O Portal Draft continua a série que explica as principais palavras do vocabulário dos empreendedores da nova economia. São termos e expressões que você precisa saber: seja para conhecer as novas ferramentas que vão impulsionar seus negócios ou para te ajudar a falar a mesma língua de mentores e investidores. O verbete de hoje é aceleradora…
O que acham que é: O mesmo que Incubadora.
O que realmente é: Aceleradoras são empresas cujo objetivo principal é apoiar e investir no desenvolvimento e rápido crescimento de startups, ajudando-as a obter novas rodadas de investimento ou a atingir seu ponto de equilíbrio (break even), fase em que elas conseguem pagar suas próprias contas com as receitas do negócio. “Além dos serviços de apoio e benefícios oferecidos, a aceleradora investe também um pequeno valor financeiro, o chamado survival money e, em contrapartida, torna-se sócia da startup até o desinvestimento, que é quando sua participação é vendida para investidores ou empresas”, diz Pedro Waengertner, professor e coordenador de marketing digital na ESPM, presidente da ABRAII (Associação Brasileira de Empresas Aceleradoras de Inovação e Investimento) e co-fundador da Aceleratech, uma das principais aceleradoras do país.
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Pedro Teixeira, sócio e diretor da Tropos Lab, empresa que mais acelerou startups no Brasil ano passado diz que aceleradoras são instituições responsáveis por ajudar o desenvolvimento de novas empresas oferecendo benefícios como investimento, conteúdos e acesso a rede de contatos. “Em geral as aceleradoras são ‘pagas’ com um percentual da empresa acelerada, que varia de local para local. Nos EUA, por exemplo, esse percentual poucas vezes chega a mais de 5 ou 10%. No Brasil, tem variado entre 5 e 20%”, diz. Teixeira também afirma que hoje há uma subdivisão do processo de aceleração, chamado de pré-aceleração.
Ela inclui os estágios de desenvolvimento da empresa que vão da ideia até a primeira versão do produto. A partir daí, do produto até a escala das vendas, é que acontece a aceleração propriamente dita. “Mas essa divisão é mais teórica do que aplicada, já que na prática as aceleradoras costumam aceitar projetos em estágios iniciais de desenvolvimento quando entendem que ele tem um potencial de crescimento grande”, diz.
Em julho deste ano, a ABRAII publicou, via Startupi, um levantamento feito com quinze aceleradoras associadas da casa que demonstra seu impacto no ecossistema empreendedor brasileiro. Alguns dos números: 266 empresas passaram pelos programas de aceleração brasileiros nos últimos três anos, as aceleradoras investiram 11 milhões de reais nesses negócios, investidores e fundos de capital investiram mais 77 milhões de reais nessas startups, 592 empreendedores participaram desses programas de aceleração, 923 postos de trabalhos foram gerados, 75% das startups aceleradas têm produtos lançados no mercado e já faturam, juntas, as 266 empresas faturaram 36 milhões em 2014.
É importante distinguir aceleradoras de incubadoras, uma confusão bastante comum no meio. Estas últimas são instituições geralmente ligadas a universidades com o objetivo de apoiar o desenvolvimento de novos negócios, mas com tempo maior de permanência das startups, em geral de um a três anos (lembrando que nas aceleradoras esse tempo varia de três meses a um ano).
Quem inventou: O inglês Paul Graham é considerado por muitos o inventor por ter fundado Y Combinator, em 2005. Programador, escritor e investidor, Graham é certamente o responsável pela disseminação da ideia em larga escala. Criou, em 1995, ao lado de Robert Morris, o Viaweb, primeiro software a funcionar como uma empresa de serviços.
Comprado pelo Yahoo em 1998, o Viaweb se transformou em Yahoo Store. Em 2001, Graham começou a publicar ensaios em seu site paulgraham.com que ultrapassou 12 milhões de page views. Há dez anos, junto com Jessica Livingston, Robert Morris e Trevor Blackwell, fundou a Y Combinator. Desde então, a Y Combinator acelerou mais de 800 startups dentre as quais Dropbox, Airbnb, Stripe e Reddit.
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Quando foi inventado: Segundo Pedro Waengertner, as aceleradoras foram criadas nos Estados Unidos, no final da década de 90, mas ganharam força a partir de 2005, quando grandes nomes começaram a operar. Ele cita, ao lado da Y Combinator, a Techstars. “Ambas já possuem centenas de empresas em seus portfólios. Como é um modelo novo, o desafio das aceleradoras é continuar mostrando seu valor no mundo inteiro. Felizmente, os números são animadores”, diz. Pedro Teixeira fala que há cada vez mais aceleradoras despontando no mundo e, que no Brasil, as primeiras aceleradoras de renome começaram a surgir por volta de 2011 mas ganharam mais força no final de 2012.
“Foi quando surgiu o Startup Brasil, que é um programa federal de apoio ao desenvolvimento de aceleradoras e startups. Já nos últimos anos, vêm surgindo as primeiras aceleradoras corporativas no Brasil, ligadas a empresas como a InovaBra, do Bradesco, e a Abril Plug&Play do grupo Abril”, fala. Nos Estados Unidos, a Nike é um exemplo de empresa que investe em programas de Aceleração, com o Nike+ Fuel Lab, lançado no ano passado. Não é a primeira experiência do tipo na Nike, que começou com o Nike+ Accelerator, que em 2013 deu 20 mil dólares e a oportunidade, para dez startups, de desenvolver, durante três meses, apps e produtos da plataforma Nike+, em Portland.
Para que serve: Para apoiar o desenvolvimento de startups. Dentro de uma aceleradora, as jovens empresas recebem mentoria, apoio financeiro, um local para trabalhar e acesso a redes de contato a que dificilmente teriam acesso, como investidores e grandes empresas. “Cada aceleradora coloca seus atributos mais fortes no processo de aceleração. A Ginga por exemplo, é muito forte em levar conteúdo de apoio a startups, a Aceleratech possui vários investidores em sua rede de mentores, a Wayra Brasil estabelece conexões com os Estados Unidos e facilita a internacionalização da empresa”, conta Teixeira. Ele diz também que o grau de mortalidade de startups dentro de aceleradoras é bem menor do que fora delas.
Quem usa: Empresas que buscam o crescimento. “É importante que o modelo de negócio escolhido pela startup seja repetível e escalável, ou seja, que a receita possa crescer sem um aumento proporcional dos custos”, afirma Waengertner. Teixeira diz que há, hoje, uma concentração de empresas de tecnologia da informação (TI) nos programas de aceleração. “Algumas aceleradoras, inclusive, só aceitam negócios digitais, pelo seu alto potencial de ser repetível e escalável e pela rapidez de desenvolvimento dos seus produtos”, diz.
Efeitos colaterais: Pedro Teixeira conta de alguns programas de aceleração que não pegam percentual das empresas e, dessa forma, têm involuntariamente incentivado o crescimento do número de “turistas”. “‘Turistas’ são startups que passam por três ou quatro programas de aceleração diferentes, às vezes em cidades ou mesmo países diferentes, mais preocupadas em passar no processo seletivo da próxima aceleradora do que com o próprio negócio”, diz. Pedro Waengertner aponta um efeito colateral positivo: “Um dos grandes focos da aceleradora é trabalhar a cabeça do empreendedor, ajudando-o a pensar grande e a transformar a sua pequena empresa em um grande negócio. O grande efeito colateral é a mudança de mindset”.
Quem é contra: Nenhum dos dois entrevistados acredita que haja quem seja contra as Aceleradoras. “Por ser um modelo novo no Brasil e no mundo, é normal que existam dúvidas em relação a como o modelo funciona e qual o tipo de empresa visada”, diz Waengertner. Teixeira diz que pode haver discordâncias sobre o modelo de negócios de uma aceleradora. “As aceleradoras recebem como pagamento um percentual das empresas que aceleram, e portanto ganham quando a empresa é vendida. Esse processo pode demorar alguns anos e a aceleradora precisa manter suas atividades durante esse período. Esse modelo foi muito questionado até que a primeira grande aceleradora (Y combinator) conseguiu suas primeiras grandes saídas (vendas de empresas)”, diz.
Ele conta que no Brasil, as aceleradoras ainda estão no estágio de investir nas empresas e não houve ainda saídas relevantes esperadas, o que seria normal e justificaria que muitas Aceleradoras se sustentem por meio de investidores no primeiro ano. “Empresas como o Startup Farm e o Tropos Lab tem tentado fugir desse modelo, utilizando saídas como patrocínios de edições de aceleração e comercialização de cursos para sustentar o processo de aceleração”, diz.
Para saber mais: Baixe, na página da ABRAII, o e-book (grátis) Programa de Aceleração de Empresas, que traz o passo a passo para a escolha de uma aceleradora; leia, na Inc. Magazine, uma entrevista com Paul Graham (de setembro de 2013) em que ele fala sobre startups, Silicon Valley e, claro, a Y Combinator, assista ao vídeo The Portland Startup Scene que fala sobre acelaradoras em parceria com grandes marcas e de como a Nike+Accelerator está tornando tanto a TechStars como a Nike mais poderosas; leia, no TechCrunch, o texto Accelerators Are The New Business School (de julho deste ano). É uma crítica a aceleradoras e startups; leia, no Draft, as histórias das Aceleradoras Baita, Yunus Negócios Sociais Brasil, WIGroup, Artemisia, além das já citadas (e linkadas) Aceleratech e Tropos Lab; leia também a história de Rafael Duton, criador da aceleradora 21212 , de Felipe Matos, da Startup Farm e de Vitor Andrade, da Startup Brasil.
Este artigo foi originalmente publicado no DRAFT