Encarar (mais) um processo seletivo, para muitos jovens, é uma ideia que dá preguiça só de pensar – mas um mal necessário, já que é a parte principal da busca por um emprego. Formulários gigantescos, entrevistas genéricas e cansativas, modelos automatizados e um apego exagerado ao que consta no currículo ainda breve… Mas há empresas que buscam fazer diferente.
A Arpex Capital (grupo que reúne companhias focadas em meios de pagamento, como Stone, Mundipagg, Pagar.me, Cappta, entre outras) é uma delas, e promove talvez o processo seletivo mais original do mercado brasileiro: o Recruta Arpex. As vagas são para trabalhar em São Paulo ou no Rio de Janeiro, e as inscrições estão abertas até 7 de abril.
Por dentro do Recruta
“O mercado está acostumado a contratar por habilidade específica ou experiência. A gente queria contratar por identificação cultural. Não tinha no mercado, logo, tivemos que criar nosso próprio”, explica Lívia Kuga, ela própria selecionada pelo Recruta e que hoje toca o programa. A ideia não era fazer algo diferente do mercado, mas atender a uma demanda da companhia. E tem funcionado: 4 dos sócios entraram na empresa por esse caminho.
O próprio nome não é acidental. Inspirado no recrutamento de organizações como o BOPE, a força de operações especiais da Polícia Militar do Rio, e os Navy Seals, elite da marinha dos Estados Unidos, o processo seletivo busca tirar os participantes da zona de conforto e provocar uma reflexão profunda de autoconhecimento e desenvolvimento pessoal.
“Os dois têm um negócio em que a gente acredita muito que é a questão do Vá e vença e Missão dada é missão cumprida, que é basicamente o que a gente chama aqui na Arpex de senso de dono com obsessão por resultados”, conta Lívia.
Dividido em cinco fases online e cinco presenciais, o processo é intenso e desenhado para conhecer os candidatos à fundo, desde a ficha de inscrição até a fase final, em que são convidados para uma viagem e terão de provar sua capacidade de se manterem fieis a si mesmos. Contar mais do que isso estraga a surpresa.
“Ao final, os melhores têm uma conversa pessoal com cada gestor e, a partir disso, podem apontar a área e a empresa do grupo em que querem trabalhar”, conta Lívia.
Cerca de 200 líderes da companhia estão envolvidos nessas etapas, incluindo os sócios e fundadores. Criar um processo assim demanda esforço, mas o resultado é visível: até quem não é aprovado sai satisfeito. É o caso de Gabriel Tavares, de 22 anos, que participou da última edição no Rio de Janeiro e foi eliminado na penúltima etapa. “O que eu achei mais legal do processo é que era diferente de tudo o que eu já tinha visto e ouvido falar. As pessoas te fazem conhecer bem qual o seu limite.”
Uma das premissas, segundo Lívia, é que todo candidato saia melhor do que entrou. No caso de Gabriel, mesmo reprovado, sua participação abriu portas para um convite posterior para fazer parte da equipe – hoje ele é estagiário de Business Inteligence na Mundipagg.
Mas uma seleção nesses moldes não pode intimidar algumas pessoas? Sim e, para ela, isso não é um problema. “Esse risco acontece mesmo. A gente tenta mitigar isso deixando claro desde a fase de atração que nosso objetivo é tirar da zona de conforto, testar a resiliência, o quão disposta a pessoa está para trabalhar conosco, e quem não se identifica com essa nossa ‘pegada’ vai desistindo ao longo do processo.”
Alinhamento cultural
Como a intenção é selecionar por alinhamento cultural, a companhia não está simplesmente atrás de um currículo que impressione. “A gente avalia principalmente três coisas: inteligência, energia e integridade. Todo o resto é negociável.”, resume Livia. Os valores da Arpex vão de foco em resultado e meritocracia a paixão e simplicidade, e estão explicados aqui, assim como uma lista de livros que pautam o jeito de trabalhar da empresa. Extreme Ownership, escrito por dois ex-Navy Seals, é um deles.
Gabriel também viveu isso na pele: “Em momento algum tinham me perguntando onde eu estudava, o que eu fazia, qual era meu currículo, enfim… Então, quando fui pra fase presencial, me senti pessoalmente escolhido. Eu senti que foi um processo que te fazia se conhecer, sabe? O Recruta me fez refletir bastante sobre quem eu era e até onde eu achava que eu aguentaria.”
“Uma coisa que precisa ficar bem clara é que o Recruta não é exatamente como um trainee, ou seja, não temos um programa de dois anos e depois a decisão se a pessoa fica ou não. Aqui, uma vez Recruta, Recruta até morrer. Recruta não é um cargo, é um título de alinhamento cultural”, conclui Lívia.