A cada dez companhias, seis fecham antes de completarem cinco anos de existência no Brasil, de acordo com dados do IBGE. Por que algumas organizações falham mesmo tão novas, e com premissas promissoras? Será que existe um aspecto em comum entre todas as empresas de sucesso? De acordo com o empreendedor Bill Gross, sim.
Em sua TED Talk, ele diz ter descoberto as razões mais importantes para uma companhia dar certo. O empreendedor, que foi fundador de várias startups – e incubou muitas outras -, coletou dados de centenas de empresas e, com eles, classificou cinco aspectos-chave. Para sua surpresa, um dos fatores se destaca muito mais do que os outros.
Durante a pesquisa, Bill procurou ser sistemático e o mais imparcial possível. Seu objetivo era evitar instintos e percepções errôneas que criou ao longo dos anos trabalhando nesse ramo, esclarece. “Venho abrindo negócios desde os meus 12 anos, quando vendia doce no ponto de ônibus da escola; no colégio, quando produzia e vendia captadores de energia solar. Na faculdade fiz alto-falantes e quando me formei fundei companhias de software”, lembra Bill.
“Se escolhermos um grupo de pessoas com os incentivos de capital certos e os organizarmos em uma startup, podemos revelar potencial humano de um modo jamais imaginado antes.”
Há 20 anos, fundou a incubadora Idealab, responsável por 100 empresas, “muitos sucessos e grandes fracassos”. Além das criações da Idealab, analisou outras 100 em sua pesquisa. Para avaliar, dividiu as empresas que hoje estão no topo e as que falharam.
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Os cinco fatores determinantes para empresas de sucesso
A ideia foi o primeiro aspecto analisado por Bill. A princípio, ela era considerada de extrema importância para o empreendedor. “Nomeei minha companhia Idealab por idolatrar o momento ‘ahá’ de quando temos uma ideia inicial”, brinca.
Com o passar do tempo, passou a considerar que o time e a execução fossem tão ou mais importantes do que a ideia.
“Jamais imaginei que citaria o boxeador Mike Tyson numa TED Talk, mas uma vez ele disse: ‘Todo mundo tem um plano até que leve um soco na cara!’ Acho isso muito verdadeiro nos negócios, também.”
Basicamente, para Bill, a frase de Mike Tyson se adequa ao contexto do empreendedorismo porque “o cliente é a verdadeira realidade” e a execução do time está diretamente relacionada a sua habilidade em lidar com isso.
Em seguida, o empreendedor passou a observar o terceiro fator, o modelo de negócio das empresas de sucesso. No entanto, sua importância parecia equivalente à do capital – ou melhor, a receber grandes quantidades de capital no início.
Por último, Bill analisou o timing, ou “momento adequado”. “A idéia é muito avançada e o mundo não está preparado para ela? Ela é muito avançada e precisamos educar o mundo? É a hora certa? Ou já é tarde demais e já existem muitos concorrentes?”, explica.
Suas descobertas levaram à seguinte classificação dos fatores:
1º Timing
2º Time e execução
3º Ideia
4º Modelo de negócios
5º Capital
Exemplos reais da importância do timing
A história de quatro empresas famosas demonstram que ter timing – ou não – faz toda a diferença. A Airbnb, por exemplo, foi desconsiderada por muitos investidores. Eles “achavam que ninguém alugaria um espaço na própria casa para um estranho”, conta Bill. O que eles não consideraram – que foi o motivo de uma premissa tão inusitada conquistar interessados – foi o momento em que a ideia veio à tona.
Fundada durante a recessão econômica nos Estados Unidos, a Airbnb trouxe um serviço que oferecia possibilidade de renda extra. O mesmo aconteceu com a Uber, também lançada durante a crise. Apesar de ter um modelo de negócios incrível e ótima execução, segundo Bill, teve seu trunfo em acertar o timing.
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Por último, no caminho contrário, o empreendedor lembra o fracasso de uma companhia de entretenimento online chamada Z.com, fundada pela Idealab. “Estávamos empolgados, arrecadamos fundos, tínhamos um ótimo modelo de negócio, até contratamos talentos de Hollywood para se juntar”, diz.
No entanto, o momento era desfavorável, porque a penetração da banda larga era muito baixa nos anos de 1999 e 2000 e os usuários tinham um enorme problema de codec para reproduzir vídeos. “Dois anos depois, quando a questão do codec foi resolvida pelo Adobe Flash e a penetração da banda larga chegou a 50% dos EUA, o Youtube estava no momento perfeito. Ótima ideia em um momento inacreditável. E ele nem tinha um modelo de negócio quando começou, nem havia garantia de que daria certo, mas seu surgimento foi lindo”, conta o empreendedor.