e de sua gestão.

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Então, o que era uma iniciativa restrita ao bairro passou a ser demandada por outras cidades e universidades. Depois de reconhecido pela UNICEF como uma metodologia inovadora de educação, em 2004, a experiência foi sistematizada no conceito Bairro-Escola, uma proposta de aprendizagem compartilhada que aproxima e articula escolas, comunidades, organizações sociais, empresas e poder público visando o desenvolvimento integral tanto dos indivíduos (especialmente crianças e jovens) quanto do território.

Paula Patrone, Coordenadora Executiva da ONG, explica que este foi o momento de transição entre a estrutura de atendimento direto, focado em comunidades específicas, para uma organização de incidência, que pode replicar metodologias e tecnologia social e aumentar o alcance dos projetos. Internamente, chamaram para si a responsabilidade de reavaliar seu papel e desenvolver metodologias e referências na relação entre cidade, escola e comunidade. “O nosso papel hoje é incidir para que escolas trabalhem em conjunto com o bairro e se tornem territórios educativos”, sintetiza Paula. “Nossa proposta é justamente tirar essa ideia da escola como espaço formal da educação, mostrando que outros atores da sociedade também são agentes educativos”, completa.

Exemplo disso é o Centro de Referencias de Educação Integral, iniciativa do Aprendiz em parceria com 13  organizações não governamentais voltada para a formulação, implementação e aprimoramento de políticas públicas de Educação integral, que possui  uma média de  de 6 mil usuários únicos por dia, totalizando quase dois milhões de páginas vistas desde o seu lançamento, em 2013.

Entre esses outros atores da sociedade, não se pode ignorar o papel e o alcance das novas tecnologias de informação. O Canal reVisão, por exemplo, existe há um ano e já bateu a marca de 600 mil visualizações, produzindo vídeos de conteúdo educacional com foco em ensino médio e pré-vestibular, além de provocações que estimulam a reflexão acerca do próprio sistema educacional e da nossa postura diante do conhecimento.. Estatisticamente, porém, suas “aulas” atingem um público diverso, que vai de 10 a 60 anos, com uma vontade comum: aprender. Segundo Flávio, responsável pedagógico pelo canal, isso se deve à opção da equipe por trabalhar com conhecimento, e não com videoaulas preparatórias. “Não estamos pensando somente em dar conta de conteúdo – queremos promover discussões interessantes e entregar um produto de qualidade”, afirma.

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Antes de ir trabalhar em uma plataforma online, Flávio deu aula por mais de dez anos. Em reuniões pedagógicas, se cansava de ouvir avaliações de desempenho com base apenas em um critério. “Eu, como professor de educação física, observava os alunos por outro ponto de vista. Aquele cara podia não ser bom em matemática, mas era generoso, tinha espírito de equipe, sabia dialogar. As dimensões avaliadas na escola tradicional ainda são muito restritas”, defende. Para ele, a ideia de ir para um canal que pudesse oferecer uma visão mais ampla do aprendizado, respeitando potencialidades e curiosidades diversas, foi muito interessante. Por dois motivos: o tamanho e a força das redes, capaz de alcançar e engajar um número incomparavelmente maior de pessoas; e as possibilidades gigantescas que se abrem com a tecnologia.  “Não tem mais sala de aula – ela está em todo lugar. E as ferramentas estão todas nas nossas mãos”, vibra Flávio.

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