Segundo o CEO do SurveyMonkey, Dave Goldberg, o Vale do Silício hoje não se restringe a uma localização. É, na verdade, um estado de espírito, uma cultura que se dissemina pelo mundo.
E esta é uma ótima notícia para você. Porque, de acordo com Goldberg, que faleceu em um acidente em maio de 2015, sua empresa pode fazer parte do Vale do Silício, mesmo que esteja sediada em qualquer outro lugar que não lá. Em suma, o Vale do Silício é a concretização de uma cultura de empreendedorismo que, para funcionar, deve respeitar três pontos fundamentais:
1. A falha é aceitável: na verdade, na maior parte dos casos, a falha é inevitável; o essencial é tentar, uma vez que quase todos os empreendedores de sucesso erraram um tanto antes de acertar. Esse ponto é ainda mais importante para os empreendedores brasileiros, onde a cultura do fracasso ainda é pouco valorizada.
2. O financiamento existe: a imensa maioria dos empreendimentos requer um investimento inicial. E, no Vale do Silício, boa parte dos investidores são os próprios empreendedores. Isto corresponde a um movimento de troca, de devolução, uma vez que os fundadores de uma startup que tenha se consolidado graças a investimentos muito provavelmente financiarão startups no futuro, em uma operação que, Godlberg acredita, é inerente ao empreendedorismo do local.
Como exemplo de empreendedores que colocaram esta filosofia em prática aqui no Brasil, podemos citar Hernan Kazah (fundador do Mercado Livre e que hoje tem um fundo chamado Kaszek Ventures, para investir em startups digitais da América Latina), Romero Rodrigues (fundador do Grupo Buscapé) e Marcelo Sales (co-fundador da Movile e da aceleradora de negócios digitais 21212).
3. Mecanismos de suporte à disposição: advogados, contadores, empresas de relações públicas, recrutadores. Uma estrutura com provedores de serviço especializados em empreendedorismo vai contribuir demais com o processo, uma vez que são profissionais muito bem informados, que já acompanharam o crescimento de várias empresas.
No caso atual do Brasil, entretanto, estes mecanismos especializados não são tão considerados, ainda. É comum o empreendedor contratar profissionais sem familiaridade com questões de empreendedorismo para elaborar um contrato de acionistas, por exemplo – o que pode trazer problemas mais à frente.
Goldberg conclui salientando uma outra questão capital: a mentalidade de que qualquer um pode chegar lá. Ele afirma que, no Vale do Silício, não há preconceito algum em relação à origem de uma ideia, de um empreendimento. Não importa qual a situação ou a nacionalidade do empreendedor; se a ideia tem potencial, ele deve encontrar o financiamento e o suporte necessário para concretizá-la.
Estes são fatores essenciais para que se institua a cultura do Vale do Silício fora do Vale do Silício.
Outra boa notícia para você: este pensamento de Goldberg vem se materializando na forma de investimentos realizados fora do Vale do Silício. Alguns fundos vinculados ao local vêm, inclusive, financiando cada vez mais startups no Brasil. São os venture capitalists – investidores que fazem aportes em empresas nascentes.
Um exemplo recente é o investimento de US$ 130 milhões feito pela Redpoint e.ventures em startups brasileiras. É um movimento que vem se tornando mais recorrente, e que cristaliza a ideia de que o Vale do Silício está ampliando mais suas fronteiras.
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Além deste, outros fundos vem investindo em negócios brasileiros, como Insight Partners, Accel Partners e Sequoia. Aqui no Brasil, temos exemplos de fundos e aceleradoras brasileiros que já adotaram a filosofia do Vale e a estão aplicando por aqui, como 21212, Aceleratech, Wayra, entre outras.
Como é, sua empresa está pronta para colocar em prática a cultura da inovação? Então, não custa nada tentar um contato com a moçada aí de cima. Quem sabe seu empreendimento não é o próximo a integrar o Vale mais famoso do mundo?
Este artigo foi originalmente publicado em Endeavor