Quando Luana Dias Gomes decidiu estagiar no mercado financeiro, em seu segundo ano na Universidade Stanford, ela ainda não tinha feito nenhuma aula específica de finanças. Como nos EUA a competição por estágios do tipo é ferrenha – e grandes bancos chegam a pagar as viagens de possíveis estagiários para entrevistas em Nova York, por exemplo –, ela resolveu se preparar por conta própria.
“Decidi ler o Vault Guide, um guia financeiro que me ajudou a ter um entendimento rudimentar sobre o mercado”, diz. “Certamente é preciso ter um entendimento básico financeiro para poder mostrar interesse mas, no final, mais importante é encontrar pessoas interessantes, inteligentes, que fizeram e estudaram coisas diferentes e conseguem pensar analiticamente.”
Ela estava especialmente de olho nos brainteasers, famosos desafios de lógica e raciocínio que testam a capacidade analítica dos candidatos. “Lembro que na minha primeira entrevista me pediram para estimar quanto pesava um avião 747 – algo que nenhuma aula de finança me ajudaria a responder.”
Luana conseguiu seu estágio de verão no JP Morgan em 2012. Deu tão certo que retornou ao banco depois de formada e hoje é trader de mercados emergentes no escritório de Londres.
Conselhos
“A verdade é que, até começar a trabalhar, você não sabe nada”, resume ela, que recomenda que os jovens invistam em aulas interessantes e desafiadoras, além de terem uma base de matemática e estatística.
Marcia Ghitnick, gerente de risco operacional do Wells Fargo, nos EUA, concorda. “Comecei quando ainda estava na faculdade [nos anos 1980] no Banco Icatu”, lembra. “Fui aprendendo no próprio trabalho.”
Após seu MBA em Wharton, na Universidade Pennsylvania, ela começou uma carreira de quase 20 anos na tradicional empresa de serviços financeiros GE Capital, adquirida pelo Wells Fargo recentemente.
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Para quem quiser subir os degraus de uma corporação, ela recomenda funções nas áreas centrais das empresas, como marketing na P&G e finanças na GE Capital. Manter-se atento às oportunidades internas de programas e treinamentos também é crucial.
“Orce tempo para fazer pelo menos um curso por ano”, aconselha. “E tenha desde o início um ‘conselho’ pessoal, um grupo de pessoas que apoiem sua carreira e com quem você possa pensar estrategicamente sobre os próximos passos.”
Isso inclui pensar no futuro pessoal também. Falando às mulheres, Marcia traz sua própria experiência. “O equilíbrio entre família e carreira é extremamente difícil em ambientes corporativos”, conta. “Mesmo tendo a sorte que eu tive de trabalhar meio período por 12 anos, enquanto meus filhos eram pequenos, a carreira sofre porque ainda existe o ideal de mommy track [trilha materna].”
Perfil
Sergio Vailati chegou mais equipado em termos de conhecimentos em seu primeiro emprego, na área de equity research do Itaú BBA, mas mesmo assim precisou estudar on the job.
“Quando vamos para o mercado surge a necessidade de complementar ou reforçar aquilo que já vimos”, diz ele. “Cada área exige conhecimentos de formas diferentes e é importante conhecer as especificidades de cada uma para se aprofundar.”
Hoje responsável pela área de vendas de renda fixa local e estratégias de bonds offshore na XP Investimentos, ele usa muitos conhecimentos de finanças corporativas, valuation e contabilidade no dia a dia.
“Recomendo que a pessoa avalie se tem um perfil analítico e se de fato gosta ou consegue lidar bem com elaboração de análises e relatórios”, diz. “Também acho importante que a pessoa conheça a cultura corporativa da empresa, pois há lugares mais e menos intensos em termos de carga de trabalho e é preciso ver com que estilo ela se adapta melhor.”
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Experimente
Para Marcia, a juventude é o período certo para arriscar. “Procure uma oportunidade onde possa experimentar várias áreas diferentes e não tenha medo de tomar riscos”, fala. “A hora de experimentar é justamente quando não se tem muitas despesas.”
Foi justamente o que fez Paulo Passoni, que trancou seu curso na Faculdade Getúlio Vargas por um semestre e fez as malas para trabalhar como estagiário não remunerado do banco Bear Stearns, em São Francisco.
“Não tinha a menor ideia de se iria gostar”, conta ele, hoje diretor de mercados emergentes do fundo Third Point, em Nova York. Quando voltou ao Brasil, porém, a experiência tinha o transformado em destaque nos processos seletivos.
Estagiou no Unibanco Asset Management, Deutsche Bank e na consultoria McKinsey, sempre testando as águas. No final da faculdade, foi alocado no setor de fusões e aquisições do Morgan Stanley, onde ficou por três anos.
“Foi bom para criar uma boa atitude, algo que falta muito na nova geração”, fala. “Realmente não acredito que o sucesso na carreira venha de saber finanças melhor que outros: é uma habilidade necessária, mas não suficiente. O que importa é ser criativo e aprender sempre.”
Em 2004, Paulo se mudou para os EUA para estudar em Harvard, onde obteve ambos seu mestrado e seu MBA. Para ele, cercar-se de pessoas brilhantes também é fundamental. “Aprenda sobretudo até os 40 anos – vai dar tempo de ganhar dinheiro e isso normalmente é consequência, não objetivo.”
Postura
Quando o visto de trabalho para continuar em Nova York não saiu, Luana foi convidada pelo JP Morgan a trabalhar na mesa de São Paulo. Recusou a oferta e batalhou por uma melhor, mesmo criando desconforto no banco.
“Eu sabia que não conseguiria crescer naquele ambiente e em Londres tínhamos uma mesa com apenas uma pessoa, em que eu conseguiria crescer muito mais rápido. Lutei até criarmos um lugar para mim e foi o melhor passo que dei na minha carreira”, conta. “Não se ganha nada sendo boazinha – é preciso dizer o que você quer e não ter medo de exigir o que acha justo.”
“O mundo profissional é muito diferente do universitário e ninguém lhe dará um plano: você precisa fazer o seu próprio”, conclui.
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