De uns tempos para cá, a palavra “millennials” se torna cada vez mais conhecida. O termo, que dá nome a uma geração, tem sido usado principalmente para destacar o que seriam comportamentos e características desse grupo de pessoas. No entanto, muito do que é propagado sob esse título se baseia em estereótipos.
“Corremos um grande risco ao acolhermos os estereótipos que foram surgindo sobre esse público”, diz Cíntia Martins, fundadora da a.karta, consultoria que facilita processos de transformação dentro das organizações. “Basta um olhar um pouco mais atento sobre algumas variáveis como região de origem, educação, condição social e econômica, formação acadêmica e a própria cultura de algumas área de atuação, que logo percebemos o risco” completa ela, que também é especialista em Liderança e Cultura e tem grande experiência no desenvolvimento de jovens líderes.
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E a própria faixa etária que define o termo contribui para a má compreensão e propagação de generalizações. Enquanto alguns recortes demográficos apontam que pertencem aos millennials os nascidos a partir de 1981, outros delimitam que os que nascem após 1977 já fazem parte do grupo. A grande diferença de idade entre os dois recortes faz com que seja “incoerente” encaixá-los em um mesmo perfil demográfico, segundo Cíntia.
Dados sobre os millennials no trabalho
Em parceria com a Fundação Estudar, a.karta realizou o estudo “O Impacto dos Jovens nas Organizações”. Embora seja inviável catalogar valores e comportamentos em comum entre todos millennials no trabalho, a pesquisa destaca alguns pontos partilhados entre os jovens de 18 a 25 anos:
- Transparência figura entre os itens mais valorizados pelo público;
- Apoio e mentoria é o que buscam quando se veem diante dos desafios de desenvolvimento no seu dia a dia;
- Plano de carreira é o nome que dão à expectativa de que as organizações propiciem um ambiente de aprendizado contínuo;
- Impacto e transformação não demanda uma posição de liderança, pois se veem como protagonistas para propor e implementar mudanças onde trabalham;
- Cultura horizontal aparece como o modelo de relação para os times de trabalho e
- Vícios de comportamento figuram como o principal desafio que encontram no dia a dia das organizações.
Resultados contradizem os estereótipos
“O Impacto dos Jovens nas Organizações” revelou dados consistentes para contestar algumas das generalizações sobre os millennials no trabalho. Para Cíntia, as que mais lhe incomodavam acerca do grupo, “de que são arrogantes e autossuficientes”, foram refutadas.
No geral, de acordo com Cíntia, o estudo deixou claro um desejo de impactar positivamente o ambiente de trabalho, ao mesmo tempo, com vontade de aprender e crescer pessoal e profissionalmente.
“O ponto mais significativo para mim foi poder afirmar que eles não querem fazer isso sozinhos e à revelia de líderes e pares. O jovem do nosso estudo afirmou que busca auxílio de outras pessoas mais experientes e que almeja direcionamento, orientação, treinamento, abertura para discussão e feedback de suas ideias.”
Em questão de liderança, as respostas dadas mostram que os jovens buscam por relações mais colaborativas e que o capacitem para a ação. “O jovem tem sede de aprender e busca uma constante mentoria”, afirma a especialista. Na prática, muitos disseram procurar o gestor para trabalharem juntos nas transformações.
Desafios de liderança dos millennials
Quando em posição de liderança, os jovens destacam sentirem insegurança em momentos de decisões importantes, terem medo de falhar com relação às responsabilidades e receio de serem vistos como incapazes de “dar conta” do recado. Ao liderar outros jovens, contam que os principais desafios são ter de lidar com as mesmas inquietações que sentem, vindas dos outros.
“Fica claro para o líder jovem que a maior lacuna a ser preenchida não está no aprendizado técnico, uma vez que veem seus times aprendendo muito rápido uma nova tarefa”, diz Cíntia. Porém, com a curva acelerada de aprendizado técnico vem grande expectativa de reconhecimento. Além de que, por se sentirem “prontos”, esperam ser rapidamente expostos a novos desafios – “entendem que precisam ir para a próxima fase”.
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Quando isso não acontece na velocidade que esperam, os jovens acabam sentindo que entraram em uma zona de conforto e não se sentem mais desafiados, conta a especialista. Essa percepção foi compartilhada pelos que atuam como líderes.
Em análise dos resultados sobre os millennials no trabalho, a especialista compreende que um dos maiores desafios dos jovens profissionais hoje é de ampliar seu entendimento sobre sua função. “Perceber que a eficiência do seu papel vai além da vai além de sua performance técnica e que depende diretamente da ampliação do nível de consciência sobre si e sobre as diversas variáveis do contexto em que atuam”, explica.