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Para professor da FGV, as universidades têm papel fundamental no empreendedorismo

São Paulo, 14 de abril de 2014. Reunião do Conselho dew Inovação Competitividade (Conic) da Fiesp. Na foto, Gilberto Sarfati. Foto: Everton Amaro

Por onde estão espalhados os empreendedores no país? Qual é o papel das universidades no desenvolvimento do ecossistema? Essas são algumas das perguntas que norteiam a atuação do professor Gilberto Sarfati, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), que atualmente está envolvido em um grande projeto de mapeamento do empreendedorismo do país. Na coluna a seguir, ele compartilha um pouco de suas conclusões até agora e sua visão sobre o tema:

As universidades são agentes-chave no ecossistema empreendedor, sem sombra de dúvidas. Essa conexão gera efeitos positivos tanto para a IES, recebendo apoio, desenvolvendo os alunos e instigando a inovação, quanto para o ecossistema, que se beneficia do conhecimento gerado e da mão de obra qualificada.

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Inspirado pela conversa que tivemos na Rodada de Educação Empreendedora, uma iniciativa do Movimento Educação  Empreendedora — e que você pode assistir dando play no vídeo abaixo — quero compartilhar com você um projeto que estou envolvido e traduz bem como essa relação entre universidade e mercado pode extrapolar algumas fronteiras e criar projetos com verdadeiro potencial inovador.

Há cerca de quatro meses, tiramos do papel um projeto intitulado Mapped in Brasil. A ideia surgiu após identificarmos algumas demandas bastante latentes. A primeira teve origem nas instituições de ensino: é a carência de informações sobre o empreendedorismo. Diante dessa necessidade, estruturamos o mapeamento de modo que ele funcione também como uma fonte de pesquisa acadêmica sobre o empreendedorismo. Deste modo, com as informações, seria possível obter mais subsídios para políticas públicas.

A segunda demanda é a de que os próprios empreendedores brasileiros precisam enxergar-se, ver-se na robustez que acreditamos existir no ecossistema nacional. É fundamental que notem o quão vasto é esse ecossistema e que identifiquem os principais centros empreendedores do país, distribuídos por regiões.

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E a terceira demanda é a necessidade de apresentar internacionalmente o empreendedorismo brasileiro. Nesse sentido, usamos como referência uma iniciativa adotada por Israel já há alguns anos. Ainda que hoje o sistema de mapeamento esteja desatualizado, ele foi capaz de mostrar, a quem está fora do país, tudo o que acontece de interessante por lá, incentivando relações econômicas internacionais — que é um de nossos objetivos, também.

Como funciona?

A plataforma apresenta, no mapa do Brasil, a localização de startups, aceleradoras, espaços de coworking, grupos de investidores-anjo, núcleos de pesquisa e todas as organizações ligadas ao empreendedorismo. E é atualizada em tempo real.

Empresas de diversos tipos podem se submeter. O cadastro é realizado rapidamente pelo site, e o sistema funciona por meio de open crowdsourcing — ou seja, todo mundo tem acesso a todas as informações, sem restrição. Nossa única intervenção é a curadoria dos pontos: recebemos os pedidos de inclusão no mapa e fazemos uma breve seleção, para assegurar que as organizações se enquadrem no perfil do empreendedorismo.

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Temos cerca de 900 pontos e, em várias categorias, como venture capital e aceleradoras, já mapeamos quase 100% das organizações. Em outras, como é o caso de incubadoras, chegamos a 70%.

O papel das universidades na descoberta das vocações regionais

Mesmo em estágio inicial, o Mapped in Brasil tem mostrado a regionalização do empreendedorismo. Por exemplo: quando se trata de venture capitalists e investidores-anjo, a incidência é muito maior em São Paulo. Pelo contexto econômico e de infraestrutura, é bem pouco provável que isso se transfira a outras regiões, sem a ajuda de políticas públicas.

Uma das conclusões que chegamos, fruto inclusive de pesquisas anteriores, é a de que cada região do país deve buscar sua vocação empreendedora. Essa busca deve considerar suas próprias especificidades regionais, os aspectos em que o ecossistema possa se especializar e pelos quais possa ser reconhecido.

Aqui, o papel das universidades é fundamental. Tomemos como exemplo o que ocorre em algumas regiões do Canadá, em que instituições realizam extensas pesquisas sobre nanotecnologia enquanto outra se especializa em tecnologia marinha: o ecossistema empreendedor funciona a partir disso, alimentando-se dessa vocação. Assim, as universidades devem tomar a iniciativa na busca pela vocação de uma região.

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Relações entre as universidades e o empreendedorismo

A propósito de universidades: para além de ser uma fonte de informações acadêmicas, o Mapped in Brasil também pretende apontar as conexões entre instituições de ensino e o ecossistema.

E eu gostaria de refletir brevemente sobre a natureza dessas relações. A meu ver, elas acontecem de formas direta e indireta. A forma mais direta se dá pelos núcleos e centros de pesquisa e de tecnologia dentro das instituições. É fundamental que haja ensino de empreendedorismo como elemento de incentivo.

E, de forma indireta, temos as incubadoras — a maior parte delas é ligada às universidades. São 221 pontos, de norte a sul do país. A propósito, no próximo ano queremos criar indicadores a partir desse mapeamento para apresentar a densidade regional dentro do ecossistema.

A universidade como espaço de conexões

Por outro lado, entendo que as relações entre empreendedorismo e universidades não podem se restringir às salas de aula. As instituições de ensino precisam abrir espaços e promover conexões para que o ecossistema cresça e se fortaleça.

A própria GV é exemplo disso: fomos pioneiros no ensino de empreendedorismo, mas, hoje, o sistema se expandiu para muito além das salas de aula. Temos, por exemplo, um grupo de anjos formado somente por ex-alunos (GVAngels). Temos, também, a aceleradora (GVentures), que recebe empresas cujos empreendedores (ou ao menos um dos sócios) seja aluno ou ex-aluno. Os ex-alunos também atuam como mentores e palestrantes.

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E à medida que a aceleradora e o grupo de anjos vão crescendo, fazemos conexões com outras aceleradoras e com potenciais empreendedores. Acredito ser este o principal papel da universidade: o de atuar como um espaço de conexões e de criações — que é o que tornará o nosso ecossistema cada vez mais robusto.

 

Gilberto Sarfati é professor da FGV

 

Este artigo foi originalmente publicado em Endeavor

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