Rony Sousa se formou em Engenharia Elétrica pela Escola Politécnica da USP e começou a trabalhar no Google como analista de indústria em 2011. Três anos depois, foi transferido para Nova York, onde atua como analista financeiro sênior e foca nos top clientes globais.
Basicamente, ele é o responsável financeiro por parte dos maiores clientes globais da companhia – o que não é pouca coisa. Além da relação com as empresas, faz negociações, analisa dados, ajuda na criação de planos de negócios e ainda gerencia a receita e alocação de recursos internos em busca das melhores oportunidades.
“Meu trabalho se divide entre ser um conselheiro para meu business partner [seu superior] e ao mesmo tempo ser o guardião financeiro, certificando-me que as decisões tomadas fazem sentido financeiramente para o Google”, resume.
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Os anos de casa em uma das empresas mais cobiçadas por jovens profissionais lhes trouxeram diversos aprendizados. Ele compartilha seis deles com o Na Prática abaixo:
1. Adapte sua mensagem
“Nem sempre os dados falam por si só e cada pessoa terá facilidade em assimilar a informação de forma diferente”, diz Rony. Para tornar o processo mais fácil, ele sugere que se tire o tempo necessário para adaptar a mensagem de acordo com o destinatário, observando sua personalidade e comportamento e testando as melhores formas de fazê-lo no dia a dia.
“Com meu business partner anterior, eu precisava ser mais direto ao ponto e assertivo na maioria das vezes, mas ser capaz de me aprofundar em alguns pontos mais críticos com bastante detalhe”, exemplifica. “Com o atual [que fica em Londres enquanto ele está em Nova York], preciso passar todo o contexto da minha recomendação e só então passar a mensagem – caso contrário simplesmente não farei nenhum sentido para ele. É fascinante como são coisas diferentes e que você só aprende errando.”
2. Conheça melhor as partes interessadas
A toada é a mesma da lição anterior: dedicar tempo para conhecer o outro facilita não só a comunicação interna, mas a maneira de fazer negócios como um todo.
Vale lembrar que um bom relacionamento é construído aos poucos e não apenas em reuniões pontuais e exige um pouco das duas pontas. É a cultura de presença do Google, resumida na frase ”Bring our full self to work” ou “Venha por inteiro ao trabalho”.
“Uma grande parte desse conhecimento vêm de conversas informais: temos uma cultura que nos incentiva a compartilhar nossas experiências e vida pessoal com colegas de trabalho”, explica Rony.
3. Se imponha, mas não force a barra
A questão do posicionamento é frequente quando se trata de obter resultados e promoções, tanto para homens quanto para mulheres. É importante deixar clara sua opinião e participar, mas é preciso manter em mente a necessidade de equilíbrio. Afinal, diferentes partes têm diferentes prioridades e é natural que discordem em alguns aspectos.
Entra aí o famoso bom senso, que garante não apenas uma relação agradável e equilibrada mas uma maior facilidade para tomar decisões em conjunto. “Quando se lida com pessoas muito mais seniores que você, ainda que não sejam seu chefe, é necessário se impor como expert no assunto sem tentar forçar seu ponto de vista”, fala Rony.
Um jeito de fazer isso, em sua experiência, é trazer à mesa exemplos de sucessos anteriores – o que comprova que a abordagem proposta funciona – e estar aberto a outras opções. Em caso de conflito, não fuja: faça perguntas honestas e pratique a empatia, tentando entender o outro lado e que existem formas diferentes de pensar e resolver um problema.
“Uma decisão tomada conjuntamente é mais benéfica ao business que uma imposta – então trabalhe para influenciar o resultado da melhor maneira possível.”
4. Dê um Google: Saiba do que você está falando
É uma lição diretamente conectada à anterior: antes de se posicionar firmemente em relação a algo, saiba do que você está falando e esteja preparado para defender seu ponto de vista com argumentos convincentes.
“Participo de conversas com top management o tempo inteiro e espera-se que eu tenha um ponto de vista a compartilhar baseado em fatos, dados e possíveis riscos financeiros”, fala Rony. “É muito claro quando um executivo conhece o negócio a fundo ou não e nunca vou a uma reunião sem estudar o tópico que vamos discutir e, em geral, tentar formar meu ponto de vista antes da conversa.”
5. A diversidade amplia horizontes
O Google é conhecido por ter um dos ambientes corporativos mais diversos do mundo. Um número cada vez maior de pesquisas aponta que a diversidade traz consigo novos pontos de vista, novas soluções e novas maneiras de engajar o consumidor.
“Uma coisa legal de se trabalhar a nível global é fazer contato com pessoas de todas a regiões. O compartilhamento de melhores práticas acontece mais facilmente e isso sempre gera algumas boas discussões”, explica Rony. “A diversidade de backgrounds proporciona uma oportunidade única para inovar, combinando o melhor de vários mundos.”
6. Ir além é fundamental
Rony, que é hoje considerado um veterano da equipe de planejamento, sempre escuta dos colegas a frase “What brought us here won’t take us where we want to be”. Em tradução livre, seria “O que nos trouxe aqui não vai nos levar até onde queremos ir”. Ou seja, a melhoria na empresa é contínua e a necessidade novas ideias, inesgotável – a régua só fica mais alta.
“Estamos constantemente mudando por uma razão muito simples: há sempre oportunidade para melhorar”, resume ele, que interage com diversas áreas e indústrias. “Há ainda a ideia de que se pode dedicar parte do seu tempo para desenvolver algo que não faz parte de sua função principal, o que pode resultar em melhorias de processos existentes.”
O processo é, na verdade, um ciclo. Seguiu todos os passos? Ótimo. Já pode começar tudo de novo.