Natural de Jacinto Machado (SC), Tiago Giusti é um dos co-fundadores da startup de tecnologia Portabilis, focada em aumentar o impacto das políticas públicas de educação e assistência social. Com quase dez anos de atuação no mercado, a empresa já impactou mais de 300 mil alunos, distribuídos em 120 cidades pelo Brasil, e ajudou municípios a economizar milhões em gestão escolar pública.
O projeto ainda foi selecionado para o Brazil Accelerate 2030, iniciativa do Impact Hub e do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) para impulsionar negócios de impacto socioambiental. Conheça a trajetória do empreendedor social e da empresa.
Apesar de ser apaixonado por tecnologia, foi através da música que Tiago teve o primeiro contato com a área. “Minha família é composta por vários músicos, que tocam todos os tipos de instrumentos. Meu pai comprou um teclado para mim e eu comecei a fazer aulas de música que o governo oferecia. Notei que eles tinham um laboratório de informática e alguma coisa me chamava a atenção para lá. Eu descobri que quem conseguisse chegar na orquestra municipal, poderia ganhar aulas gratuitas de computação. E foi assim que eu comecei”, relembra.
A família de Tiago também esteve muito conectada com máquinas e questões sociais, o que influenciou seu interesse em usar a tecnologia para potencializar o impacto das políticas públicas de educação. “Meu pai sempre teve tratores e caminhões, que é uma tecnologia mais rudimentar, mas que me inspirava. Ele também sempre foi um ídolo em questões sociais e comunitárias e me dizia que não tinha nada mais importante do que fazer o bem ao próximo. Meu avô dizia o mesmo. Minha mãe era professora e me alfabetizou. Meu desenvolvimento no início tem muito a ver com esses ideais e valores que eu tive em casa”, afirma.
Jornada profissional
Ainda adolescente, o primeiro emprego de Tiago foi como lixador de móveis. “Eu aprendi muitas coisas importantes lá. A empresa atrasava o salário das pessoas, tinha uma gestão vertical e deixava os melhores equipamentos para poucos. É um exemplo tão pequeno, mas eu aprendi muita coisa que depois ia ajudar a estruturar como eu queria que fosse a minha empresa”, conta. Posteriormente, ele foi trabalhar como auxiliar administrativo no Sindicato dos Trabalhadores Rurais, tendo seu primeiro contato com política pública.
Em 2005, Tiago começa a cursar a graduação em Ciências da Computação. “Isso abriu muitas portas para mim para entender que eu podia usar a tecnologia para fazer mais. E eu consegui uma vaga na Betha Sistemas, que era uma empresa que todo mundo da área de computação queria trabalhar. Eu passei por muitas áreas lá dentro durante quase quatro anos e aprendi como pensar soluções para o governo e desenvolver serviços melhores para os cidadãos”, aponta.
Observando o cenário tecnológico, Tiago percebeu o início de um movimento de criação de softwares de código livre e aberto para o setor público. “Eu comecei a estudar sobre o assunto e o governo criou um ecossistema para incentivar o desenvolvimento desses softwares. E lá existia uma solução, chamada i-Educar, desenvolvida pela prefeitura de Itajaí, que poderia ser usada e eu achei muito interessante para trabalhar o impacto das políticas públicas de educação”, explica.
Fundação da Portabilis
Quando Tiago saiu da Betha Sistemas, ele decidiu empreender e abrir a Portabilis, usando o software da i-Educar, em parceria com Ricardo Dagostim. “O objetivo era levar esse software de código livre e aberto para as escolas públicas locais de Santa Catarina e oferecer serviços para secretarias municipais de educação. Eu enxerguei uma oportunidade porque tinha muita carência em tecnologias aplicadas à gestão, e eu queria levar uma solução inteligente que poderia melhorar a qualidade de ensino, desburocratizar e melhorar processos, aumentando o impacto das políticas públicas de educação”, defende.
Apesar de ter um novo empreendimento, com 24 anos, Tiago assumiu o cargo de Secretário Municipal de Administração e Finanças do Município de São João do Sul (SC). “Eu sempre fui uma pessoa que gostou muito de criar redes de contatos e eu acho que para ser bem-sucedido é preciso estar cercado de pessoas boas que acreditam nos mesmos ideais. Então fui selecionado para ser o secretário, que é um papel muito estratégico, e foi uma experiência muito bacana porque aprendi bastante sobre o impacto das políticas públicas e me apaixonei ainda mais pelo setor”, revela.
Depois de dois anos no governo, o empreendedor volta para a Portabilis e assume a liderança da empresa, com o objetivo de aumentar o impacto das políticas públicas de educação. “Se você quer gerar impacto você tem que trabalho com o setor público. Mas eu percebi que os desafios da educação e da aprendizagem transcendem a escola pública, especialmente no Brasil, que é um dos países mais desiguais do mundo. Então entra o braço de assistência social na empresa, atendendo a população de risco e integrando a rede de proteção social, que cuida de fatores fora da escola mas que afetam o desempenho escolar”, esclarece.
Dicas de sucesso e desafios para o futuro
Para Tiago, o principal ativo de qualquer organização são as pessoas que fazem parte. “Formar um time de sucesso é um grande desafio, mas se você consegue estabelecer um conjunto de valores e trazer pessoas alinhadas com o propósito da organização, a taxa de sucesso aumenta muito. Você precisa de pessoas que estejam de acordo com a cultura da empresa e que acreditem no projeto, além de saber reutilizar ao máximo seus recursos para resolver problemas e ter destreza social para criar uma rede de contatos extensa”, garante. Para ter sucesso como empreendedor, ele afirma que é importante ter características como coragem, resiliência, criar conexões humanas, ter um time diverso e complementar e acreditar muito na causa.
No ano passado, a Portabilis recebeu um investimento da Fundação Lemann para um projeto em parceria e Tiago se tornou parte da rede de Líderes e Talentos da Educação da instituição. “E isso só aconteceu porque em 2009 eu conheci um homem, que conectou com outro, que conectou com outro que trabalha na Lemann. E lá eu vi pessoas incríveis trabalhando com educação pública e aprendizagem e em dois dias eu aprendi muito mais do que nos últimos anos pela troca de experiências e apoio. A Fundação tem um papel muito importante em como você pode elevar seu potencial de impacto”, analisa.
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Olhando para o futuro da educação e de projetos de impacto social, o empreendedor tem perspectivas positivas. “A gente evoluiu muito como sociedade. Ainda temos vários problemas a serem resolvidos, mas é um momento bem promissor e acredito que vamos ter protagonismo na história. O movimento de impacto social tem feito não só nascer novos negócios, como incentivos e legislação definindo o setor. Mas só quando um empreendedor social estiver na lista da Forbes ou uma empresa do setor virar unicórnio, eu posso acreditar que o mundo mudou”, pondera.
Ele ainda percebe que as grandes empresas estão preocupadas em como podem fazer o bem. “Uma sociedade melhor tem que criar oportunidade igual para todo mundo. Então precisamos de um governo inteligente, eficiente, mais justo, mas tem que ter uma iniciativa privada responsável e ativa. Há um nível de consciência sendo elevado e eu sou positivista. As pessoas estão entendo que as empresas existem para muito mais do que gerar lucro e exigindo mais delas. Ou as empresas olham para isso ou estão fadadas da morrerem”, finaliza.