Não é novidade para ninguém que educação é uma das temáticas mais urgentes para a construção de um país melhor, mais justo e mais produtivo. O que poucas pessoas sabem é que, nos últimos anos, o setor vem sendo sacudido e arejado por diversas inovações e startups, que em conjunto têm colocado em prática uma verdadeira revolução na educação brasileira. Ainda assim, ainda há (muito!) espaço para mais!
No texto a seguir, o empreendedor Marlon Souza, a pedido da Endeavor, compartilha sua visão sobre as oportunidades para quem quer empreender no setor educacional. Ele, que já foi entrevistado pelo Na Prática, é cofundador da Playmove, startup voltada para o uso de tecnologia na educação infantil, e tem sido diretor executivo da empresa desde sua criação. Confira o seu relato a seguir:
É impossível negar: o setor de educação é um caminho promissor aos empreendedores. O investimento no setor é tendência, tanto na esfera pública, como no setor privado. Ainda que a passos lentos, os investimentos públicos em educação têm crescido e miram no Plano Nacional da Educação (PNE), que pretende destinar até 10% do PIB ao setor.
Apenas de 2005 a 2012, o investimento total aumentou quase 4%, segundo dados do relatório “Education at a Glance”, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Quando olhamos para o setor privado, a expansão das franquias são um bom exemplo da tendência de crescimento. Somente no terceiro trimestre de 2015, esse modelo de negócio cresceu 15%, de acordo Associação Brasileira de Franchising (ABF).
Por mais que esse setor esteja crescendo muito, nem sempre os empreendedores têm uma visão tão clara sobre o mercado. Por mais que a trajetória da Playmove ainda esteja no começo, temos acompanhando a evolução do setor de educação, assim como o da tecnologia, há mais de duas décadas. Portanto, tomo a liberdade de apresentar abaixo uma lista com 6 nichos promissores para investir no setor de educação:
1. Plataformas inovadoras e games
Nunca houve tanta demanda por uma educação inovadora e cativante. Estamos falando com as novas gerações, pessoas cada vez mais conectadas, e o desafio de engajamento e motivação é cada vez maior. Por isso, as plataformas inovadoras, gadgets e demais recursos tecnológicos são tão bem-vindos em sala de aula. Querendo ou não, eles já fazem parte do cotidiano da maior parte da população e por que deveria ser diferente no ambiente escolar?
A mesma lógica se aplica aos jogos, devido ao potencial muito maior em relação ao mero entretenimento. Os games são caminhos muito interessantes para o desenvolvimento em diversos sentidos, assim como para apoiar o processo de ensino e aprendizagem.
O ponto chave está no propósito pedagógico embutido em cada solução, em cada recurso inovador ou em cada jogo educativo que se pretende colocar no mercado. Nos dias de hoje, não basta ser apenas um óculos divertido, um game bonito ou uma caneta mágica. É preciso mostrar o seu valor dentro do contexto pedagógico.
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2. Movimento maker
O movimento maker é um verdadeiro convite aos estudantes para “colocar a mão na massa”, em contraste ao modelo educacional que foca na teoria. O motivo é claro: os alunos absorvem melhor o aprendizado quando experimentam a prática junto da teoria. A oportunidade está em desenvolver caminhos ou soluções que apoiem a disseminação desse novo modelo junto aos docentes, sempre deixando claro suas vantagens no processo de ensino e aprendizagem.
O movimento maker foi fundado em 2005 e de lá pra cá tem cativado adeptos em todo o mundo, impulsionado também pelo movimento empreendedor. O que eles têm em comum? A vontade de criar, transformar e inovar. Por ser ainda muito recente, trata-se de um nicho ainda em expansão e com muito potencial de crescimento. Ou seja, um prato cheio para quem quer propor soluções no setor da educação.
Quem quer conhecer melhor o conceito e as possíveis áreas de atuação, não pode deixar de visitar o blog Fazedores. Entre os exemplos de aplicação do movimento maker, é possível citar ainda: RUTE ,Explorum, White House Maker Faire, Projeto FabLab@School e Stance Dual School.
3. Educação a distância
É nesse nicho que talvez as oportunidades estejam mais evidentes, pois nunca se falou tanto sobre a expansão da oferta de cursos nesta modalidade. O Censo da Educação Superior 2014, realizado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), contabilizou 1,2 milhão de matrículas apenas nas instituições privadas, naquele ano. Isso significou um aumento de 20,36%, na comparação com 2013.
Um dos empreendimentos que aproveitou essa tendência de mercado foi o CERS Cursos Online, que iniciou suas atividades em 2009 e conta atualmente com 27 salas de gravação, em seis estados brasileiros. O portal Geekie também merece destaque. Ele impactou mais de 3 milhões de alunos, por meio de uma tecnologia de ensino, que promove o aprendizado personalizado e acaba de fazer uma parceria com o Ministério da Educação.
Para esse segmento, os empreendedores devem estar atentos para as demandas inerentes à expansão e consolidação do mercado. Por exemplo, plataformas e metodologias para fidelizar e atrair novos alunos, infraestrutura de TIC e tecnologias educacionais que deem suporte às aulas a distância, além de metodologias inovadoras para diferentes segmentos dentro da EaD, como educação inclusiva, cursos rápidos e etc.
4. Inclusão de pessoas com deficiência
Inclusão é a palavra chave quando falamos sobre educação de pessoas com deficiência. Se antes o atendimento era diferenciado, chegando muitas vezes a ser segregador, cada vez mais as ações voltadas à inclusão ganham espaço nas escolas. Ou seja: se você tem uma boa ideia para inovar no ensino e aprendizagem no atendimento educacional especializado, promovendo educação inclusiva como um todo, minha orientação é… Vai fundo!
Soluções que sejam acessíveis e que facilitem a atuação dos docentes são sempre bem-vindas, assim como aquelas que promovem a interação entre os alunos com e sem deficiência. Leve em conta todos os tipos de limitações, pois eles podem representar também um nicho para se especializar como, por exemplo, deficiência visual, autismo, paralisia cerebral e Síndrome de Down.
5. Arquitetura pedagógica
As novas gerações de estudantes desejam ter experiências diferenciadas em sala de aula e isso passa não só pela inovação no processo pedagógico, mas também pela construção de ambientes mais modernos. Nesse contexto, ganha relevância o conceito de arquitetura pedagógica, o que pode ser um diferencial para as escolas reduzirem custos, ampliar a qualidade do ensino, captar novos alunos e superar a crise, evitando a evasão.
A arquitetura pedagógica na escola também pode contribuir para criar ambientes que favoreçam o ensino, a inclusão e incentivem a criatividade e a integração entre as crianças. Para conhecer bons exemplos da aplicação da arquitetura pedagógica, recomendo buscar a Innova Schools, uma rede peruana de escolas, e a 4 Elementos Sítio Escola, que tem como um dos pilares o ensino de práticas sustentáveis.
Ou seja, o seu nicho de atuação pode focar tanto na produção de soluções para compor a arquitetura pedagógica, como serviços e consultorias que disseminem essa prática no setor.
6. Competências socioemocionais
Na medida em que a tecnologia está cada vez mais presente no universo escolar, cresce também a importância do desenvolvimento das competências socioemocionais. Já sabemos que, para encarar o mundo real, as crianças de hoje precisam saber muito mais do que as operações matemáticas ou as capitais dos estados brasileiros. As vivências fora da escola, as relações interpessoais e o amadurecimento demandam que a escola também elabore nas crianças questões, como paciência, cooperação, confiança, autocontrole, criatividade e responsabilidade.
Da crescente demanda, é possível afirmar que surge uma oportunidade de mercado. De que forma você acha que pode auxiliar professores, gestores e pais a apoiar o desenvolvimento destas características? A tecnologia pode ser uma aliada? Quais são as referências disponíveis?
Diante desse cenário favorável, a educação é um mercado em constante transformação e com uma demanda por soluções inovadoras. Não se trata apenas de uma questão puramente tecnológica, o ponto chave está em se diferenciar em um setor superexigente, que não hesita em bombardear o ser negócio de “por quês?”.
Por que eu devo investir na sua solução? Por que devo priorizar isso e não aquilo?
É por isso que, junto ao propósito de provocar uma transformação social, torna-se fundamental contar com pontos bem estruturados que sustentem a sua proposta. Na minha vivência com a Playmove, destaco as experiências no programa de aceleração da Artemísia, focado em negócios de impacto social, e mais recentemente, na nossa participação no programa Promessas, da Endeavor. Ambos fundamentais para manter nosso negócio alinhado com o propósito e ao mesmo tempo em ganhar escala.
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Entre os principais fatores para orientar a jornada dos empreendedores no universo da educação, destaco:
1. Conheça e entenda o mercado
A educação é um universo de oportunidades, mas que também é muito exigente. Não se pode deixar de lado as boas práticas, como benchmarking, estudo de personas, análise de pesquisas e de qualquer outro recurso que forneça informações que sustentem cada passo da trajetória empreendedora.
2. Garanta a qualidade
Querendo ou não, a exigência de métricas que demonstrem a eficiência e a qualidade do seu produto ou serviço também já chegou ao setor da educação. É fundamental amparar pedagogicamente a sua iniciativa, por meio de parcerias com profissionais capacitados em diferentes áreas do conhecimento. Além disso, não aposte em uma solução que possa vir a se tornar obsoleta, preze pela reputação da sua empresa e daquilo que você vende, sem deixar de lado o seu propósito.
3. Seja articulado
O empreendedor do setor de educação deve estar em contato constante com os agentes do setor da educação, mas a articulação com o ecossistema empreendedor é fundamental para qualificar e oxigenar o negócio. É neste cenário que você tem acesso a investidores, mentorias, parcerias e outras referências que podem agregar à carreira empreendedora e à gestão do seu negócio.
Se você já está apostando as suas fichas no setor da educação, não deixe de compartilhar sua experiência e aprendizado com outros empreendedores. Se você ainda está ponderando o empreendedorismo nessa área e tem dúvidas sobre o mercado, não deixe de conversar com quem já passou ou está passando pela experiência!
Este artigo foi originalmente publicado em Endeavor