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Caindo no Brasil: a jornada do jovem Caio Dib pela educação brasileira

Homem de terno falando no microfone

Entre 2013, Caio Dib caiu na estrada. Fez as malas em São Paulo, voou até Belém e desceu de volta de ônibus, parando em 58 cidades ao longo de cinco meses. A viagem acabou virando a organização Caindo no Brasil, que busca iniciativas de educação inspiradoras pelo país e também atua como consultora para empresas e institutos.

Três anos depois da jornada, com uma rede de contatos fortalecida e um livro publicado, Caio garante que encontra novas práticas educacionais o tempo todo sem sair da cidade. “Existe muita gente boa trabalhando com educação”, diz. “E se antigamente eu achava que estava sozinho nisso, hoje sei que somos muitos.”

Jornalista por formação, sempre se interessou pelo tema. Quando trabalhava em uma editora de educação, no entanto, começou a questionar a abordagem geral. “Criávamos soluções para problemas que nós imaginávamos que eram problemas”, lembra. “Praticamente não existiam serviços com base no usuário ou design thinking.”

Foi só no emprego seguinte, atuando em marketing digital, que veio a ideia. “Estávamos falando sobre viagem e caiu a ficha: se o melhor jeito de saber é estar na rua, o melhor jeito de estar na rua é viajando.”

Em casa, pegou um atlas, circulou mais de 70 cidades pelo país e contou quanto dinheiro tinha guardado. Caio assume que o planejamento foi meio aleatório. Entraram na lista cidades importantes, históricas, berços de projetos famosos de educação ou aquelas com nomes engraçados. (O nome do município de Russas, no Ceará, ainda o faz rir.)

“Dicas me ajudaram a me sentir seguro, mas não valiam muito no chão. Então eu perguntava às pessoas locais se elas conheciam boas iniciativas de educação e elas conheciam muito mais que qualquer um”, lembra ele, que montou uma página no Facebook para relatar a viagem.

Descobertas Aos poucos, conforme Caio descobria o país e se encantava com a criatividade dos brasileiros, a viagem tomou forma de jornada.

Um de seus exemplos favoritos vem de São Luís do Maranhão, onde Deisy, então monitora de museu, contou sua história. Criada em uma comunidade carente, ela havia frequentado uma escola pública em que tudo faltava, de merendas dentro da data de validade à segurança. Mesmo assim, formou-se na universidade e tornou-se professora.

Quando chegou na escola, parecida com a sua, conheceu um aluno problemático que levava bebida alcóolica para a sala. Não era segredo, mas até então era inevitável. Sabendo que precisava fazer algo conquistar seu respeito, Deisy pegou a garrafa e deu um gole. Os alunos ficaram estupefatos.

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No dia seguinte, começaram a respeita-la e entender que poderiam se identificar com ela – ali, todos compartilhavam trajetórias similares. Anos depois, Deisy encontrou o antigo aluno-problema estudando na universidade.

Também no Nordeste conheceu o Programa de Educação em Células Cooperativas (PRECE), iniciativa cearense que começou simples e se tornou política pública estadual. “Não existiam professores na cidade, então um adulto teve a ideia de criar um grupo de estudos em que cada um dava aulas sobre o que mais sabia”, explica. O grupo não só terminou ensino médio como entrou na universidade.

De volta a São Paulo – “e morrendo de medo de não conseguir me readaptar” –, Caio tinha uma enorme vontade de espalhar o que tinha aprendido. Aceitou mais de cem convites para dar palestras pelo país e decidiu escrever um livro com as treze melhores histórias.

Mergulhou na pesquisa, leu artigos científicos e mestrados, re-entrevistou pessoas-chave e  arrecadou mais de R$ 30 mil em um crowdfunding para bancar a publicação. Concluída, a obra, que pode ser lida online, foi parar nas mãos de gente como Fernando Haddad, prefeito de São Paulo.

“O mais importante é saber como trazer e adaptar essas ideias para a sua própria realidade, de maneira que tenham sentido para você”, resume.

Trilha Descoberta a vontade de empreender, faltava colocar uma organização de pé. “Se eu quero mudar a educação, não iria conseguir fazendo isso de noite ou no fim de semana”, diz Caio.

Para criar um negócio com propósito e usar suas habilidades jornalísticas, decidiu oferecer serviços em duas frentes. A primeira é a produção de conteúdo. “Nosso desafio é entregar um relatório de impacto para investidores sem que seja algo proforma, que tenha uma narrativa boa e que fale sobre o projeto de uma maneira gostosa”, explica.

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A segunda é a consultoria ativa, em que Caio dá aulas. Atualmente, atua na Escola Santi, criando uma nova cultura de educação livre para garotos de 10 a 13 anos, e no Lab Educação, onde trabalha para ativar uma rede de professores inovadores.

Outro de seus projetos atuais tem potencial para aumentar sua visibilidade país afora. Trata-se de um projeto para o Transforma, braço de educação do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), que comissionou material multimídia sobre as transformações que o esporte pode causar dentro das escolas.

Caindo no Brasil - 1
[acervopessoal]

Atualmente, a Caindo no Brasil tem dois funcionários, mas pretende crescer cerca de 15% até o fim do ano e criar uma rede de mentores. O escritório, frisa o fundador, é a cidade. “É onde as coisas acontecem”, diz ele, que marca pelo menos três cafés por semana para trocar ideias e fazer contatos.

Futuro A importância do networking é enorme para Caio, especialmente quando se trata de conversar com outros empreendedores e sanar suas dúvidas – como metrificar as coisas que faz ou medir impacto, por exemplo? “Acho que temos que nos falar mais, nos ver mais!”, diz. “Todos saímos mais ricos.”

A questão de fortalecer ecossistemas e redes também é crucial. A falta de professores em eventos de educação, por exemplo, é algo que o incomoda bastante. “É uma dor, mas estamos tentando traze-los mais para perto”, diz ele, que interage com professores, empresas, institutos e alunos. “Em alguns eventos, consigo colocar todo mundo no mesmo lugar e levar uma coisa de um ator para outro. É um trabalho de formiguinha, mas é o diferencial.”

Apesar de todos os obstáculos – o gargalo de infraestrutura, para citar um fator, resulta em 60%  das escolas sem saneamento básico e 10 mil sem luz elétrica –, Caio é um otimista infatigável. É capaz de criar uma função para cada interessado, de arquitetos e engenheiros (“é fundamental repensar a escola como estrutura”) a administradores (“falta cuidar do dia a dia dos projetos”).

Acima de tudo, no entanto, é alguém que destaca a importância de praticar a empatia e criar um senso de urgência. “Se ficarmos de picuinha, estamos todos perdendo tempo”, diz. “E é inaceitável que exista uma única pessoa fora da escola no Brasil hoje.”

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