Médicos podem se dedicar ao empreendedorismo e à administração?

homem ao celular digitando no computador

O empreendedorismo não discrimina áreas do conhecimento. Portanto, não só é possível, como deve ser incentivado nas carreiras ligadas à saúde!

Porém, tanto os médicos quanto dentistas, enfermeiros, farmacêuticos, psicólogos, nutricionistas, fisioterapeutas e demais profissões de saúde permanecem extremamente conectados à prática assistencial e têm em seus currículos acadêmicos pouca ou nenhuma formação relacionada ao empreendedorismo e à administração.

Empreendedorismo ampliado

Se, por um lado, cuidar dos pacientes, realizar atendimentos e procedimentos é — e continuará sendo — o foco principal dessas profissões, é preciso sair um pouco da zona de conforto e pensar o quanto pode ser interessante e motivador empreender dentro da área da saúde.

Vale lembrar que empreendedorismo não envolve só estratégia de novos negócios, mas também o planejamento e execução de projetos mesmo dentro da graduação (com a participação em ligas acadêmicas, projetos sociais, projetos educacionais, cursos, congressos) ou após formado (por meio de clínicas e consultórios, laboratórios, desenvolvimento de produtos e serviços inovadores).

Tudo isso representa uma grande oportunidade para desenvolvimento de competências como liderança, criatividade, inovação, capacidade de trabalho em equipe, planejamento, e muitas outras.

Quando combinamos esses conhecimentos de administração e gestão com o conhecimento técnico do médico ou do profissional de saúde, é possível ganhar uma visão mais ampla sobre os serviços de saúde.

É ainda comum, tanto em pequenas clínicas como em grandes grupos hospitalares, os gestores serem técnicos sem formação específica em administração. No entanto, isso vem mudando. Existe uma forte tendência de se profissionalizar a gestão dessas empresas, sem se perder todo o know-how técnico que os profissionais de saúde carregam. Assim, suge a figura do médico especialista em administração em saúde (inclusive com formação nos moldes de residência médica) e outros profissionais com um conhecimento polivalente.

Leia também: Saúde é umas das áreas promissoras para o empreendedorismo social

Por quê empreender na saúde?

Esta área do conhecimento abriga um dos principais setores produtivos da economia nacional e movimenta no Brasil cerca de 9% do produto interno bruto, sendo que cerca de 54% deste gasto é investimento privado (famílias e empresas). Desta forma, oportunidades estão distribuídas na produção (medicamentos, dispositivos, equipamentos), no comércio (varejo físico e on-line, atacado) ou nos serviços (clínicas, hospitais, consultórios, educação).

Num cenário profissional cada vez mais competitivo, por conta do aumento do número de formados nas mais diversas áreas — principalmente o aumento recente e acentuado das escolas de medicina — o empreender se torna mais que uma ferramenta auxiliar, passando a ser um instrumento de sobrevivência no mercado de trabalho.

Novas tecnologias

As novas fronteiras tecnológicas para a medicina e para saúde têm permitido o surgimento de estratégias inovadoras para as empresas. De modo geral, atualmente, o espaço de oportunidades está passando por uma revolução nesse campo!

Essa é uma linha de empreendedorismo que deve ser levada em conta por todos os interessados, algo que foge um pouco do modelo tradicional de consultórios e clínicas. Todo dia aparece soluções cada vez mais inteligentes para os desafios enfrentados pela medicina.

Alguns exemplos de inovações na saúde ligadas à tecnologia:

Impressões 3D: órgãos, próteses e modelos em 3D para uso cirúrgico

Telemedicina e telessaúde: softwares e plataformas, principalmente na “nuvem”, para ensino à distancia, atendimento e consultas, prontuário on-line, transmissão de laudos e exames de imagem.

Dispositivos acoplados ao corpo: relógios, pulseiras, colares, cintos e até mesmo brincos têm contribuído para medição de pressão cardíaca e temperatura do corpo, monitoramento de atividades neurais e sono.

Produção on-demand: plataformas de solicitação e gestão de medicamentos personalizados (compras, estoque, auditorias) focadas em redução de custos e otimização do uso, produção de insumos feitos sob medida.

Aplicativos assistenciais e educativos: desenvolvimento de aplicações para dispositivos móveis para marcação e agendamento de consultas, lembretes de uso de medicações e orientações médicas, aplicativos educativos e ferramentas para uso técnico (prescrições, guias de medicações).

Realidade virtual e realidade aumentada: ferramentas de apoiado às práticas clínicas que prometem ser uma das grandes tendências de inovação na saúde.

Sem dúvidas, as oportunidades estão surgindo rapidamente. Recentemente conversamos pessoalmente com Henri Deshays, líder da Startx, aceleradora de startups da universidade de Stanford, e descobrimos que o setor de saúde está em voga entre os tubarões do Vale do Silício. Na aceleradora da universidade já passaram 25 empresas, foram geradas 14 patentes e mais de 100 publicações nesse setor. Nos EUA, inclusive, já existem aceleradoras de negócios que estão interessadas apenas no campo de inovação na saúde.

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Tudo indica que esse é o período e ambiente mais propício ao empreendedorismo na história do setor, sobretudo no Brasil! Acesso à tecnologia, tendências, estrutura em redes, linhas de desenvolvimento de negócios em tempo quase que real estão transformando o espaço de empreendedorismo na saúde.

O problema é o efeito da percolação, termo utilizado entre os teóricos da inovação que diz que, se você não agir, é provável que outro desvende a sua querida descoberta no seu lugar. Em outras palavras: corra porque o tempo é o agora!

Ubiraci Mercês, fundador da Editora Sanar e do e-Sanar, é autor do livro Finanças para Médicos: Deixe o dinheiro dar plantão por você.

Caio Nunes, médico formado pela Universidade Federal da Bahia e radiologista pela Universidade de São Paulo, é autor do livro Como escolher a sua residência Médica

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