Empreendedores e investidores costumam estar em lados opostos da mesa de negociação. Enquanto um tenta vender uma tese inovadora de negócios, o outro, cauteloso, tem que considerar uma série de variáveis antes de colocar seus recursos em jogo.
O desempenho dos empreendedores, porém, tem melhorado nessa relação. Em 2023, segundo dados da ABStartups, o número de startups com investimento passou de 61,8% para 68,9%, com potencial de crescimento neste ano.
Mas quais as diferenças práticas entre empreender e investir?
Essa discussão, fundamental para a economia nacional, foi tema de uma palestra de Victor Lazarte, investidor e fundador da Wildlife, durante o Encontro Anual da Fundação Estudar, em São Paulo, nesta semana. Com experiência em ambos os lados da mesa, ele compartilhou sua opinião sobre o cenário atual do Brasil e deu dicas para ambos os segmentos. Confira.
Diferença entre investir e empreender
Para Lazarte, empreender é um processo gratificante e particular. Nele, é possível imaginar um produto, montar um time, trabalhar para construí-lo e, finalmente, ver o resultado nas mãos das pessoas.
Com a Wildlife, por exemplo, foi assim. A empresa, que desenvolve jogos para o mobile, criou produtos que já foram baixados mais de 3 bilhões de vezes. Para isso, porém, precisou de todo um processo de trabalho e refino, que veio acompanhado do momento ideal para seu sucesso.
Em contraste, como investidor, ele recebe propostas constantemente, mas reconhece que nem sempre é possível embarcar na jornada empreendedora com quem lhe procura.
“Muitas empresas são criadas, mas a grande maioria dos retornos vem de poucas companhias. Em geral, metade do resultado de uma indústria vem de três empresas.”
O fundo Benchamrk, onde Lazarte atua, se preocupa com isso e, como estratégia, investe com cautela, apenas uma vez por ano, e em negócios de potencial. Empresas como Uber, Instagram e Snapchat já tiveram aporte do grupo.
Lazarte enfatiza, porém, que, em setores específicos, é crucial identificar e colaborar com as pessoas mais conhecedoras do assunto. No Vale do Silício, onde há um vasto ecossistema de conhecimento, é comum encontrar alguém com décadas de experiência.
“É impossível ser o expert de todos os setores”, analisa. “Sempre que uma empresa promissora surge, os primeiros a saber são os experts. A colaboração com esses especialistas é essencial para ganhar respeito e sucesso no mercado.”
Fazer startups é parecido com surfar
Para Lazarte, criar startups é similar a surfar: não adianta ser o melhor do mundo se não houver uma boa onda.
“O momento certo é crucial para o sucesso de uma empresa”, disse. “Esse é o melhor momento dos últimos dez anos para iniciar uma nova empresa.”
Ele recorda que, no início da Wildlife, havia poucas pessoas produzindo jogos. No entanto, ao perceberem que o mobile era a tendência, focaram em criar algo gratuito e de qualidade. Essa visão os permitiu aproveitar o presente, sem necessariamente prever o futuro distante.
Essa lógica, segundo o investidor, se repetiu ao longo da história.
Nos anos 2000, com o surgimento da internet, todas as empresas sentiram a necessidade de ter uma página online. Em 2012, a tendência era ter um aplicativo e, em pouco tempo, o aplicativo era toda uma empresa. Hoje, para Victor, as empresas precisam se adaptar às tecnologias e tendências, como a inteligência artificial (IA).
“Do ponto de vista do empreendedor, é preciso usar IA como agente de criação de todas as teses de negócio. Mas, do ponto de vista do investidor, é preciso pensar quais dessas ideias vão naufragar e quais vão vingar.”