“Eu não sei viver sem sonho grande”, constata o empresário Jorge Paulo Lemann durante o encontro de comemoração dos 25 anos da Fundação Estudar, organização que ele ajudou a fundar. “Os meus primeiros sonhos grandes eram ser campeão de tênis, pegar as melhores ondas, criar a melhor corretora…”, relembra o empresário.
Fazer grande, de fato, é uma constante em sua trajetória, da criação do lendário Banco Garantia – que se manteve durante anos como a instituição de investimentos mais respeitada da América Latina – à formação da maior cervejaria do mundo, a AB Inbev.
Hoje em dia, no entanto, a ambição de Lemann vai em outra direção. “Hoje o meu sonho grande é melhorar a educação no Brasil e ver um país em que todos têm oportunidades de estudar e de chegar lá. É um sonho grande que quero concretizar nos próximos anos, com a Fundação Lemann e a Fundação Estudar.”
Para mudar o país, ele aposta numa fórmula que deu certo em suas empresas: identificar gente talentosa e dar oportunidade para agirem. “O que foi feito nos nossos negócios pode ser feito no Brasil. Hoje existe muita oportunidade para gente jovem fazer parte da política e da governança do país, e espero que esses jovens introduzam nossos princípios de meritocracia, resultados, empreendedorismo”, explica o empresário. “Uma administração mais pragmática e com bom senso poderia melhorar o Brasil enormemente. Essa é minha grande esperança.”
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O papel da Fundação Estudar no sonho grande de Lemann
Em 1991, quando criou a Fundação Estudar junto aos seus sócios Marcel Telles e Beto Sicupira, “a ideia era ajudar uns indivíduos”. Mas o sonho foi ficando grande na medida em que o potencial dessa atuação no campo da educação era percebido pelos executivos. “Depois [a Fundação Estudar] passou a, além de conceder bolsas, transmitir valores e ensinamentos para mais gente, e foi ficando muito maior”, ele conta. Hoje, além do tradicional programa de bolsas, a organização atinge dezenas de milhares de jovens por meio de programas presenciais, e outros milhões em suas iniciativas digitais. “O alcance é muito maior do que eu teria imaginado”.
A vontade do empresário, no entanto, é que a organização ande pelas próprias pernas. “Nosso objetivo sempre foi institucionalizar a Fundação Estudar, que ela funcionasse sem Beto, Marcel e eu. Há alguns anos já estamos afastados do dia a dia, sempre tentando escolher gente boa para tocar a organização”, resume. “Em todos os nossos negócios, o importante foi atrair gente boa e ter um sonho grande”.
Depois de ter algumas das iniciativas empresariais mais bem-sucedidas na história brasileira, sua visão agora é expandir esse modus operandi para além do mundo empresarial. “Minha esperança é que os princípios da Estudar sejam adotados pelo país: meritocracia, pragmatismo, atrair gente boa… E que isso seja combinado com um presidente brasileiro que venha da Fundação Estudar e que chame outras pessoas boas para ajudar.”
‘Nem sempre o sonho grande dá certo’, diz Lemann
“O sonho grande é importante para dar uma direção, mas às vezes o que você imaginou não dá certo”, reconhece o empresário, citando o exemplo do Garantia, que sofreu grandes perdas financeiras com a crise do final dos anos 1990 e acabou sendo vendido ao Credit Suisse. “Eu fundei o banco, trabalhei lá por 27 anos, e a minha ideia era que ele fosse uma instituição permanente, que durasse por muito mais tempo”, conta. “A prova de que um empreendedor é bom não é o volume de dinheiro que ele está ganhando em determinado momento, mas sim se o negócio que ele montou vai sobreviver os próximos 30 ou 50 anos”.
O banco acabou, mas, em sua visão, deixou um legado positivo na cultura empresarial brasileira. E serviu de aprendizado. “O fato de um sonho grande não ter acontecido também me ajudou lá na frente a corrigir o rumo das coisas que estou tentando fazer agora”.
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