O portal DRAFT continua a série que explica as principais palavras do vocabulário dos empreendedores da nova economia. São termos e expressões que você precisa saber: seja para conhecer as novas ferramentas que vão impulsionar seus negócios ou para te ajudar a falar a mesma língua de mentores e investidores. O verbete de hoje startup…
O que acham que é: Empresas de tecnologia lançadas por empreendedores jovens e modernos.
O que realmente é: Não há um conceito único para definir o termo. Segundo Felipe Matos, fundador da aceleradora Startup Farm, pesquisador do Mestrado Profissional em Empreendedorismo da FEA-USP e ex-Diretor de Operações do programa Startup Brasil, do Governo Federal, há dissertações de mestrado inteiras sobre a questão. “Gosto da definição de startup como uma ‘organização que oferece um produto ou serviço inovador, geralmente através de tecnologia, que está em busca de um modelo de negócio que possa ganhar escala rapidamente’”, diz. Mas ele alerta que nem toda startup é de Tecnologia da Informação ou da área digital, pois existem startups de biotecnologia, energia, novos materiais etc.
“Alguns autores consideram startups qualquer tipo de empresa com potencial de crescimento em fase inicial, como franquias, por exemplo”, afirma Felipe. Já Descartes de Souza Teixeira, diretor e fundador do Instituto de Tecnologia e Software (ITS), professor da Fundação Instituto de Administração (FIA) e parceiro do Fórum de Inovação da FGV, parte da etimologia do termo em inglês – em que “start” é começo, início e “up” algo que está pronto para ser lançado, ir para a rua – para dizer que startup não é, necessariamente, uma empresa e, sim, uma ideia realmente nova em condições de ser lançada no mercado e capaz de encontrar algum cliente interessado em aplicá-la.
“O que é importante é que essa ideia seja algo que possa ser manifestado na forma de um novo produto, serviço, processo. O empreendimento pode ainda não existir e surgir a partir da transformação da ideia ou pode já existir e ter essa nova ideia acrescentada ao seu processo”, diz Teixeira.
Por sua vez, Steve Blank, empreendedor do Vale do Silício e autor do livro Startup: Manual do Empreendedor – O guia passo a passo para construir uma grande empresa, define o termo como uma “organização criada para procurar modelos de negócios repetíveis e escaláveis”. Outra dúvida que envolve a definição de startup é a idade do empreendimento.
Paul Grahan, programador, escritor, investidor e co-criador da Y Combinator, incubadora que já fundou mais de 800 startups, disse à Forbes, que “uma companhia que existe há cinco anos ainda pode ser uma startup. Já uma que tenha dez anos estaria extrapolando o limite”. No Business Insider em dezembro do ano passado, no texto This is the definitive definition of a startup, Jan Koum, cofundador do Whatsapp, diz que startups não estão relacionadas a tempo de operação. “Dizem que idade não é o número em si mas como nos sentimos. Nossa empresa tem cinco anos mas estamos nos movendo e tomando decisões com rapidez, criamos produtos, então somos uma startup”.
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Quem inventou: A única coisa possível de se afirmar a respeito da autoria do termo é que nasceu nos Estados Unidos.
Quando foi inventado: Também não há registros a respeito. “O termo ganhou força na década de 1990, especialmente após o crescimento comercial do uso da internet, que tem sido a base para a maior parte dos produtos e serviços das startups que se tornaram mais famosas, como Facebook e Google”, diz Felipe Matos.
Para que serve: Descartes de Souza Teixeira acredita que as startups sirvam para renovar as atividades empresariais. “Quando você estimula o surgimento de startups você estimula o desenvolvimento e gera mais riqueza porque gera mais empresas. É útil para o desenvolvimento, todos os países estão adotando”, diz o professor. Já Felipe Matos acredita que, do ponto de vista prático, a startup sirva pouco para as pessoas em geral. “Serve mais para identificar empresas com potencial de crescimento, para as quais vem sendo criadas metodologias de gestão específicas, como a startup enxuta (ou lean startup), para as quais existem organizações de apoio, como incubadoras, aceleradoras, investidores anjos e fundos de investimento, que buscam apoiá-las e apostar em seu crescimento”, diz.
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Quem usa: Felipe Matos afirma que os clientes de uma startup podem tanto ser pessoas físicas como empresas ou, até mesmo, os dois juntos, e o serviço pode ser direcionado a um nicho de mercado específico. Ele cita como exemplo a Easy Taxi, voltada a pessoas que utilizam táxis, taxistas e empresas que arcam com custo do transporte por táxi de seus funcionários. Descartes de Souza Teixeira diz que grandes empresas, no Brasil, começam a buscar startups. “Os bancos têm sido mais agressivos nessa busca, e Bradesco e Itaú saíram na frente. Há também outros negócios como laboratórios farmacêuticos, empresas da área de cosméticos, da área de telecomunicações e de transportes”, afirma.
Efeitos colaterais: Como startups têm alta capacidade de crescimento e propõem soluções inovadoras, sua adoção costuma gerar mudanças no mercado em que estão inseridas e até alterar costumes e hábitos culturais em alguns segmentos. “Pense, por exemplo, em como o Google mudou a forma como buscamos informação, o Facebook mudou a forma com que nos relacionamos ou a Easy Taxi mudou o jeito como pedimos táxi”, diz Matos.
Quem é contra: “Como toda inovação, as startups geram mudanças e, com elas, algumas resistências. As cooperativas de táxi, por exemplo, saíram perdendo com o crescimento da Easy Taxi. A tradicional enciclopédia Barsa praticamente foi extinta depois da era onde tudo está a um ‘Google’ de distância”, completa Felipe Matos.
Para saber mais: Assista ao trailer do documentário Ctrl+Alt+Compete, de 2011, sobre cinco fundadores de startups; leia o texto em que Steve Blank explica, com gráficos, quais são os princípios iniciais da criação de uma startup; e veja no Quora uma thread com 118 respostas para a pergunta What is the proper definition of a startup?
Este artigo foi originalmente publicado em DRAFT