Ao longo dos últimos anos, muito tem sido falado sobre a natureza das relações entre universidade e mercado. De um lado, defende-se a isenção e independência das pesquisas universitárias, enquanto o outro propõe uma união de esforços entre indústria e academia para dar conta dos complexos problemas que a sociedade enfrenta.
A verdade é que, no final das contas, a academia tem muito a aprender com o mercado e vice-versa. Diante desse contexto, têm surgido diversas pontes que ajudam a estreitar o diálogo entre esses dois mundos. Foi o que motivou o professor Wellington Cruz, da Universidade São Judas Tadeu, a criar um evento que colocasse em contato alunos e empresas — o Desafio Fast Date — seguindo a trilha de outras iniciativas, como o Battle of Concepts e o Imersão Gestão Empresarial, do Na Prática.
“Nossa ideia foi colocar os alunos em contato com situações reais da empresa. Levando ao aluno problemas reais para ele resolver rapidamente”, explica Wellington, citando o conceito de ‘aprendizagem baseada em problemas’ — metodologia conhecida como ABP, em que um problema é apresentado de modo a facilitar e estimular o aprendizado ao longo de sua resolução.
O primeira edição do Desafio Fast Date foi realizada em parceria com uma concessionária da Suzuki, e expos os alunos do curso de administração aos dilemas reais vividos pela automotiva. Para Wellington, esse diálogo com o mercado é também um jeito de reaproximar a universidade da sociedade, da vida real. “A academia fala muito para o seu próprio umbigo. Temos que dialogar cada vez mais com a realidade”, ele fala.
Segundo ele, a adesão dos alunos ao evento foi alta. “Percebi a presença total do aluno durante o desafio. A sensação é de que ele tinha encontrado o que de fato estava buscando na universidade. As universidades precisam entender que, para oferecer valor ao aluno, é necessário prepará-los para o mercado de trabalho”, explica.
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“Você conhece determinada teoria, mas como isso afeta a prática? Essa ponte não é muito simples na cabeça do aluno. No Brasil, o meio universitário se desconectou um pouco da prática. Precisamos mudar isso, usar problemas reais como subsídio para a sala de aula. Enquanto o aluno não lida com esses problemas, ele não terá uma dimensão real de qual é a sua capacidade”, completa.
O desafio enfrentado pelos alunos é algo recorrente no mercado, principalmente em um ambiente econômico desfavorável como o atual: aumentar a margem de lucro de uma empresa em um contexto de baixa possibilidade de realizar novos investimentos. “É uma questão que passa por temas de marketing, finanças e até mesmo gestão de pessoas”, diz Wellington, ressaltando que os alunos foram acompanhados por mentores de cada uma dessas disciplinas.
Ele conta que muitas das ideias para lidar com o problema eram muito custosas e de difícil implementação, enquanto a proposta da equipe vencedora (e que vem sendo aplicada para a loja) era a mais simples e barata — dois critérios que, no mundo real, fazem toda a diferença.
Ainda assim, foram as competências comportamentais que se mostraram determinantes para o sucesso da equipe vencedora. “Os alunos que conseguiram interagir da melhor forma obtiveram os melhores resultados”, ele diz, ressaltando a importância do trabalho em equipe.
É exatamente nessa esfera das soft skills, como ‘trabalho em equipe’, ‘resiliência’ e ‘foco’ (habilidades intangíveis relacionadas ao comportamento da pessoa) que está a maior lacuna entre o que o mercado necessita e o que a faculdade ensina. Além de inciativas de aproximação com o mercado, Wellington diz que também é possível desenvolver essas habilidades em outras atividades paralelas ao estudo na faculdade.
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Preparando para o mercado Assim, também cabe ao aluno buscar desenvolver as habilidades que farão diferença na hora de entrar no mercado de trabalho. “O aluno não pode ser passivo no processo de aprendizagem, tem que ser protagonista e sair da zona de conforto”, opina.
Quais seriam as outras formas de desenvolver essas competências que o mercado de trabalho busca? Ele cita algumas: trabalho voluntário em ONGs e participação de redes (empresas juniores, organizações estudantis, Aiesec, etc).