Em 2011, ao final da partida de “Jeopardy!”, famoso jogo de trívia da televisão americana, o participante humano escreveu em seu painel, rindo: “Eu dou as boas vindas aos nossos mestres computadores”. Ele estava em segundo lugar, muito atrás de Watson, a inteligência artificial criada pela IBM.
O objetivo da Watson é, basicamente, fornecer respostas certas – mesmo em situações de extrema complexidade e diante de perguntas não-padronizadas. No jogo, o Watson, completamente desconectado da internet, teve que responder perguntas realizadas com todas as nuances da linguagem natural, inclusive trocadilhos, sinônimos e homônimos, gírias e jargões. Respondeu baseado no que tinha aprendido ao longo de quatro anos de interação com humanos e conhecimentos não-estruturados. E, a cada nova interação, a máquina vai ficando cada vez mais inteligente.
Assista ao bate-papo com Rodrigo Kede, presidente da IBM
Mike Rhodin, vice-presidente sênior de Watson Business Development, esteve no Brasil recentemente para discutir as possibilidades da inteligência artificial para empreendedores no CEO Summit 2016, organizado pela Endeavor.
A ideia de uma inteligência artificial surgiu pela primeira vez nos anos 1940, quando John von Neumann, criador da base binária utilizada pelos computadores, previu que um dia eles seriam capazes de responder qualquer coisa sobre qualquer assunto em profundidade.
A IBM assumiu o desafio, considerado impossível por décadas, em e0026. Uniu alguns dos melhores cientistas do mundo numa sala só: “Passávamos pizza por baixo da porta para eles continuarem trabalhando”, brincou Rhodin.
Foi daí que surgiu a ideia de criar um participante de um jogo de perguntas e respostas, algo que poderia atestar que Watson de fato tinha conhecimento sobre tudo. “Você pode assistir como ele vai aprendendo durante a progressão do programa”, falou Rhodin. “Desde então, vimos um aumento maciço de desenvolvimento na área.”
Ferramentas Como as possibilidades de aplicação para inteligência artificial são infinitas e a IBM não conseguiria abarcar todas elas, a empresa decidiu se unir aos empreendedores e, na lógica da economia compartilhada (ou Peers Inc), apostar no poder dos indivíduos para explorar esse potencial de inovação.
Numa nuvem para desenvolvedores de software, a companhia disponibilizou APIs, testes e modelos de negócios gratuitos ou bastante baratos para uso das massas. Os empreendedores interessados em criar algo envolvendo inteligência artificial podem aproveitar toda a tecnologia desenvolvida pela IBM de maneira gratuita ou por um preço bastante pequeno, e que acompanha a quantidade de “querys” necessárias. A eles, Rhodin avisa: vasculhem a internet, porque não é preciso começar do zero. Há muitas bibliotecas por aí.
“O primeiro aplicativo vai levar um tempo para ser desenvolvido porque você está ensinando um computador e não programando um sistema, então parte do nível básico”, fala. “Mas seu desenvolvimento é bem direto.”
Ao contrário dos anos investidos no pioneiro Watson, a IBM hoje consegue construir novos aplicativos envolvendo inteligência artificial em meses. E eles estão ficando cada vez mais complexos, envolvendo tom de voz, personalidade do usuário e até contextos visuais, como imagens e vídeos.
Ele lembra que o Bradesco acaba de estrear em mais de 3 mil agências uma aplicação do Watson, que tem uma série de perguntas e respostas sobre transações. “Português brasileiro foi uma das primeiras línguas que ensinamos ao Watson”, disse Rhodin.
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Áreas de negócio Embora já seja empregado em diversas áreas, incluindo análises financeiras, uma das mais interessantes aplicações do sistema até agora tem sido na saúde, mais especificamente no diagnóstico de câncer.
Foram dois anos e meio de treinamento, que incluiu o aprendizado de biologia, química e medicina, até que surgisse o IBM Watson for Oncology. Hoje ativo na Tailândia, Índia e em breve na China, ele é capaz de aprender um novo tipo de câncer em até dois meses. “Isso é escalar a expertise e o conhecimento de um jeito que nunca foi feito antes e torná-los disponível para todos”, resume.
Dessa experiência, Rhodin extraiu uma fórmula de negócios para startups encontrarem mercado para a inteligência artificial: procure uma profissão em que a quantidade de informações é maior que a habilidade que um profissional tem para consumi-la. “Se você achar uma – e toda indústria tem uma –, pode pensar em cases de aplicação interessantes, criar apps pequenos e começar a crescer.”
“E não há motivo para que um negócio não possa começar aqui no Brasil e expandir globalmente, pois podemos continuar ensinando novos idiomas [à inteligência artificial]”, finalizou. “Estamos no comecinho da revolução da informação.”