Quando pensamos em desenvolvimento pessoal e de carreira, uma pergunta é bastante recorrente – e igualmente controversa: afinal, devo investir na potencialização dos meus pontos fortes ou na minimização dos meus pontos fracos?
Não pode ler agora nossa matéria sobre Talento, Pontos Fortes e Fracos? Ouça este conteúdo clicando no player:
Ao longo desse texto, vou explicar uma maneira de analisar essas duas possibilidades e identificar em qual delas você gastar mais energia. Mas, antes de chegar lá, vamos primeiro entender o que são, de fato, pontos fortes e fracos.
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O que são pontos fortes e fracos
Segundo Marcus Buckingham e Donald O. Clifton, autores do livro “Descubra seus pontos fortes”, um ponto forte é a capacidade de executar alguma atividade de maneira quase perfeita, consistentemente. Ou seja, se você consegue realizar um tipo de tarefa com qualidade acima da média e quando quiser, essa habilidade é um ponto forte seu.
Por outro lado, um ponto fraco é a incapacidade de realizar algo com qualidade e consistência. Em outras palavras, trata-se de uma atividade ou habilidade em que, frequentemente, o seu desempenho é abaixo da média.
Para exemplificar, imagine que você fala muito bem em público. Sempre que é necessário fazer uma apresentação no trabalho você é o escolhido da equipe e a cada 10 apresentações, você se sai muito bem em 9 delas. Isso representa um ponto forte: oratória.
Mas quando a apresentação tem que ser feita em inglês, seu desempenho cai muito. Você não é fluente no idioma e, embora sua postura, gesticulação e carisma sejam ótimos, essa falta de domínio da língua faz com que seu desempenho não mantenha o nível. Nesse caso, o ponto fraco é sua insuficiência na habilidade em falar inglês.
Agora que ficou mais claro o que são pontos fortes e fracos, é preciso levar em consideração outro ponto importante: o talento. O que é significa ter talento para alguma coisa?
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Talento
Talento é a facilidade com que você aprende ou executa determinado tipo de atividade. Ou seja, sua predisposição para realizar bem alguma coisa. Por exemplo: talento para aprender música ou idiomas, praticar esportes, aptidão para artes, raciocínio lógico, pensamento estratégico, relacionamento interpessoal, etc.
Existem muitos tipos de talentos e a ciência ainda não chegou a uma conclusão sobre eles – algumas explicações dizem que nosso cérebro já vem de fábrica com esses talentos instalados, ou então que eles se formam quando ainda somos crianças. De toda forma, talentos são pontos fortes naturais.
Então isso significa que, se não tenho talento para determinada atividade, nunca vou aprender a fazê-la? Vou responder essa pergunta com uma história pessoal.
Quando ainda era um garoto, por volta dos 10 anos, tentei por algumas vezes aprender a tocar guitarra. Eu achava incrível ver aqueles guitarristas famosos fazendo solos fantásticos nos seus shows e levando o público ao delírio. Assim, pensei que fazendo algumas aulas eu poderia fazer o mesmo. E mais, seria o guitarrista famoso mais jovem do mundo!
Bom, acho que você nunca ouviu falar de um guitarrista chamado Henrique Molina, não é mesmo? Bastaram algumas aulas para eu perceber que eu não tinha talento para a música e que levaria muito tempo para que eu ficasse razoável naquilo.
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Como a maioria das crianças que quer resultados rápidos, abandonei as aulas de guitarra após um mês. Depois de 4 anos, um pouco mais maduro, me interessei por outro instrumento. Dessa vez eram os solos de bateria que me chamavam a atenção.
Assim como da vez passada, quando a ideia era tocar guitarra, procurei uma escola de música e me matriculei. Mas dessa vez estava disposto a me esforçar mais. Frequentei as aulas por dois anos e até participei de um sarau.
De fato, não aprendi a tocar muito bem bateria. Você também não ouviu falar de um baterista famoso chamado Henrique Molina. Entretanto, o que quero mostrar não é isso. O que quero dizer é que é possível aprender a fazer alguma coisa na qual você não tenha talento, a diferença será a quantidade de esforço que você terá que investir para evoluir naquilo.
Eu poderia ter ficado bom na música, mas a energia e tempo que eu teria que gastar seria muito grande. E, no fundo, aquilo era apenas um hobbie para mim. Eu não tinha a intenção de ser um músico profissional.
Entender seus pontos fracos, fortes e talentos é um primeiro passo. Mas o que fazer com essas informações?
Identificando seus pontos fortes e pontos fracos
Depois de entender o que são pontos fortes, fracos e talento, é preciso pensar em quais são os seus – e os passos a seguir vão facilitar essa tarefa. Para a reflexão ser útil, é importante ter em mente qual o seu maior objetivo do momento. Por exemplo: ser promovido, mudar de emprego, ser contratado, aumentar as vendas, etc. Caso você ainda não tenha clareza sobre isso, esse outro texto pode te ajudar.
Passo 1: Liste os seus pontos fortes
O primeiro passo é fazer uma lista com os seus pontos fortes. Coloque nessa lista aquelas atividades que você faz com muita qualidade e também as suas características pessoais positivas que você considera importantes. Exemplos: apresentações, vendas, resolução de conflitos, prevenção de problemas, organização, relacionamento interpessoal, cumprimento de prazos, etc.
Inclua também habilidades e conhecimentos técnicos, como idiomas, softwares, área de formação, etc.
Por último, acrescente seus talentos. Essa etapa pode ser um pouco mais difícil, já que nossos talentos são características tão naturais que muitas vezes nem as enxergamos. Como essas aptidões já estão programadas em você, correm o risco de passar despercebidas. Alguém com muito talento para comunicação pode nem notar que fala bem em público, pois imagina que todos sejam assim.
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Uma dica bastante útil para contornar esse problema é pedir feedback para as pessoas que convivem com você. Em outras palavras, perguntar aos outros sobre o que eles consideram ser o seu talento, e também seus pontos fortes e fracos. E para quem perguntar? Pode ser seu chefe, seus pares na empresa ou sua equipe. Família e amigos também podem ser consultados.
Segundo passo: Liste os seus pontos fracos
O segundo passo é fazer uma lista com os seus pontos fracos. Coloque nessa lista atividades nas quais seu desempenho é baixo e características pessoais negativas. Exemplos: dificuldade de comunicação, pouca flexibilidade, baixa liderança, estresse elevado, insegurança, etc.
Inclua também pontos relacionados a habilidades e conhecimentos técnicos, como: não falar um idioma, não ter conhecimento de softwares, não ter formação na área, etc.
A dica sobre o feedback também vale aqui. Após ter criado a lista com seus pontos fortes e pontos fracos, e ter claro na sua mente qual é o seu maior objetivo profissional, vamos responder à pergunta: em qual dos dois devo focar?
Em qual dos dois investir seu tempo e esforço?
A resposta é: depende. Depende da intensidade de seus pontos fortes e fracos, e como eles se relacionam com o seu objetivo. Vou usar uma metáfora para explicar melhor esse ponto.
Imagine que sua meta é ganhar uma corrida de carros. Você dirige é uma Ferrari, um dos melhores carros possíveis para atingir esse objetivo – mas não percebeu que o freio de mão está puxado.
Por mais que você acelere fundo, o carro mal sai do lugar. Nesse caso, o freio de mão representa um ponto fraco bastante intenso e que interfere diretamente no seu objetivo de ganhar a corrida. É um ponto fraco que te segura, e até atrapalha a principal vantagem que você tem: o motor potente da Ferrari.
Essa é uma fraqueza que não dá para você ignorar, senão nunca ganhará a corrida. Esse tipo de ponto fraco – que te impede de liberar seu potencial e compromete muito o objetivo final – merece um bom investimento de tempo e energia para ser minimizado. É o tipo de coisa que você vai precisar melhorar.
Exemplo prático: Se seu plano é se tornar diretor de uma empresa multinacional americana, mas você não fala inglês fluentemente. Quer ser promovido a gerente, mas não tem habilidade de liderança. Quer conseguir um emprego, mas não sabe se vender na entrevista. Em todos esses casos, o ponto fraco tem bastante influência negativa no objetivo principal.
Agora vamos supor que o problema não é mais o freio de mão, mas a ausência de um sistema de comunicação no carro. Isso pode fazer com que você perca algumas informações e instruções da sua equipe ao longo da prova, o que é ruim, mas não chega a impedir que você saia vitorioso.
Em outras palavras, essa é uma fraqueza que não interfere muito no seu objetivo. Nesse caso, é melhor usar seu tempo e energia com outra coisa: por exemplo, melhorando e potencializando algo em que você já é bom. Para seguir na metáfora do carro, valeria mais a pena aumentar a potência do motor do que gastar com o sistema de comunicação. O que importa é o que vai trazer mais resultados – sempre com o seu objetivo em mente.
Assim, existem pontos fracos que podemos considerar irrelevantes. Quando sua fraqueza não tem um impacto considerável para o que você quer conquistar, é mais vantajoso investir em ampliar suas competências que já são boas e deixá-las excelentes. Da mesma forma, você também pode buscar uma alternativa que supra essa lacuna deixada pelo ponto fraco.
Exemplos práticos: Sua meta é ser diretor, mas não tem conhecimento do software SAP. Então, você pode pedir ajuda para alguém que entenda do software sempre que precisar. Ser promovido a gerente, mas não é muito bom em oratória. Uma saída é escolher alguém de sua equipe que fale bem em público para apresentar os projetos quando necessário. Nesses casos, o ponto fraco possui pouca influência no objetivo e também pode ser contornado através de soluções alternativas.
A influência do talento
Por último, vamos analisar a influência do talento. Na nossa metáfora da corrida, o que seria o talento? No exemplo da Ferrari, a forma aerodinâmica é como um talento. Ela já foi concebida com esse design. Por outro lado, uma Kombi tem um formato totalmente diferente, que não a favorece no objetivo de atingir altas velocidades. Enquanto a Ferrari vence a resistência do ar com facilidade, a Kombi enfrenta muita dificuldade. Para alterar essa característica da Kombi, é necessário remodelá-la, o que exige muito esforço.
Em qual atividade profissional você prefere focar: em uma na qual você tem facilidade de alcançar alto desempenho ou em uma na qual você terá muitas dificuldades para “vencer a resistência do ar”? Não existe uma resposta pronta.
Não ter talentos para determinada atividade não significa que você não possa ficar bom naquilo. Apenas exigirá esforço extra. E aqui preciso te perguntar: você está disposto a pagar o preço que isso exige? No meu caso, por exemplo, eu não estava disposto a pagar o preço para que eu ficasse bom na guitarra ou na bateria. Portanto, mudei de rumo.
Se você estiver disposto a pagar o preço, ótimo! Admiro sua determinação e sei que pode chegar lá. Se não estiver, que tal focar naquilo que você tem como um ponto forte? Algo que seja aerodinâmico em você? Isso certamente renderá bons resultados.
O importante é refletir
Independentemente de qual seja o seu objetivo de carreira, experimente refletir um pouco sobre como os seus pontos fortes, fracos e talentos se relacionam com ele. Isso vai te ajudar a entender como você pode investir no seu desenvolvimento de forma mais assertiva.
Se a sua fraqueza tem influência direta na sua meta, é importante que você dê atenção a isso e procure pelo menos “soltar o freio de mão”. Por outro lado, se o seu ponto fraco não é responsável por uma perda de desempenho considerável e não está atrapalhando seu progresso, o melhor a fazer é continuar gastando seus recursos em desenvolver suas fortalezas e ficar cada vez melhor naquilo que realmente te traz resultados. Ter mais clareza sobre quais são os seus talentos também pode ser uma carta na manga para te levar aonde você quer chegar com mais facilidade e rapidez.