O ganho salarial para quem conclui o ensino superior é em média 140% maior que para quem tem apenas o ensino médio. O dado aparece no relatório Education at a Glance 2025, da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), e mostra que o Brasil está entre os países em que o diploma universitário mais altera a trajetória de renda.
Retorno econômico muito acima da média
Segundo a OCDE, a diferença salarial média entre trabalhadores com diploma universitário e aqueles com apenas ensino médio é de 54% nos países da organização. No Brasil, essa vantagem chega a mais de 140%, superando inclusive países latino-americanos vizinhos como Chile e Colômbia, onde o diferencial é de pouco mais de 100%.
No outro extremo, países como Dinamarca, Noruega e Suécia registram prêmios salariais inferiores a 25%, reflexo de mercados de trabalho mais igualitários.
Cursos mais longos, conclusão mais difícil
O relatório também chama atenção para a duração dos cursos no Brasil. Enquanto a maioria dos países da OCDE organiza seus bacharelados em 3 a 4 anos, no Brasil muitos programas se estendem por 5 a 6 anos.
Essa característica aproxima o país de vizinhos como Chile e Colômbia, que também oferecem graduações prolongadas, e contrasta com a tendência europeia e norte-americana de cursos mais curtos.
Segundo a OCDE, programas longos estão associados a maiores taxas de evasão e atrasos na conclusão.
Acesso restrito e seletivo
O ingresso nas universidades brasileiras também é apontado como altamente competitivo. O país adota um sistema seletivo centralizado para o acesso ao ensino superior, diferente de nações da OCDE que têm modelos de acesso aberto, como França e Itália, que só limitam vagas em áreas específicas (medicina, odontologia e arquitetura).
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Esse filtro reforça o caráter de privilégio do diploma no Brasil, em contraste com países que ampliam o acesso com sistemas mais flexíveis
Políticas de permanência enfraquecidas
O relatório ainda observa que o Brasil já contou com financiamento direcionado às universidades para apoiar estudantes de baixa renda e reduzir atrasos na conclusão. Mas esses recursos diminuíram nos últimos anos, principalmente após a pandemia de COVID-19.
Por outro lado, países como Estônia e Dinamarca atrelaram parte do financiamento das universidades às taxas de conclusão, incentivando as instituições a apoiar seus estudantes até a diplomação.
O paradoxo brasileiro
Os números da OCDE revelam um paradoxo no país:
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O diploma é altamente valorizado no mercado de trabalho, com retorno salarial muito superior à média da OCDE.
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Mas o caminho até a formatura é mais longo, mais restritivo e com menos apoio financeiro do que em grande parte dos países analisados.
Esse cenário reforça que, no Brasil, o diploma universitário continua sendo um passaporte de ascensão social, mas acessível apenas a uma parcela pequena e privilegiada da população.
Afinal, o que é a OCDE?
A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) é uma organização internacional com 60 anos de atuação que trabalha para gerar insights com potencial de moldar políticas públicas e promover oportunidades e reduzir a desigualdade nos países.
“A OCDE é um fórum e centro de conhecimento único para dados, análises e melhores práticas em políticas públicas. Nosso principal objetivo é estabelecer padrões internacionais e apoiar sua implementação – e ajudar os países a trilhar um caminho rumo a sociedades mais fortes, justas e limpas”, afirma a instituição.