Em 2013, uma empresa que já era enorme, a Heinz, começou uma fusão com outro colosso, a Kraft Foods. Surgia a Kraft Heinz, hoje quinta maior empresa do setor alimentício do mundo, que faturou US$ 26 bilhões em vendas no ano passado.
A operação que deu origem a empresa foi também uma parceria entre dois amigos próximos, os investidores Jorge Paulo Lemann, cofundador do 3G Capital, fundo dono da Heinz, e Warren Buffett, que entrou no negócio através de sua firma Berkshire Hathaway.
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A fusão – um processo longo e trabalhoso, como explicou uma advogada especializada no assunto ao Na Prática – foi oficialmente concluída em 2015. Hoje a Kraft Heinz Company tem mais de 200 marcas no portfólio e cerca de 42 mil funcionários em mais de 40 países.
Liderada globalmente por Bernardo Hees e por Pedro Drevon no Brasil, a companhia emprega a cultura de trabalho 3G, calcada em meritocracia, autonomia e foco nos resultados e criada por Lemann e seus sócios, Marcel Telles e Beto Sicupira.
“Precisamos de jovens com vontade de entregar resultados e que queiram vir construir a companhia junto conosco”, explica Drevon, que tinha 33 anos quando aceitou o posto de CEO. “Nós nos consideramos uma empresa jovem, que começou uma empreitada em 2013. Tem muita coisa para fazer e há muita oportunidade para quem entra agora.”
Entre os funcionários atuais estão quatro brasileiros que integram a Líderes Estudar, rede de jovens de alto impacto da Fundação Estudar e da qual Bernardo Hees também faz parte.
Como fazer um currículo perfeito
Abaixo, eles compartilham seus aprendizados com o Na Prática:
João Henrique Vogel
Gerente de Orçamento & Planejamento de Negócios dos EUA
Formado em Sociologia, Economia e Literatura/Gramática Francesa pela Harvard University, mora em Chicago
1. Como foi sua trajetória até a Kraft Heinz?
Venho de uma família humilde da zona oeste do Rio de Janeiro. Durante o Ensino Médio, foquei meus esforços em me preparar para estudar no Instituto Militar de Engenharia (IME), mas resolvi tentar me candidatar a universidades estadunidenses também.
Fui aceito em Harvard, onde me formei em Sociologia, Economia e Literatura/Gramática Francesa em maio de 2016. Fui bolsista da Fundação Estudar em 2012 e do Jorge Paulo Lemann Scholarship Fund, na Harvard College.
Durante a faculdade, fiz estágios na Anheuser-Busch, no BTG Pactual e na Alere Investimentos. Comecei a trabalhar na Kraft Heinz através do programa de trainee em junho de 2016.
2. E dentro da Kraft Heinz?
Trabalhei por 11 meses na área de Revenue Management [gerenciamento de receita], um time que usa estatística para otimizar estratégias de precificação, promoção, previsão de demanda e gestão de portfólio.
Hoje trabalho em uma área financeira chamada Budget & Business Planning [orçamento & planejamento de negócios], com escopo focado nos EUA. Minhas responsabilidades incluem previsão de fluxo de caixa e planejamento do orçamento do próximo ano.
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3. Por que escolheu a Kraft Heinz para trabalhar?
Foi onde me senti mais confiante de que poderia controlar o ritmo da minha carreira. Na Kraft Heinz, se você se mostra disposto a estar sempre aprendendo, encarando desafios novos e entregando bons resultados, não existe idade ou senioridade que limite a velocidade do seu crescimento de carreira.
4. Como se preparou para o processo seletivo?
Li tudo o que pude encontrar na internet sobre o cenário da indústria alimentícia global e também sobre o estilo de gestão e cultura do grupo 3G. Além disso, conversei com alguns conhecidos que já trabalhavam na empresa para entender melhor como era o dia a dia deles por lá.
O site de carreiras da empresa também é bem completo e oferece vídeos e depoimentos de trainees sobre a experiência de cada um com seus projetos.
5. O que destaca em relação à cultura da empresa?
Sonhamos muito grande e por isso sempre temos metas que parecem muito difíceis de serem alcançadas. Mas, quando as batemos, amadurecemos bastante como empresa e damos um grande salto em relação à indústria.
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Marcelo Lyra
Chefe de planejamento financeiro de Supply Chain da Europa
Formado em Economia pela Ibmec/Rio e mestre em Economia pela FGV-Rio, mora na Holanda
1. Como foi sua trajetória até a Kraft Heinz?
Trabalhei algum tempo no mercado financeiro e resolvi fazer mestrado acadêmico em Economia na Escola Brasileira de Economia e Finanças da FGV-Rio. Em seguida, no fim de 2011, fui para a ALL (America Latina Logística) num projeto de criação de uma empresa de mineração.
Foi muito legal porque no início não havia posição definida (éramos eu, o CEO e mais uma pessoa), então eu fazia de tudo – de alugar a sala onde seria o escritório até fazer o modelo financeiro do projeto. Foi quando comecei a me mudar bastante: morei em São Paulo, Belo Horizonte e Corumbá, na fronteira com a Bolívia, onde ficava a mina de minério de ferro.
Quando houve a aquisição da Heinz pelo fundo 3G, várias pessoas da ALL foram para lá. Passei pelo time de planejamento financeiro da ALL, pelo time de transição à época de sua fusão com a Rumo Logística e fui gerente de relações com investidores.
Em maio de 2015, vim para a Kraft Heinz Company.
2. E dentro da Kraft Heinz?
Após um curtíssimo período em Singapura, vim para Melbourne, na Austrália. Lá fui Head de Supply Chain Finance [chefe de finanças de supply chain], basicamente cobrindo toda a parte financeira de operações (fábricas, compras, logística e moedas) da Austrália, Nova Zelândia e Papua Nova Guiné.
Eram 10 fábricas e, como seis eram na Nova Zelândia, morei por 4 meses em uma pequena cidade do país, com 20 mil habitantes. Voltei para Melbourne e, meses depois, fui convidado pra ser Head de Financial Planning do Supply Chain da Europa, na Holanda, onde estou até hoje.
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3. O que destaca em relação à cultura da empresa?
Podemos resumir a cultura em uma palavra: ownership, a ”cabeça de dono”. Quando você cuida de algo como se fosse seu, toma melhores decisões.
4. Você é brasileiro, trabalhou na Austrália e agora está na Holanda. Como a cultura da Kraft Heinz se transfere entre um país e outro?
É fundamental que a empresa tenha a mesma cultura em qualquer lugar em que atue. Isso é um desafio diário e dá trabalho, mas é fundamental. Isso não quer dizer que haja uma contradição com a cultura local do país, muito pelo contrário – você pode ver diferenças de hábito típicas de cada país –, mas a essência da cultura da empresa tem que ser a mesma.
Camilla Matias
Chefe de Orçamento e Planejamento de Negócios de Bebidas & Snack Nuts
Formada em Engenharia Mecânica-Aeronáutica pelo Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), mora em Chicago
1. Como foi sua trajetória até a Kraft Heinz?
Fui estagiária de private equity e mercado imobiliário no Pátria Investimentos e depois no Victoria Capital Partners. Nos últimos três meses, fui alocada como coordenadora numa das investidas do grupo (mesmo antes de formar) e foi quando o interesse por empresas e economia real surgiu mais forte.
Quando recebi a oferta da Kraft Heinz, em 2016, a fusão tinha acontecido seis meses antes. Eu sabia que a empresa estava em transformação e que muitas oportunidades poderiam aparecer. Tinha acabado de formar, nunca tinha feito intercâmbio fora, o país não estava em seu melhor momento então foi, para mim, o momento ideal de buscar essa novo desafio. Mas com certeza volto para o Brasil!
2. Por que escolheu a Kraft Heinz para trabalhar?
Sempre acreditei muito na cultura 3G e ficava pensando: como teria sido entrar na Ambev há vinte anos e ter visto todas as transformações? Entrar na Kraft Heinz Company seis meses depois da fusão era o momento certo e uma chance única de ver uma nova gigante nascer com a cultura que tanto admirava! Eu precisava estar lá naquele momento.
3. Como se preparou para o processo seletivo?
Tudo começou com uma conversa por telefone, que nem parecia entrevista, com um veterano da minha faculdade. Fiz outras duas entrevistas por telefone e Skype nos dois dias seguintes e foi isso. Recebi minha oferta em alguns dias e, em menos de dois meses, estava me mudando para Chicago para trabalhar!
4. O que destaca em relação à cultura da empresa?
Como a empresa aposta em você, os desafios não acabam. É raro ficar na sua zona de conforto e nunca vi ninguém 100% pronto para promoções – são sempre grandes grandes apostas no potencial!
Não existe idade ou senioridade. Se você trabalhar duro e tiver cabeça de dono, vai ter seu espaço, aprender e crescer rápido.
Quando cheguei, olhei para meu primeiro chefe, um americano que foi promovido quatro vezes em um ano. Eu pensava: “Esse cara é muito bom, será que consigo ser como ele?” Em menos de 18 meses pulei de analista para associate director [diretora associada]. Foi um salto de quatro cargos.
5. Como é a relação de seus colegas não-brasileiros com a cultura da empresa?
Desde que cheguei, em janeiro de 2016, muita coisa mudou. Você percebe que as pessoas que têm mais afinidade com a cultura vão ficando e os que não tem, vão saindo! O que é ótimo porque mostra que a empresa está criando sua identidade.
E já passei por vários momentos engraçados relacionados a isso. Um dia entrei no elevador e uma menina estava reclamando: “Esses brasileiros são muito loucos, colocaram um cara que sempre foi de finanças para tocar toda a área de marketing!” Essa troca funções é um dos traços da cultura 3G, mas ainda é muito estranho para o americano em geral.
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Henrique de Freitas
Chefe Global de Orçamento e Planejamento de Negócios
Formado em Engenharia, Pesquisa em Gestão de Operações e Engenharia Financeira pela Princeton University, mora em Chicago
1. Como foi sua trajetória até a Kraft Heinz?
Comecei minha carreira no J.P. Morgan, em Nova York, no grupo de tecnologia, mídia e telecomunicações do banco de investimentos. Gostava bastante de investment banking, pricipalmente pelo aspecto técnico de finanças, mas queria fazer carreira em um lugar onde me visse como dono a longo prazo. Quando a oportunidade surgiu com a Kraft Heinz, não hesitei e pulei em cima.
2. Quais são suas responsabilidades?
Como Head of Global Budget and Business Planning [chefe global de orçamento e planejamento de negócios], sou responsável por tocar o processo global de orçamento e pelos principais materiais de nosso Chief Financial Officer (CFO), como apresentações para o conselho, para o presidente do conselho e para investidores.
3. Por que escolheu a Kraft Heinz para trabalhar?
Fácil: pela cultura. Queria trabalhar em uma empresa onde minha performance e vontade fossem os principais fatores determinantes para crescimento. Aqui, o tamanho da oportunidade é do mesmo tamanho da sua vontade e capacidade.
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4. Como se preparou para o processo seletivo?
Acredito que o principal ponto para ser um bom candidato aqui é a cultura – pelo menos segue sendo o principal fator que busco quando entrevisto candidatos.
Antes de ser escolhido como bolsista da Fundação Estudar [também fundada por Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira], em 2010, já me identificava muito com seus valores e, por extensão, os valores da Kraft Heinz – meritocracia, sem desculpas, agir como dono… Assim, as entrevistas que fiz mais pareceram bate papos, reafirmando que os dois lados se identificavam um com o outro.
É claro que, mesmo assim, me preparei antes das entrevistas revisando meu currículo, afiando as respostas às principais perguntas técnicas e não técnicas, e praticando minha introdução.
5. Como é a relação de seus colegas não-brasileiros com a cultura da empresa?
É uma relação boa. A única diferença que vejo é que alguns dos candidatos que não são brasileiros não tem sempre tanta familiares com a cultura do grupo 3G. No entanto, quando encontramos alguém que tem o perfil da Kraft Heinz, coisas como nacionalidade, idade e formação não importam – resultados, sim.