Hunter Kaimi, um americano de 22 anos, abre sua câmera e começa a gravar um vídeo na rede social Tik Tok. Ele está cansado e de certa forma indignado. Ao invés de dancinhas e desafios, ele tem agora um desabafo a fazer. Diz que sua geração está indo de mal a pior e que “não quer ‘se matar’ no seu emprego para um dia, quem sabe, conseguir comprar uma casa ou ser promovido.”
“Nós não somos preguiçosos como estão dizendo”, diz ele. “Nós só não queremos dedicar tempo extra a empregos que nem sequer nos tratam como seres humanos pela promessa de, um dia, comprar uma casa em um mundo insustentável que pode nem ter ar fresco para respirar.”
O protesto de Kaimi, que já tem quase 900 mil visualizações, é só mais um entre outras centenas de vídeos nos quais jovens comentam e defendem o movimento que está sendo chamado por empregadores de Quiet Quitting (Demissão Silenciosa, em português).
Mas, afinal, o que é o Quiet Quitting e o que ele quer dizer sobre o mercado de trabalho?
Termo gera diferentes interpretações
Em linhas gerais, o quiet quitting foi o termo popularmente empregado para descrever o comportamento de trabalhadores que passaram a negar fazer mais do que o combinado em seus empregos.
Ou seja: horas extras e novas responsabilidades não remuneradas são prontamente rejeitadas pelos profissionais por quem adere ao movimento.
Segundo o especialista em marca empregadora Lucas Bosco, o termo para designar a tendência foi mal escolhido, já que a ideia de seus adeptos é incentivar a saúde mental entre os trabalhadores, e não deixar de dar conta das obrigações.
“Não dá para dizer que essa tendência vai mudar o mercado”, analisa ele. “Mas o caminho é que [esse movimento] crie uma mudança significativa na forma como a gente se relaciona com o trabalho, principalmente em contraposição à cultura do always on.”
O termo pejorativo, relacionado a ‘desistir’ das obrigações, teria vindo de parte das corporações para criticar a postura de jovens que estão entrando agora no mercado de trabalho.
No LinkedIn, por exemplo, um chairman de uma empresa de investimentos chegou a dizer que “o quiet quitting é um câncer para a cultura” das empresas. Um outro, mais comedido, disse que as empresas precisarão rever suas políticas de recrutamento para alocar pessoas realmente interessadas nos cargos.
Na prática, embora haja resistência entre os empregadores, o movimento parece não ter mais volta entre os trabalhadores mais jovens. Segundo pesquisa da consultoria especializada Gallup publicada no Wall Street Journal, 54% dos trabalhadores nascidos após 1989 consideram que fazem o Quiet Quitting.
Em nenhuma outra faixa etária houve menos engajamento do que entre as pessoas deste grupo. Apenas 31% dos trabalhadores de até 33 anos foram considerados engajados com seus empregadores.
Para Lucas Bosco, essa nova forma de pensar o trabalho vai demandar que as organizações reorganizem seus projetos a partir de uma visão mais ampla sobre sucesso.
“Empresas precisam colocar nossos esforços ainda mais em negócios e projetos para atrair esse público que quer viver o sucesso de forma diferente.”