O que vivi apoiando 10 mil startups nos últimos 20 anos

Felipe Mattos

Por Felipe Matos

Empreender nos leva a caminhos nunca imaginados. Quando eu, aos 14 anos, criei o Infor@News, um portal de notícias e análises sobre o mercado de tecnologia, jamais imaginava que chegaria até aqui.

Mas cheguei, e tem sido uma trajetória muito gratificante.

Costumo dizer que o empreendedorismo é uma forma de libertação. É um meio pelo qual podemos imprimir nossa marca no mundo – especialmente quando há inovação no empreendedorismo, quando novos negócios são construídos com modelos inéditos e grande potencial transformador.

Baixe o ebook: Direito e Empreendedorismo: Como é o trabalho de um advogado de startups no Brasil

Poder trabalhar com tantas startups rendeu muitas histórias e inúmeros aprendizados. E é por isso que decidi escrever algumas dessas nesse livro [10 Mil Startups]: para que eu pudesse compartilhar o que aprendi com outros empreendedores e empreendedoras.

São tantos os dilemas… Como começar? Essa é a ideia certa? Como encontrar o time de sócios ideal? Como definir o produto? Que tecnologia adotar? Quais as melhores formas de chegar aos clientes? As finanças estão adequadas? Como medir o progresso? Preciso de investidores? Quais os caminhos de crescimento? Quando é hora de parar?

Leia também: Felipe Matos explica como funciona a maior aceleradora de startups da América Latina

A trajetória de Felipe Matos

Deixa eu me apresentar.

Em 1997, fundei minha primeira startup digital – o Infor@News, que mencionei acima. Pouco tempo depois, lancei o primeiro aplicativo móvel da América Latina, o Girando WAP. Montei sociedade, recebi investimentos, surfei a bolha da internet no fim dos anos 1990, fiquei milionário “no papel”, apareci em dezenas de jornais e programas de TV no Brasil e no mundo.

Fui chamado de “menino prodígio da internet”. Quebrei, vendi a empresa, administrei uma briga judicial de sócios. Tudo isso entre 16 e 18 anos de idade

A partir da minha experiência anterior, decidi ajudar outros empreendedores a criarem os seus negócios inovadores. Em 2002, fundei uma das primeiras aceleradoras de startups de tecnologia do Brasil, o Instituto Inovação.

Ali, fui CEO da ComunIP, primeira empresa investida pelo primeiro fundo de investimentos em capital semente do Brasil. Haja pioneirismo!

Quatro anos depois, também participei da criação da Inventta, uma empresa de consultoria que ajudava grandes empresas e universidades a lidar com a inovação tecnológica e a se relacionar com startups.

Fui ainda um dos fundadores da Inseed Investimentos, quando ajudei a criar o Fundo Criatec. Lançado em 2007, o Criatec foi um dos primeiros fundos de investimento em startups no Brasil, com 100 milhões de reais em recursos.

Foi uma iniciativa do BNDES que selecionou o Instituto Inovação (e posteriormente a Inseed), via edital público, como um dos gestores do fundo. Criamos sete escritórios regionais pelo Brasil e avaliamos mais de 2 000 startups, investindo em 36 delas. A iniciativa deu tão certo que já está em sua terceira edição.

Leia também: Afinal de contas, o que é uma aceleradora?

A Startup Farm

Mas uma coisa ainda me incomodava.

No Criatec, 80% das empresas analisadas eram da área de tecnologias digitais. Porém, das 36 investidas, só três tinham essa característica. Havia uma diferença bem grande de perfil entre a maioria dos negócios que nos procuravam e aqueles que efetivamente receberam investimentos. Como empreendedor digital, essa diferença sempre me incomodou.

Havia um descompasso entre a necessidade de capital das empresas e o investimento mínimo do fundo, que ficava na casa dos milhões de reais

A maior parte das startups estava em fase bem inicial, sem receita ou produto desenvolvido. Essas empresas precisavam de outro tipo de capital, mais inicial — o chamado investimento anjo. É o tipo de investimento usado para gerar o primeiro protótipo da solução e validar o modelo de negócios de uma startup.

O problema é que esse capital praticamente não existia no Brasil naquele momento. O nível médio de qualidade e maturidade dos projetos era baixo, com muitas inconsistências. Boa parte dos empreendedores tinha também pouca experiência prévia.

Percebi que nesse gap havia uma oportunidade. Naquele momento, aceleradoras norte-americanas como a Y Combinator, Techstars e 500 Startups estavam despontando, com um modelo ágil de apoio, que mesclava elementos como espaço físico, investimento anjo, mentorias com notáveis especialistas, promoção de networking e acesso a investidores.

Esse modelo parecia fazer todo sentido para cobrir aquele gap. Foi aí que surgiu a ideia de desenvolvê-lo aqui no Brasil. Nascia a Startup Farm, a primeira aceleradora de startups digitais do país.

Após um rápido período de ideação, as inscrições para o primeiro programa de aceleração da Startup Farm foram abertas no final de julho de 2011 e recebemos 24 projetos e 80 empreendedores candidatos. Foi um sucesso para um momento em que não existia nada parecido.

A combinação de trabalho intenso, mentores experientes e cultura de colaboração deu certo e segue funcionando

Até o momento em que escrevo este artigo, já realizamos 21 edições do programa de aceleração da Startup Farm, que cresceu em tempo e profundidade. Lembra das 24 startups inscritas na primeira edição? Pois é, na última delas, tivemos mais de 1,2 mil inscrições, um bom retrato do crescimento do setor no país.

Leia também: 6 dicas da 500 Startups para startups que estão buscando investidores

No governo federal

Nesse meio tempo, surgiu em 2013 um convite inesperado do governo federal para que eu assumisse a direção de um programa público de apoio a startups, o Start-Up Brasil. Como alguém que sempre reclamou muito do governo brasileiro e suas poucas iniciativas de apoio a startups, em geral de baixa eficiência, achei que teria ali uma chance de parar de reclamar e fazer minha parte para contribuir.

As coincidências do destino ajudaram. Na mesma época, retomei uma amizade de infância com aquele que acabou se tornando o novo CEO da Startup Farm, Alan Leite, um dos grandes responsáveis pela guinada da aceleradora. E assim, fui assumir mais esse desafio: um trabalho hercúleo, porém recompensador quando medimos o tamanho de seu impacto.

O Start-Up Brasil apoiou quase 200 startups, de mais de 3 000 candidatas de todo o Brasil e mais diversos países do mundo, com um orçamento próximo de 40 milhões de reais.

Além disso, o programa foi construído em parceria com aceleradoras privadas e investidores externos – juntos, esses parceiros mais que quadruplicaram o investimento e demos um empurrão para acelerar o ecossistema.

Leia também: Sócio da YCombinator fala sobre empreendedorismo e como uma startup pode ter sucesso

Como melhorar políticas públicas

Após minha saída do Start-Up Brasil, em 2015, ficou uma grande vontade de continuar contribuindo para a melhoria das políticas públicas pró-empreendedorismo no país.

Para isso, me juntei a outras lideranças do ambiente de empreendedorismo tecnológico no país para criar o grupo de advocacy Dínamo.

Constituído em 2015, como uma associação apartidária e sem fins lucrativos, o Dínamo tem o objetivo de dialogar com governos para a construção de melhores políticas públicas de apoio ao empreendedorismo tecnológico e ao ecossistema de startups.

Faz tempo que eu vinha recebendo cobranças por escrever um livro. Relutei muito. De um lado, sempre faltava tempo. De outro, queria fazer um projeto com consistência, compartilhando aprendizados relevantes e que eu acreditasse que realmente pudesse ajudar as pessoas em sua jornada empreendedora

O livro 10 Mil Startups busca trazer para empreendedores, empresários, pessoas envolvidas com o ecossistema de startups e curiosos pelo tema alguns aprendizados da minha experiência trabalhando com mais de 10 mil startups ao longo dos últimos 20 anos.

Com linguagem acessível e abordagem prática, espero oferecer um guia para quem quer se aventurar na jornada de construção de startups, desde o nascimento da ideia, formação do time e validação do modelo de negócios, até a busca por investimento e as primeiras fases de crescimento.

Tudo permeado por casos reais de startups com as quais eu trabalhei e acompanhado de material online adicional, como vídeos e modelos de documentos para download.

Espero que essa seja uma contribuição relevante para o aprendizado de novos empreendedores e interessados pelo tema, apoiando o surgimento de mais startups e a geração de tecnologia, desenvolvimento e transformações positivas para a sociedade.

Felipe Matos, 34, é fundador da Startup Farm e diretor executivo do grupo Dínamo, que luta por melhorias em políticas públicas para startups. É conselheiro de diversas startups e de organizações como a Associação Brasileira de Startups e a rede Startup Nations. Seu livro 10 Mil Startups será lançado nesta quinta-feira, 26 de outubro, no CASE.

Artigo originalmente publicado pelo DRAFT

Baixe o ebook: Fintechs, Startups e Novas Empresas do Mercado Financeiro

Os melhores conteúdos para impulsionar seu desenvolvimento pessoal e na carreira.

Junte-se a mais de 1 milhão de jovens!

O que você achou desse post? Deixe um comentário ou marque seu amigo:

MAIS DO AUTOR

Os melhores conteúdos para impulsionar seu desenvolvimento pessoal e na carreira.

Junte-se a mais de 1 milhão de jovens!