O conhecimento tem sido um insumo cada vez mais valorizado e quisto no mercado de trabalho. Tanto é que mesmo o ensino formal (graduação, pós e outras modalidades) não é o suficiente para acompanhar as mudanças do mercado ou mesmo suprir todas as necessidades do profissional de hoje. E é sob esse contexto que a aprendizagem autodirigida ganha espaço.
Potencializada pela internet, essa metodologia não tem mistério: o indivíduo, ao sentir a necessidade de aprender algo, busca por ferramentas e conteúdos e escolhe também a maneira como deseja aprender. Por isso, a aprendizagem autodirigida pode acontecer por meio de plataformas de cursos online, vídeos no YouTube, tutoriais e até podcasts.
Apesar dessa facilidade, uma dificuldade encontrada por muitos profissionais que desejam continuar aprendendo é conciliar os estudos com a própria rotina. Aliás, não é à toa que empresas têm investido recursos na promoção da aprendizagem autônoma de seus colaboradores.
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É o caso da EDP, que tem remodelado sua cultura corporativa e incentivado a busca de novos conhecimentos a seus funcionários. Embora a metodologia seja centrada nas necessidades percebidas individualmente, a empresa de distribuição de energia elétrica dispõe de ferramentas e até uma universidade corporativa a fim de fornecer meios para que o aprendizado aconteça.
“Na EDP, acreditamos que o aprendizado autodirigido deve fazer parte do dia a dia de forma muito fluida. Incentivamos a perspectiva de que ler um artigo, assistir a um tutorial ou a uma palestra, por exemplo, são formas de aprendizado, apesar de muitas vezes não reconhecermos desta forma ou não valorizarmos”, pontua Ana Maia, analista de UX/UI e responsável da Universidade EDP.
O que é aprendizagem autodirigida
Embora pareça uma novidade, a aprendizagem autodirigida existe desde a antiguidade clássica. Ela desempenhou um papel importante na vida de filósofos gregos como Sócrates, Platão e Aristóteles. Outros exemplos históricos de alunos autodirigidos incluem Alexandre, o Grande, Júlio César e Descartes.
Já na modernidade, educadores propuseram um ensino baseado na motivação e no autoconhecimento como combustível. A andragogia (diferente da pedagogia, centra-se no aprendiz adulto) também se refere à aprendizagem autodirigida, tendo sido defendida por nomes como Allen Tough, Malcolm Knowles e Paulo Freire.
Para que possa acontecer, a metodologia baseia-se nos seguintes princípios:
- Necessidade de saber: as pessoas devem entender o porquê de precisarem aprender algo novo e qual será o ganho disso;
- Autoconceito do aprendiz: não se trata de ensino a crianças, por isso o aprendiz é responsável pelas escolhas sobre o que estudar e como;
- Papel da experiência: adultos têm suas vivências como base de seu aprendizado. Assim, é pela própria experiência que o aprendiz se dispõe ou se nega a participar de algum programa de desenvolvimento;
- Orientação para a aprendizagem: há mais engajamento e aprendizado quando o conhecimento oferecido demonstra contexto à realidade do aprendiz e utilidade prática;
- Motivação: existem valores intrínsecos (autoestima, qualidade de vida e etc.) e extrínsecos (oportunidades profissionais, aumento salarial, entre outros) que motivam as pessoas a continuarem se desenvolvendo em diferentes etapas da vida.
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Aprendizagem autodirigida dentro das empresas
Recentemente, o Fórum Econômico Mundial destacou 15 habilidades individuais que estarão em alta no mercado de trabalho até 2025. Atrás somente do pensamento analítico e inovação, aprendizagem ativa e estratégias de aprendizagem ocuparam o segundo lugar do ranking. Afinal, para além do funcionário em constante desenvolvimento, as organizações também se beneficiam.
“Uma empresa que estimula a aprendizagem autodirigida é uma empresa que confia nos colaboradores e os afere mais responsabilidade. Eles se sentem mais empoderados sobre sua própria experiência de aprendizado, são mais seguros sobre seu desempenho e mais proativos sobre os desafios e tendências do mercado”, afirma Ana.
E justamente por isso, esses colaboradores também têm um maior conhecimento sobre onde querem chegar profissionalmente. Não por acaso, essa metodologia também favorece o desenvolvimento de lideranças. Pois, segundo ela, aprender por conta própria os torna mais ágeis nas respostas aos desafios do dia a dia. “A máxima ‘conhecimento é poder’ é verdadeira e os colaboradores que percebem isso se destacam naturalmente, por isso aumentam a probabilidade de serem considerados a cargos de gestão”, revela.
A analista de UX/UI, porém, explica que o ensino promovido nesta metodologia não deve substituir os treinamentos corporativos. Segundo ela, uma forma de aprendizado deve complementar a outra. “Treinamentos corporativos, que são heterodirigidos e formais, são igualmente importantes e vão continuar existindo, mas em equilíbrio com iniciativas autodirigidas, sejam elas formais ou informais.”
O autoaprendizado no novo normal
Ainda, a pandemia tem demandado jogo de cintura por parte das empresas na promoção do autoaprendizado entre seus funcionários. No caso da EDP, com mais da metade de seus colaboradores atuando remotamente, a solução veio por meio de ferramentas digitais e colaborativas.
“Adaptamos encontros semanais e ações offline para o formato digital, com uma oferta consistente de lives sobre temas que variam desde saúde mental, passando por diversidade e negócios. Tudo isso integrado com a Degreed, uma plataforma a serviço da EDP que estimula o aprendizado autodirigido no dia a dia, com curadoria de conteúdos, inteligência artificial e plataforma sociável e intuitiva”, revela.
3 dicas para aplicação da aprendizagem autodirigida nas empresas
Assim como não é difícil para cada um buscar se autodirigir aos novos conhecimentos, para as empresas, a recíproca é verdadeira. A exemplo disso, a analista de UX/UI da EDP ainda revelou três dicas importantes às organizações que desejam promover a aprendizagem autodirigida:
1. Comunicar, comunicar e comunicar
“Uma boa campanha para promover a importância da aprendizagem autodirigida é essencial, principalmente se na pandemia não temos à disposição todos os recursos de antes. Uma identidade visual e lema que sejam facilmente associados à Universidade corporativa, com valores claros e as ações diretamente conectadas a eles… Isso ajuda a mudar a percepção e inspira os colaboradores a pensar sobre aprendizado de forma diferente.”
2. Criar rituais
“Entre as equipes, é fácil instituir pequenos rituais que promovam a aprendizagem autodirigida. Isso pode vir, por exemplo, através de incentivos da gestão de que os colaboradores dediquem 30 minutos do seu dia para aprimorar uma habilidade ou aprender uma nova.”
3. Dar exposição a iniciativas informais
“Quando se toma conhecimento de um colaborador ou equipe que já fez da aprendizagem autodirigida um hábito, é importante jogar luz sobre eles para que toda a empresa conheça e valorize essa boa prática. Isso estimula a conversa sobre aprendizado e expande o aprendizado autodirigido como hábito.”